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Por Jeferson Tenório, Especial Para O Globo


Escrito Salman Rushdie, fotografado em frente à biblioteca pública de Nova York — Foto: Sara Krulwich/NYT
Escrito Salman Rushdie, fotografado em frente à biblioteca pública de Nova York — Foto: Sara Krulwich/NYT

O atentado sofrido pelo escritor anglo-indiano Salman Rushdie confirma a mudança na lógica da liberdade de expressão, na pós-modernidade. Autor de “Os versos satânicos”, Rushdie vem sofrendo ameaças de morte há anos. Seu livro mais famoso é visto pelas autoridades muçulmanas como uma grande ofensa à religião islâmica, já que o título se refere a um episódio polêmico em que o profeta Maomé teria sido enganado pelo Diabo, recebendo versos sussurrados por ele e que, depois, foram incorporados ao Corão.

A inclusão desse trecho foi o suficiente para que houvesse uma reação negativa por parte das comunidades islâmicas. Em 1989, após uma manifestação violenta contra o livro no Paquistão, o líder supremo do Irã, na época, o aiatolá Khomeini, fez um grande e violento pronunciamento pedindo a morte de Rushdie e seus editores.

A reação extrema a uma obra de arte reflete uma mudança de comportamento no que diz respeito à liberdade de expressão. Em qualquer dicionário é possível encontrar uma definição básica sobre o termo: é o direito de as pessoas se expressarem livremente como garantia de que a pluralidade de visões seja respeitada e protegida pela democracia.

Entretanto, este conceito básico de liberdade de expressão se modificou com a chegada da pós-modernidade, especialmente com o avanço das tecnologias de comunicação e das redes sociais. A proliferação de discursos na internet ganhou uma dimensão sem volta. Isto é, as divergências de opiniões, que antes se davam apenas por meio dos grandes veículos de comunicação, agora se dão de maneira global. Todos podem emitir opinião e serem lidos em larga escala.

No Brasil, temos assistido já há alguns anos a casos de intolerância, censura e ameaças contra artistas e escritores. O que só comprova o quanto uma obra de arte exerce um papel importante na sociedade. E por carregar tal importância ela acaba sendo alvo de reações violentas, justamente porque a literatura, assim como outras manifestações artísticas, problematiza as questões da vida e da sociedade.

Portanto, a reação extremista diante de “Os versos satânicos” parece atualizar a importância da obra que cumpre um papel questionador e que, ao mesmo tempo, se opõe aos silenciamentos impostos por governos extremistas e autoritários. Por isso, precisamos estar atentos a essas mudanças do que de fato significa liberdade de expressão. Talvez precisemos de uma educação política que nos ajude a conviver com a divergência, e que não trate o outro como um inimigo ou queira o seu aniquilamento.

Jeferson Tenório é escritor, autor de obras como “O avesso da pele” (Cia das Letras)

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