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Por — Roterdã (Holanda)

Em abril de 2022, a convite de uma produtora brasileira, o americano Bill Plympton passeou pelo Brasil com o seu cão de pelos amarelos. Detalhe: não é um pet real, mas o Guard Dog, personagem recorrente na obra do animador e ilustrador, conhecido pelas vinhetas para a MTV, duas vezes vencedor em Cannes e outras duas indicado ao Oscar — uma delas, em 2005, pelo curta em que estreou seu cão de guarda imaginário.

A turnê por terras brasileiras rendeu um belo álbum de viagem, como se vê ao lado, e serviu de base para a série de desenhos animados “Guard Dog e Bill Plympton no Brasil”, que deve chegar ainda este ano ao Canal Brasil.

— Já havia passado pelo Brasil anos atrás, por causa de uma retrospectiva de meus trabalhos no Rio — contou Plympton, 77 anos, durante o Festival de Roterdã, onde exibiu seu novo longa, “Slide”, uma semana antes premiado no Slamdance. — Mas essa última viagem, passando de Norte a Sul, foi muito esclarecedora. Descobri um monte de animais diferentes, aprendi sobre costumes brasileiros. Foi muito inspirador para o projeto da série com o Guard Dog.

Imagem do curta “Guard dog”, de Bill Plympton, indicado ao Oscar em 2005 — Foto: Reprodução
Imagem do curta “Guard dog”, de Bill Plympton, indicado ao Oscar em 2005 — Foto: Reprodução

Composta por 18 episódios de três minutos cada, a série é dirigida pelo animador brasileiro César Cabral (“Bob Cuspe — Nós não gostamos de gente”), da Coala Filmes, em coprodução com a Cup Filmes. A ideia do projeto é mostrar o país do ponto de vista do famoso personagem de Plympton, a partir de pequenas aventuras do ansioso e neurótico cãozinho, que se desgarra de seu “dono” (ou seja, Plympton) ao chegar no Brasil. A turnê do americano incluiu cidades como Brasília, Rio, Salvador e Foz do Iguaçu.

— Ficamos cerca de dois dias em cada cidade, visitando pontos turísticos ou não. Ele foi registrando a viagem em desenhos, colocando suas impressões do que viu — explicou Cabral. — Todos os episódios giram em torno de Guard Dog, que é extraviado no voo e acaba perdido no país. Ele passa todos os episódios à procura de seu dono, Bill.

‘Deus da animação’

Conhecido pelo traço anárquico, selvagem e quase infantil, que inicialmente ganhou as páginas de jornais como o The New York Times e revistas como a Rolling Stone, ainda nos anos 1970, o animador licenciou o personagem canino e forneceu o enredo para cada episódio. Único artista moderno da área que ainda desenha a mão cada quadro de suas animações, dispensando equipes e recursos tecnológicos, Plympton foi chamado de “deus da animação independente” por Matt Groenning, criador de “Os Simpsons”, série para a qual ele criou oito aberturas de capítulos.

O animador Bill Plympton em São Paulo: vencedor em Cannes, indicado ao Oscar e lenda da MTV — Foto: Reprodução
O animador Bill Plympton em São Paulo: vencedor em Cannes, indicado ao Oscar e lenda da MTV — Foto: Reprodução

Mesmo com toda essa banca, Plympton concedeu completa liberdade aos criadores de “Guard Dog e Plympton no Brasil”, que combina diferentes técnicas de animação.

— Eles podem fazer o que quiserem a partir dos storyboards que desenvolvi. São pequenas aventuras do cãozinho, subindo no topo do Pão de Açúcar, indo à praia, descobrindo as florestas ou as Cataratas do Iguaçu — descreveu Plympton. — Fiquei maravilhado com aquelas senhoras negras que usam grandes vestidos brancos e rodados, que conheci em Salvador. Como se chamam mesmo? Isso, baianas. Gostaria muito de ver como elas ficarão em movimento.

Cabral garantiu que a série manterá as características do traço de Plympton e, ao mesmo tempo, terá um visual próprio, distinto:

— A animação principal de cada episódio é feita em 2D, usando o método tradicional de desenho a mão. A abertura da série será em stop motion, com modelos fotografados quadro a quadro. As histórias também terão inserções de imagens live-action. No final, ao longo dos créditos, teremos inserções de Bill durante a viagem pelo Brasil — descreveu o brasileiro, que inicialmente planejara um documentário de 70 minutos sobre Plympton em complemento à série. — Não temos verba para isso, mas estamos inscrevendo essa ideia em editais.

Faroeste sobrenatural

Ao longo da extensa carreira, Plympton já recusou diversas ofertas de estúdios, como a Disney, em nome de manter seu trabalho artesanal e independente. Essa liberdade lhe dá segurança para contar histórias como a de “Slide”, seu sétimo longa-metragem, descrito por ele como “uma comédia musical de caubói” que tece críticas a corrupção e abusos ambientais. A trama conta a história de um misterioso guitarrista, o Slide do título, que chega a uma cidade de lenhadores e pescadores administrada por um prefeito sem escrúpulos.

— Slide é como um daqueles personagens de faroestes antigos, um andarilho caladão que chega nos lugares mais esquecidos, resolve os problemas de todo mundo e então desaparece — comparou Plympton. — Lembra do filme “Os brutos também amam” (1953), de George Stevens? Slide é como o Shane, o personagem de Alan Ladd, que resolve um conflito entre fazendeiros, desaparece no final e todo mundo e as pessoas ficam dizendo “por que, Shane? Volte para nós!”

Storyboard para a série “Guard Dog e Bill Plympton no Brasil”, do Canal Brasil — Foto: Reprodução
Storyboard para a série “Guard Dog e Bill Plympton no Brasil”, do Canal Brasil — Foto: Reprodução

Há algo de sobrenatural na trama de “Slide”, protagonizada por outros personagens marcantes dos filmes de caubói, como a prostituta de bom coração. O projeto mais recente do prefeito pilantra é desmatar a área de pesca da cidade e ali construir um resort com um lago artificial, satisfazendo assim as necessidades de um poderoso diretor de estúdio de cinema que pretende filmar ali. Mas os planos de erguer uma estância luxuosa são sabotados por um monstro que vive na mata — e a presença de Slide, que desvia balas com a música de seu violão.

— Eu só quis fazer um filme que refletisse a música dos velhos tempos, e os caubóis a que costumava assistir no cinema. Cresci no Oregon, numa cidade de lenhadores como a de “Slide”. Adorava assistir a faroestes quando criança. Também adorava desenhá-los naquela época — recordou Plympton. — Então coloquei todas essas minhas referências juntas no filme, e pareceu funcionar bem.

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