O dólar comercial voltou a se aproximar do patamar de R$ 5,40 nesta terça-feira, no menor valor de fechamento desde o dia 24 do mês passado, quando o câmbio encerrou as negociações em R$ 5,39. Nesta terça-feira, a moeda americana caiu 1,12%, cotada a R$ 5,41.
Em meio à crise do dólar nos últimos meses, a moeda americana bateu o patamar de R$ 5,40 pela primeira vez no dia 12 de junho, após o presidente Lula dizer que "o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão alcançar a meta de déficit sem comprometer os investimentos", dando início a uma série de declarações e ataques ao Banco Central que aumentaram ainda mais o desconforto do mercado com o cenário fiscal no Brasil.
Desde a mudança no tom do governo sobre o equilíbrio das contas públicas na semana passada, com a promessa de um corte de R$ 29,5 bilhões no Orçamento em 2025 e Lula reafirmando o compromisso com o controle de gastos, o câmbio interrompeu a sequência de altas e começou a devolver parte do prêmio de risco.
— O primeiro movimento (de alta do dólar) foi muito exagerado e muito forte, com as falas do presidente aumentando a incerteza do mercado. Agora, na ausência dessas falas, o mercado está entendendo que não houve nenhuma mudança estrutural e vemos uma descompressão do prêmio de risco — Gustavo Okuyama, gerente de portfólio na Porto Asset Management. Ele explica que um clima positivo no mercado no exterior também favorece o alívio nos ativos por aqui.
Analistas explicam que, considerando a balança comercial favorável do país, além de outras variáveis macroeconômicas, não havia justificativa para um dólar que chegou a acumular alta de 15% no ano e a bater a máxima de R$ 5,70 durante o pregão. Mesmo assim, diante da incerteza da capacidade do governo de cumprir com a meta fiscal de déficit zero prevista para este ano, investidores recorreram ao dólar como um ativo seguro para se proteger das dúvidas.
Sem novos indicadores macroeconômicos ou notícias nos últimos pregões, a moeda tem seguido a tendência de queda da semana passada, acumulando uma desvalorização de 2,76% desde o anúncio do corte no Orçamento pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e seu encontro com Lula.
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Hoje, o real foi a segunda moeda que mais subiu frente ao dólar entre as divisas de países emergentes, acumulando uma alta de 0,98%. O dia também foi marcado por uma liquidez reduzida, por conta do feriado local em São Paulo.
Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos, diz que, apesar ainda não haver nenhuma medida concreta, o fato do Executivo se mostrar disposto a rever gastos foi importante para retirar parte do prêmio de risco dos ativos:
— A maior pressão sobre o câmbio no momento não vem do externo, mas de toda a questão sobre a credibilidade do governo no (equilíbrio) fiscal. Então mesmo que o anunciado na semana passada não resolva o problema no curto prazo, foi um passo na direção certa — ele afirma, e destaca que o mercado segue atento para o anúncio de mais medidas visando ao equilíbrio das contas públicas no longo prazo.
Nesta terça-feira, o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, perante o Congresso dos Estados Unidos contribuiu para reforçar as apostas do mercado de que o banco central americano poderá começar a cortar as taxas de juros ainda neste ano. Segundo a Bloomberg, analistas veem uma probabilidade de pouco mais de 70% de que o Fed irá anunciar primeiro corte em setembro. Ao todo, seriam duas reduções de 0,25 ponto percentual em 2024.
As declarações de Powell sugerem que o Fed provavelmente não irá reduzir os juros em sua reunião neste mês, no entanto. Ele disse que "mais dados positivos" fortaleceriam a confiança de que a inflação está se movendo em direção à meta de 2% do banco central dos EUA, e as leituras recentes apontam para "modestos progressos adicionais" nos preços. Ele também alertou que reduzir as taxas de juros muito pouco ou muito tarde poderia colocar a economia e o mercado de trabalho do país em risco.
Para Diego Costa, gerente de câmbio para o norte e o nordeste da B&T Câmbio, Powell apresentou um tom mais moderado sobre o controle da inflação nos Estados Unidos, reconhecendo que os últimos dados sugerem uma economia menos aquecida. Ele destaca, no entanto, que qualquer surpresa nos dados de inflação, que saem nesta quarta-feira, podem frustrar o mercado:
— Com os preços entrando em um ritmo mais moderado, o mercado está otimista sobre uma possível flexibilização nos juros, mas qualquer surpresa nos dados de inflação pode mudar essa perspectiva rapidamente. A cautela permanece elevada — ele ressalta. Segundo a Bloomberg, é esperado que a inflação tenha subido 0,1% no mês passado.
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Costa também afirma que os últimos pregões mais calmos foram propícios para que os investidores se reposicionassem no mercado local:
— Com o cenário político local estabilizado, ao menos por enquanto, e os mercados aguardando os próximos índices de preços, a recente desvalorização do real proporciona um contexto favorável para um reajuste da moeda.