RIO — Após a organização da 13ª Feira do Livro de Jaraguá do Sul , em Santa Catarina, anunciar o cancelamento da participação da jornalista Miriam Leitão e do sociólogo Sérgio Abranches , intelectuais e escritores reagiram ao episódio de intolerância. Os organizadores do evento literário afirmam que a decisão ocorreu "para garantir a segurança dos convidados", após receberem uma petição repudiando a presença deles devido seu "viés ideológico e posicionamento".
AFONSO BORGES : Lembra-se? No início, eram só dois autores...
O ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso escreveu que "intolerância é inaceitável". Ele ressaltou que discordâncias fazem "parte do jogo democrático", mas "impedir a voz, não".
O escritor Sérgio Rodrigues, que já participou da feira em 2011, também se manifestou. Em uma série de publicações, ele chamou o episódio de "grotesco" e afirmou ter vergonha de um dia ter participado do evento. Rodrigues também postou mensagem se solidarizando com a jornalista e o sociólogo.
A jornalista e escritora Adriana Carranca também demonstrou apoio a Miriam e Abranches. Ela comparou o episódio à censura de grupos fundamentalistas.
Um dos alvos das ameaças, Sérgio Abranches publicou mensagem com o poema do dramaturgo alemão Bertold Brecht "Aos que virão depois de nós".
Miriam faria uma palestra na feira no próximo dia 15 de agosto. A decisão foi tomada um dia depois de a organização ter anunciado a presença dela no evento.
Uma petição com mais de 3 mil assinaturas foi encaminhada à organização pedindo o cancelamento da participação da jornalista e de Abranches. Num dos trechos, ao se referir à Miriam, o documento diz: "Por seu viés ideológico e posicionamento, a população jaraguaense repudia sua presença, requerendo, assim, que a mesma não se faça presente em evento tão importante em nossa cidade".
O coordenador geral da feira, João Chiodini, disse que a decisão de desconvidar a jornalista e o sociológo foi tomada "com vergonha", mas "para garantir a segurança dos convidados".
— Logo depois que anunciamos (os nomes), recebi ligações, mensagens e comentários nas redes dizendo que os dois seriam recebidos com ovadas. É a primeira vez que isso acontece em 12 anos de evento — disse Chiodini, para quem "é muito triste o que está acontecendo".
Uma das mensagens recebidas pela organização faz referência ao protesto que ocorreu na Feira Literária de Paraty (Flip), contra o jornalista Glenn Greenwald .