Em dezembro de 2019, quase um ano após o início de seu mandato, o então presidente Jair Bolsonaro tratou de fazer algumas mudanças no Palácio do Planalto, edifício que abriga o gabinete da presidência do Brasil. Uma delas chamou atenção. A obra "Orixás", da pintora Djanira (1914-1979), foi retirada do lugar de destaque que ocupava no Salão Nobre do edifício e mandada para a reserva técnica do palácio. No mesmo lugar, foi colocada uma réplica da tela "Pescadores" (1958), também de Djanira, que ficava no gabinete presidencial. À época, a retirada de "Orixás" do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi considerada intolerância religiosa por parte do governo, que não explicou o motivo da mudança.
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Durante a cerimônia de posse de Margareth Menezes como Ministra da Cultura, nesta segunda-feira (2), a primeira-dama Janja Silva sinalizou que "Orixás" voltará ao local onde permaneceu por anos antes de ser removida pela equipe de Bolsonaro.
![Réplica da obra 'Pescadores', de 1958, também de Djanira, que substituiu 'Orixás' no Salão Nobre do Palácio do Planalto — Foto: Jorge William / Agência O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/wgLQ5DZ7kbvUL6GUa1w9EUyMimg=/0x0:5184x3456/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/8/4/5HGtxIRdC3KvUWTU1ibw/89301298-brasil-brasilia-pa-24-08-2020-troca-de-quadros-no-salao-nobre-do-palacio-do-planalt.jpg)
Dos anos 1960, com 3,61 metros de largura por 1,12 metro de altura, a acrílica sobre tela "Orixás" apresenta três divindades de religiões de matriz africana — Iansã, Oxum e Nanã —, retratadas ao lado de duas filhas de santo. O trabalho se assemelha a outras duas pinturas da artista paulista: "Candomblé", de 1961, que pertence a um colecionador particular, e "Três orixás", de 1966, que integra a coleção da Pinacoteca de São Paulo desde 1969. Estas duas últimas, aliás, fizeram parte da exposição "Djanira: a memória do seu povo", que ficou em cartaz na Casa Roberto Marinho, no Cosme Velho, zona Sul do Rio, entre junho e outubro de 2019. Isabella Rjeille, que assinou a curadoria da mostra ao lado de Rodrigo Moura, lembra do caráter social do trabalho de Djanira e comemora o retorno de "Orixás" ao Palácio do Planalto.
— Djanira encarava a pintura como uma forma de compromisso social, como ela mesma dizia: 'o pouco que sou devo ao povo, não abandono minhas raízes populares como mulher e como artista'. Acredito que o retorno desta obra para o Palácio do Planalto é um marco histórico não apenas pelo que ela representa para nossa cultura, mas também por respeitar o compromisso histórico que Djanira assumiu com a sua produção — diz Rjeille.
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Ao assegurar que "Orixás" vai voltar ao lugar de destaque no Salão Nobre, Janja também disse que a obra foi avariada nos últimos anos. Antes de repousar na parede do palácio, no entanto, a pintura de Djanira ficará ao alcance do público na exposição "Brasil futuro: as formas da democracia", em cartaz desde domingo (1º) no Museu Nacional da República, em Brasília. Com curadoria de Lilia Schwarcz, Paulo Vieira, Márcio Tavares e Rogério Carvalho, a mostra, que celebra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da SIlva, tem 180 obras de diversos artistas brasileiros como Denilson Baniwa, Adriana Varejão, Jaider Esbell, José Damasceno e Rosana Paulino.