A AliExpress e o Magazine Luiza vão atuar em parceria no Brasil, com vendas de produtos nos dois marketplaces, segundo anúncio feito na manhã (horário do Brasil) desta segunda-feira, diretamente da sede da empresa do Grupo Alibaba, em Hangzhou, na China. E que deve ser implementada ao longo do terceiro trimestre deste ano. As ações da varejista brasileira dispararam após o anúncio.
O acordo, em formato inédito para as duas plataformas, começou a ser negociado pouco mais de sete meses atrás. E prevê que o Magalu disponibilize no site da AliExpress no Brasil os itens que vende diretamente em sua plataforma digital, portanto não inclui aqueles comercializados por vendedores que integram o marketplace do Magazine Luiza. Ao mesmo tempo, a empresa do Alibaba vai incluir os produtos de sua linha Choice no marketplace do Magalu.
— A negociação acelerou no último mês, após a nova taxa aprovada no Congresso. Ficamos muito confortáveis de assinar o acordo e fazer o anúncio dessa parceria — disse Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza. — As duas plataformas têm no Brasil, juntas, mais de 700 milhões de visitas por mês. São 60 milhões de clientes ativos nos dois canais. Com sortimentos complementares, a chance de conversão (de vendas) nos dois canais é muito alta. Amplia nossa força de compra.
Ele frisou que a globalização do comércio eletrônico e as vendas inter-fronteiras são uma realidade e que nunca foi contra esse processo.
— Eu achava que faltava isonomia (tributária). E com a taxa aprovada agora, igualou muito. É um negócio mundial. Impossível não conviver com ele e a globalização dos mercados — destacou.
As ações da Magazine Luiza sobem com força após a empresa anunciar uma parceria com a AliExpress. Por volta das 10h20, a alta chegava a 11%. Na máxima do dia, as ações operavam em alta de 13,02%.
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Centro de distribuição do Magazine Luiza em Louveira (SP)Divulgação
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Anúncio feito na China
O executivo participou de uma coletiva de imprensa com transmissão on-line, realizada diretamente da sede do grupo chinês, na qual estavam ainda Kai lee, CEO do AliExpress para a América Latina, e Briza Bueno, diretora da plataforma para a região.
Trajano reforçou que a estratégia está ancorada no aumento das vendas do canal digital por meio da complementariedade de categorias que vão abastecer os dois marketplaces agora parceiros. Como uma plataforma passa a atuar como vendedora de produtos da outra ficou acertada uma taxa por venda para cada uma nas transações envolvendo produtos da parceira.
No último dia 12, o Congresso aprovou uma taxação de 20% para compras no internacionais no valor de até US$ 50 feitas em plataformas de e-commerce que integram o Remessa Conforme, programa de conformidade fiscal da Receita Federal. Está pendente a sanção pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Acima de US$ 50, o imposto de importação devido é de 60%.
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Trajano não deu estimativas do impacto que o acordo pode ter em vendas para o Magalu, mas frisou que mais de cem profissionais da varejista participaram das negociações com a AliExpress, envolvendo a alta liderança da companhia. E disse que há uma oportunidade "muito significativa" para o aumento de vendas e do canal digital do ponto de vista de frequência de compras e complementariedade de sortimento.
Linha premium da AliExpress
A linha Choice do AliExpress, explicou Briza, inclui amplo grupo de produtos do tipo de cauda longa, passando por categorias que vão de beleza, passando por escritório e alcançando eletrônicos.
— A Choice traz os produtos do nosso serviço mais premium em relação ao tempo de entrega, bem mais curto. Tem um nível de serviço muito melhor e a qualidade garantida do AliExpress. É um serviço diferenciado — diz Briza, frisando que, na seleção do Magalu entram principalmente bens duráveis, como geladeiras, por exemplo, complementar ao Choice.
