Cultura
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Por Bolívar Torres

Desde 1943, quando foi criado o Arquivo Múcio Leão, a Academia Brasileira de Letras guarda as relíquias que pertenceram aos imortais. Graças a um esforço constante de digitalização, os seus 300 fundos arquivísticos e coleções de documentos estão a cada dia mais ao alcance de pesquisadores do mundo inteiro — e também de qualquer curioso com acesso à internet.

Este mês, uma nova leva de preciosidades ganhou sua versão digital, democratizando o seu acesso. São os arquivos dos 33 fundadores da casa, como Carlos de Laet, Clóvis Beviláqua, Coelho Neto, Domício da Gama, Rui Barbosa, Sílvio Romero, Joaquim Nabuco e Visconde de Taunay, entre outros. Também estão lá os livros de Atas das Sessões da casa. Para conferir, basta entrar no site da instituição e fazer a busca por palavras-chave.

Entre os destaques desta nova etapa de digitalização que já podem ser consultados estão o manuscrito original de “O mulato”, de Aluísio Azevedo, e uma carta de Visconde de Taunay, presidente da Sociedade Central de Imigração, ao Visconde do Ouro Preto, presidente do Conselho de Ministros, em que comenta sobre a Lei da Abolição, a elaboração do Código Civil e outras mudanças importantes no Brasil do período.

Há também curiosidades sobre o que era discutido nos primeiros encontros da casa. Como uma ata original de uma sessão de janeiro de 1897, em que acadêmicos como Machado de Assis e José Veríssimo debatem se a palavra Brasil deveria ser escrita com Z ou com S.

Aliás, sentiu falta de menções ao Bruxo do Cosme Velho? Pois bem, em 2004 o seu acervo já havia ganhado uma digitalização à parte, que incluía originais dos romances “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”, assim como do poema “O Almada”.

— O perfil dos nossos pesquisadores é bem diversificado porque o acervo é diversificado — diz a historiadora Maria Oliveira, chefe do Arquivo. — E uma das razões é que a Academia tem membros de diversas áreas, como a medicina, o direito e a ciência.

Ata da Sessão de 11 de janeiro de 1897 - Discussão sobre a escrita da palavra Brasil, com Z ou S. O presidente Machado de Assis nomeou uma comissão para emitir parecer sobre a questão — Foto: Arquivo Mucio Leão/ ABL
Ata da Sessão de 11 de janeiro de 1897 - Discussão sobre a escrita da palavra Brasil, com Z ou S. O presidente Machado de Assis nomeou uma comissão para emitir parecer sobre a questão — Foto: Arquivo Mucio Leão/ ABL

Como explica o site da ABL, o fundo arquivístico, dirigido hoje pelo acadêmico José Murilo de Carvalho, é o “conjunto de documentos produzidos e/ou recebidos pelo titular no exercício de suas atividades e no decorrer de sua vida, naturalmente acumulados pelo próprio”. Os estudiosos da vida e da obra dos acadêmicos podem entender melhor o processo de escrita deles consultando os originais de suas obras. Mas há ainda cartas, fotografias e outros itens pessoais.

O interesse, porém, não se limita à vida e à obra dos acadêmicos. Tanto a correspondência quanto os contratos entre escritores e editoras, por exemplo, são procurados pelos estudiosos na história da edição no país. Um dos destaques nessa área é o contrato de Euclides da Cunha para a primeira edição de “Os sertões”, fruto de uma longa negociação.

Desafio logístico

Para se ter uma ideia da diversidade do material, os itens vão da arquitetura (como uma planta do Petit Trianon, sede da ABL) à política pública internacional (documentos dos acordos ortográficos). O cinema é outra área contemplada. O acervo de Nelson Pereira dos Santos tem uma carta de Stanley Kubrick elogiando o trabalho de dublagem em “O iluminado”, feita pelo cineasta e acadêmico, morto em 2018.

Apenas uma pequena parte do arquivo está on-line, já que o material está sendo digitalizado aos poucos. Em 2020, uma primeira etapa já havia contemplado documentos dos 40 patronos da instituição, como Castro Alves, Raul Pompeia e Gonçalves Dias .

A ideia é ter tudo digitalizado no futuro. Mas há um desafio logístico. O acervo total conta, atualmente, com cerca de 700 metros lineares de documentos textuais e mais de 40 mil documentos audiovisuais e iconográficos.

— Alguns demoram mais porque crescem com o tempo — conta Maria. — Em 2015, a família de José Verissimo doou uma estante com cartas desconhecidas. Nesse material foi encontrada uma foto inédita de Machado de Assis.

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