Cultura
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Por AFP — Cannes, França

A ficção “Maria”, que conta os bastidores da filmagem de "O Último Tango em Paris sob a perspectiva da atriz Maria Schneider, foi apresentada nesta terça-feira (21) no Festival de Cannes, que vive os efeitos do #MeToo, com atrizes denunciando assédios, abusos e condições de trabalho no cinema local.

Em um contexto no qual se tornou prioritário estabelecer protocolos relativos às condições de filmagem, cenas íntimas e atores menores, a diretora Jessica Palud ambienta sua história no início dos anos 1970, quando os cineastas tinham muito poder e o consentimento das atrizes não importava.

Filha ilegítima de um ator famoso, a jovem Maria sonha em fazer cinema e é escolhida, aos 19 anos, para filmar ao lado de Marlon Brando, já então um grande nome de Hollywood, a história da paixão tórrida entre um viúvo americano de passagem por Paris e uma jovem, sob a direção de Bernardo Bertolucci.

Para plateias mundo afora, o longa de Bertolucci tem seu auge com uma cena de estupro em que uma manteiga é usada como lubrificante, o que fez com que o filme tivesse classificação para maiores e recebesse críticas do Vaticano.

Embora encenada, a sequência foi imposta à atriz sem que ela tenha concordado ou sequer opinado. Maria Schneider teria ficado arrasada, como explica sua prima, a jornalista Vanessa Schneider, em “Tu t’appelais Maria Schneider” ("Você se chamava Maria Schneider", em tradução livre), livro que inspirou o filme dirigido por Palud.

Mais tarde, Schneider afirmou que a cena não estava no roteiro e que foi avisada pouco antes da filmagem da sequência. A atriz chegou a afirmar em entrevista ao Daily Mail em 2007 que se sentiu "meio estuprada por Brando e Bertolucci", "humilhada", e que as lágrimas da personagem na cena são reais.

A diretora Jessica Palud (ao centro, de calças pretas) com o elenco do filme 'Maria' que conta os bastidores da filmagem de 'O Último Tango em Paris' sob a perspectiva da atriz Maria Schneider — Foto: AFP
A diretora Jessica Palud (ao centro, de calças pretas) com o elenco do filme 'Maria' que conta os bastidores da filmagem de 'O Último Tango em Paris' sob a perspectiva da atriz Maria Schneider — Foto: AFP

Em 2013, Bertolucci afirmou em entrevista à Cinemateca Francesa que sua intenção ao filmar o estupro era que Schneider "reagisse humilhada". "Acredito que odiou Marlon e a mim porque não contamos a ela”, afirmou o diretor. Na mesma entrevista, Bertollucci esclarecia que, embora se sentisse “culpado”, não se arrependia da forma como dirigiu aquela cena. “Para conseguir algo é preciso ser completamente livre”, concluiu.

Maria Schneider, morta em 2011 em consequência de um câncer, chegou a afirmar que sua carreira de mais de 50 filmes foi reduzida a "O Último Tango em Paris" e que ao trama do filme seguiram-se depressão, uso de drogas e tentativas de suicídio.

“O que me comoveu foi esta mulher que nos anos 1970 falava, dizia coisas e ninguém parecia ouvir a sua voz, e as suas frases eram finalmente frases em 2024”, disse Palud. “Há algo de muito moderno” no que ela dizia.

Para interpretar Schneider, Palud escolheu Anamaria Vartolomei, descoberta em “O Acontecimento”, filme baseado no livro de Annie Ernaux sobre aborto que ganhou o Leão de Ouro em Veneza em 2021.

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