Música
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Por Luiz Fernando Vianna, Especial Para O GLOBO — Rio de Janeiro

Ava Rocha estava ninando sua filha, durante a pandemia, quando compôs “Beijando todos vocês”, a música mais alegre de seu novo álbum, “Nektar”.

— Eu precisava fazer com que ela tivesse bons sonhos, imaginasse uma vida poética, pudesse comer os planetas, ser feliz — conta ela, mãe de Uma, hoje com 10 anos. — A vida não é linda, não é mesmo, mas a gente precisa afirmar o positivo, transformar pelo desejo, pela poesia, pela leveza, pelo amor.

A filha de Glauber Rocha, uma carioca de 44 anos, é nome de proa da atual cena independente de São Paulo. Sua produção abriga experimentalismos sonoros, daí a surpresa ao ouvi-la falar que considera “popular” o trabalho que está lançando.

— Digo “popular” no sentido de que é um disco mais integrado a uma percepção que é comum a todos nós — afirma, referindo-se ao repertório de 11 canções, nada fortemente experimental. — Sou uma artista múltipla. A arte não está presa a questões mercadológicas. Tenho muita paixão em cantar um samba e em mergulhar em improvisos radicais. Tudo é parte da mesma profundidade.

A preferência do pai por nomes e grafias não convencionais fez com que ela ganhasse o nome Ava Patrya Yndia Yracema. E ajuda a explicar por que o álbum se chama “Nektar”.

— Meu pai escrevia tudo com k, com y. Sou ligada a essa ortografia. E o k torna a palavra um pouco mais universal. É o meu “nektar”, não o do dicionário — brinca. — Os discos são como filhos. Têm características nossas e suas próprias características.

‘Disco desejante’

O novo álbum tem produção de Jonas Sá e Thiago Nassif. O álbum de maior repercussão dentre os quatro realizados por Ava é o de 2015, cujo título é o seu nome por extenso e que também teve Jonas Sá como produtor. Em 2018, ela lançou “Trança”, com 19 faixas. Por causa da pandemia, apenas cinco anos depois pôde sair mais um. Ela teve de interromper o processo em 2020, cancelar uma turnê pela Europa e se recolher em casa, onde compôs bastante.

— É o meu primeiro disco em que sou quase 100% compositora. Só a primeira música não é minha — assinala ela, fazendo alusão a “Baby, é tudo um sonho”, apenas de seu marido, Negro Leo. — É um disco desejante, com um discurso amoroso que transcende a anedota amorosa. É o amor como pulsão transformadora, o amor pela vida.

Para o produtor e crítico Bernardo Oliveira, que acompanha a carreira de Ava desde o início, ela “é uma cantora que não se contenta com a própria voz, que está sempre em busca de encontrar novas vozes na sua maneira de cantar, de compor, de buscar as sonoridades dos seus discos”.— Quem acompanha Ava precisa estar à vontade na força das mudanças e reviravoltas que ela projeta da sua música para o mundo — diz Oliveira.

A cantora Ava Rocha — Foto: Divulgação/Cacá Meirelles
A cantora Ava Rocha — Foto: Divulgação/Cacá Meirelles

A faixa-título é a única com letra em espanhol. Ava morou dos 14 aos 20 anos na Colômbia. Sua mãe, a artista plástica e cineasta Paula Gaitán, nasceu na França de pai colombiano (o poeta Jorge Gaitán Durán) e mãe brasileira de origem judaico-eslava. A cantora ainda planeja gravar um disco todo em espanhol.

A América Latina também é representada no álbum por Cuba em “Beijando todos vocês”. Na letra, ela manda um beijo para a ilha caribenha, assim como manda para Lula, que ainda não tinha voltado a ser presidente quando a canção foi feita.

— Eu queria o Lula de volta, fazia parte dessa projeção de um Brasil unido ou, pelo menos, melhor — diz Ava. — E amo Cuba. Ela é sacaneada, maltratada e merece muitos beijos. Mandei beijos para geral, menos para os facínoras. Pega os beijos quem merece.

Em cena com Zé Celso

Quando seu pai morreu, Ava tinha apenas 2 anos. Não tem lembranças físicas dele, mas recorre à obra de Glauber como referência.

— Tem uma frase dele que eu adoro: “Não basta ter talento, é preciso ter coragem”. Isso, para mim, é muito forte — exemplifica. — É um artista conectado a interesses coletivos, que são transformadores, revolucionários. Ele me inspira a não me ligar no mercado, nas armadilhas do capitalismo, da mediocridade, da hipocrisia.

Outra inspiração forte é José Celso Martinez Corrêa. Ava atuou numa das etapas da montagem de “Os sertões”, de Euclides da Cunha, no Teatro Oficina. Trabalhava como atriz e cantora — interpretou “Luar do sertão”. Também dirigiu “Ardor irresistível”, filme que registrou a ida da companhia a Canudos, na Bahia.

— Zé é importantíssimo na minha vida. Foi trabalhando com ele que me dei conta de que podia carregar a liberdade no corpo. Ele dizia: “Você tem que se coroar”. Então, me coroei — conta. — Como cantora, foi um passo determinante. Fazia algumas aparições em shows de outros, em filmes. Mas, quando o Zé me pôs em cena, foi uma ruptura.

No início deste mês, Ava interpretou em São Paulo, a convite do Sesc Ipiranga, o repertório de “Índia”, disco lançado por Gal Costa há 50 anos.

— Gal é uma cantora maravilhosa, amo esse disco profundamente e me chamo Yndia — justifica ela, recordando que no filme “Claro” (1975), Glauber canta a guarânia “Índia” ao telefone numa ligação para o Brasil.

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