O que seria mais um dia mais tranquilo para o câmbio, com dados positivos vindo do exterior, foi afetado negativamente pelo cenário doméstico. Além de dados ruins sobre as contas públicas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
O dólar comercial, que na véspera havia recuado e fechado a R$ 5,64, abriu esta sexta-feira em baixa, cotado a R$ 5,61. Esse quadro, no entanto, se reverteu após a divulgação de um boletim sobre as receitas e despesas do governo do primeiro semestre de 2024. A moeda americana terminou o dia valendo R$ 5,6578, em alta de 0,18%.
Os dados demonstraram avanço maior dos gastos do governo frente à arrecadação e reforçaram o desafio fiscal pela frente. A equipe econômica, que anunciou um congelamento de R$ 15 bilhões nos gastos na semana passada, já prevê um rombo de R$ 28,8 bilhões para este ano, no limite permitido pelo arcabouço fiscal, de 0,25 ponto percentual do PIB.
Por volta de meio-dia, durante um evento de divulgação de um programa de infraestrutura, no Palácio do Planalto, o presidente oltou a criticar falas de Campos Neto. Segundo Lula, o chefe do BC afirmou que o aumento do salário mínimo e da massa salarial pode resultar em inflação:
— Significa que para não ter inflação é preciso o povo ganhar pouco? Será que essa pessoa não tem respeito? Será que as pessoas pensam que alguém ganha salário mínimo quer ganhar salário mínimo? — afirmou Lula.
Logo após as declarações, o dólar mudou de direção e começou a operar em alta. A divisa chegou a alcançar os R$ 5,67 logo depois das falas de Lula.
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— O Roberto Campos Neto realmente falou que, com o reajuste do salário mínimo acima da inflação, isso indexa outras despesas do governo, é mais dinheiro circulando. E isso se traduz em mais inflação. Mas foi uma fala técnica. E o presidente colocou como se fosse uma crítica, porque não perde uma oportunidade de criticá-lo — diz Victor Beyruti, da Guide Investimentos, afirmando que a fala já vem diante de um momento de incerteza sobre a condução fiscal.
Segundo os analistas, as sextas-feiras já são mais sensíveis à valorização porque agentes buscam embolsar lucros antes do fim de semana, a fim de se proteger de movimentos que possam acontecer nos dois dias sem negociações.
Além disso, a pressão do iene ajuda ainda mais a desvalorização do real. A moeda japonesa é utilizada para o movimento de carry trade. Às 17h, a moeda japonesa valorizava 0,1% frente ao dólar.