Nunca encontrei dificuldades em reconhecer (e homenagear) os meus heróis, e Ziraldo definitivamente tem lugar de honra nessa galeria.
Olho para trás e me vejo um menino, aos 13 anos de idade, visitando-o no legendário jornal O Pasquim...
Multifacetada, inquieta e genial, sua obra o coloca entre os maiores do mundo.
Mais que tudo, Ziraldo foi um realizador. Todos nós temos, vez por outra, uma ideia que acreditamos ser especial. A diferença é que pouco depois a abandonamos. Ele, ao contrário, seguia sonhando, criando e realizando a maioria de suas infindáveis ideias. Uma usina criativa.
- Fernanda Torres sobre Ziraldo: ‘Eu me alfabetizei com o ‘Flicts’’
- Homenagem ao cartunista: Paes atende a pedido da família de Ziraldo e fará estátua
O que posso contar por experiência própria, e que poucos sabem, é que ele foi um educador de uma generosidade, um carinho e uma paciência sem fim. Com muita frequência, jovens artistas o procuravam em busca de orientação. Ele os recebia com o afeto e a firmeza de um pai. Comentava os desenhos com sinceridade. Depois, abraçava-os afetuosamente, recomendava que lessem tudo o que estivesse ao alcance e dizia: “Arte é uma atividade intelectual...” Foi o que me disse quando eu tinha 13 anos completos e fui procurá-lo no Pasquim. Nunca me esqueci desse conselho.
Cartunista Ziraldo morre aos 91 anos
E, é claro, podemos descrever o próprio personagem chamado Ziraldo como a sua neta um dia lhe disse: “um cara em negativo”, com a pele ficando cada dia mais escura e os cabelos mais brancos, com um colete colorido, e olhos luminosos, de tanta vida que emitiam.
Numa palavra: UM GÊNIO.
Obrigado por tanto!
Ricardo Leite é designer e autor do livro “Ziraldo em cartaz”, que analisa as centenas de cartazes criados pelo artista ao longo da carreira.