Cultura
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Por — São Paulo

São bocas escancaradas, torsos desnudos, vísceras à mostra e rostos desfigurados. O que poderia ser a descrição grotesca de uma carnificina correspondente à toda sorte de guerra é, na verdade, uma seleção de imagens pintadas pelo irlandês Francis Bacon (1909-1992) para escancarar sua sexualidade e o desejo absoluto ao corpo humano (masculino, diga-se). Tais obras do artista — alvo de louvação entre seus contemporâneos e gerações futuras — podem ser conferidas na primeira exibição individual de Bacon no Brasil, sob a batuta do Museu de Arte de São Paulo (Masp) que celebra um ano dedicado às Histórias da Diversidade LGBTQIA+.

Quem visitar a mostra, em cartaz a partir de hoje (sexta) poderá ver 23 obras do artista que fazem uma ode ao corpo masculino, objeto de desejo de Bacon, mas também uma afiada leitura sobre o a sexualidade e o prazer. Num jogo de esconder e escancarar o interesse pelo outro, a exibição — assinada por Adriano Pedrosa, diretor artístico do Masp, com curadoria de Laura Cosendey e assistência de Isabela Ferreira Loures — consegue criar ambiente para interessantes contrastes. Há na mostra, por exemplo, “Man in Blue I” (do inglês: homem de azul), de 1954, um bonito e elegante retrato de um engravatado ao lado de uma mesa de bar, alvo do olhar de desejo do artista. Mas também está lá a tela “Two Figures With a Monkey” (1967), mais explicita, em há dois corpos engalfinhados, e mais um macaco de companhia. A fusão (dos dois humanos) faz parte do tipo de obra que Bacon chamava de couplings (ideia traduzida pelo museu como “acasalamentos).

— É um sexo, um contato corpo a corpo em que as figuras se fundem. São obras muito fortes. Bacon começou a fazer esse tipo de trabalho nos anos 1950, mas eles não foram expostos, justamente por existir um contexto de muita repressão. Foi só depois da descriminalização das relações entre pessoas do mesmo sexo, (na Inglaterra de 1967), que ele retornou a esse tema. É um assunto radical que mostra muito a ousadia do artista — diz Laura Cosendey, curadora assistente.

É equivocado dizer, porém, que a mostra é focada em interações sexuais retratadas pelo artista. O time de pesquisa e curadoria da exibição, por sua vez, elenca o desejo — e o olhar detido nas mais diversas formas humanas — como o fio condutor para a seleção de pinturas exibidas na mostra. Logo na primeira sala de exposição, por exemplo, o visitante é confrontado com o grandioso "Man at a Washbasin" (do inglês: homem em um lavatório), de 1954. Em que há uma figura humana com ares espectrais, iluminados, agachada em frente a um cenário difuso. A figura humana naquela posição, portanto, brilha como protagonista numa cena absolutamente prosaica, mas de grande privacidade.

— O desejo e a sexualidade também passam por outros lugares da representação do corpo que não só na obra “Two Figures with a Monkey”, embora seja o momento em que essa demonstração floresça — explica Isabela Ferreira Loures, na assistência da exposição.

Man at a Washbasin [Homem em um lavatório], c.1954, de Francis Bacon — Foto: © The Estate of Francis Bacon. All rights reserved. AUTVIS, Brasil / DACS/Artimage, London 2024. Photo: Prudence Cuming Associates Ltd
Man at a Washbasin [Homem em um lavatório], c.1954, de Francis Bacon — Foto: © The Estate of Francis Bacon. All rights reserved. AUTVIS, Brasil / DACS/Artimage, London 2024. Photo: Prudence Cuming Associates Ltd

Inédita, a exibição se prolonga até 28 de julho conta com sua totalidade de obras emprestadas de outros museus internacionais — vale dizer que o Masp não conta com obras de Bacon em seu variado acervo. Portanto, a exibição tem obras vindas de grandes instituições dos Estados Unidos, da Europa e do México.

A carne como metáfora

A possibilidade de olhar para a obra de Francis Bacon para discutir a temática queer (palavra do inglês usada para classificar diversidade sexual e de gênero) remonta à história do próprio artista, expulso de casa ainda na adolescência pelo pai intolerante. Adulto, Bacon não escondeu que suas relações afetivas tinham profunda relação com a produção de seus quadros — celebrados, vale dizer, com o artista ainda em vida. Parte das figuras retratadas por Bacon eram seus companheiros, caso de Peter Lacy e George Dyer, os mais conhecidos de sua trajetória. A imagem de Lacy, inclusive, pode ser conferida na exposição do Masp, no impactante “ Study for Three Heads” (do inglês: estudo de três cabeças), de 1962. Em que o artista intercala a imagem do parceiro com seu próprio retrato — todos, é claro, com a transformação evidente da face que são particulares a Bacon.

— Há leituras muito recorrentes da obra do Francis Bacon, ligadas ao horror à violência, e a enxergá-lo como um pintor do pós-guerra. A obra dele, porém, traz uma série de ambiguidades. Até na violência e na excitação. Isso aparece na maneira que ele retrata os casais fazendo sexo, por exemplo. Ali ele se inspirou em imagens corpo a corpo de lutadores — explica Laura. — O título da exposição “A Beleza da Carne” parte de uma entrevista em que o Bacon fala sobre o impacto visual que peças de carne em açougue tiveram nele. Usamos esse elemento da carne de maneira simbólica e metafórica para falar do corpo humano, da figura humana, masculina. Do corpo pulsante, em carne e osso.

Study for Self-Portrait [Estudo para autorretrato], 1981, Francis Bacon — Foto: © The Estate of Francis Bacon. All rights reserved. AUTVIS, Brasil / DACS/Artimage, London 2024. Photo: Prudence Cuming Associates Ltd
Study for Self-Portrait [Estudo para autorretrato], 1981, Francis Bacon — Foto: © The Estate of Francis Bacon. All rights reserved. AUTVIS, Brasil / DACS/Artimage, London 2024. Photo: Prudence Cuming Associates Ltd
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