Ela destaca que é um acordo que dá continuidade ao foco do AliExpress em ampliar a participação de vendedores locais no marketplace:
— Vendedores locais vendendo para o brasileiro já são um espaço importante quando a gente está na plataforma. E é onde a gente tem focado bastante. Os produtos ajudam porque, quando a gente olha para o cliente final, ele já está no Brasil. Então, tem uma velocidade maior de entrega.
A estimativa das duas companhias é, ao longo do tempo, ir ampliando o sortimento que cada uma vai oferecer na plataforma parceira. Do lado do Magalu, o sortimento ganha reforço de linhas da AliExpress como as de produtos de informática, artigos para bebês e outros.
Parceria para entrega em aberto
De início, as entregas dos produtos comprados ficarão a cargo da plataforma de origem do produto, que seria a opção mais “fácil” para acelerar o início das vendas em parceria, explicaram Briza e Trajano. Mas o Magalu está aberto a aprimorar esse processo adiante:
— A gente está aberto a essas discussões para ver como a gente pode se complementar. Como a gente tem uma capilaridade gigantesca no Brasil, com 22 centros de distribuição, 170 pontos de cross-docking, mas as 1.300 lojas que são last mile /fullfilment centers (última milha do sistema de entrega), temos uma grande possibilidade de conseguir acordar, um dia que a gente acordar e achar que isso é bom, reduzir o custo de entrega do AliExpress aqui no Brasil. Mas não é esse o acordo de hoje — disse o presidente do Magalu.
Questionada sobre a certificação dos produtos que passarão a integrar o marketplace do Magalu, Briza afirmou que a Choice passa por critérios de certificação de acordo com o que pede a legislação brasileira.
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— Vamos atuar com o mesmo rigor aplicado em nossa plataforma, utilizando filtros, ferramentas de inteligência artificial para checar todos os produtos e seguirmos confiantes no que estamos trazendo — disse ela. — Há muita oportunidade de colaborar mais. As companhias veem muitas sinergias olhando para frente, com foco em melhorar a digitalização no Brasil.
No Magazine Luiza, esses itens vindos de fora também passarão, automaticamente, pelos trâmites exigidos pelo Remessa Conforme, disse Fred Trajano. Ele afirma que o objetivo é conectar os itens do AliExpres em todos os canais de vendas digitais da varejista.
Movimento 'inteligente'
Roberto Wajnsztok, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, avalia como “inteligente” o movimento da parceria para o Magazine Luiza. Ele lembra que as grandes plataformas de e-commerce asiáticas chegam ao Brasil atraídas por um mercado eletrônico maduro, uma massa de grande potencial de consumo, com mais de cem milhões de usuários.
— Dos players brasileiros, o Magalu sofreu, mas continua aí. É complexo para uma empresa brasileira trazer o sortimento dos asiáticos e com custos muito baixos, são preços impossíveis de praticar no país, mesmo considerando a nova taxação. E, se não se pode com o inimigo, junte-se a ele — diz o especialista.
Para ele, o Magalu é o grande vencedor do acordo anunciado nesta segunda-feira. Do lado do AliExpress, diz Wajnsztok, o esforço pode estar mais do lado institucional, do que do econômico:
— Pode ser uma blindagem a futuros movimentos protecionistas no país e uma forma de viabilizar o escoamento das vendas do AliExpress.
Leonardo Cyreno, head de Eficiência Comercial e Growth na AGR Consultores, também entende que o Magazine Luiza se posicionou bem no concorrido mercado de comércio eletrônico.
— É uma parceria que só faz sentido para o Magalu, porque ele tem um gap na disputa em mercadoria barata com Amazon e Mercado Livre, justamente nessa cauda longa. E, no varejo, se vive de resultado — diz ele. — Ao entrarem nessa precificação mais baixa, entram no jogo. Não é a solução para os problemas do Magalu, mas é bom.
Faz sentido também para a plataforma chinesa como caminho para ganhar mercado, continua o especialista, pois ao vender pelo Magalu, passa a contar com um contato de um site brasileiro mediando o processo de compra para o consumidor.
A parceria entre o Magazine Luiza e o AliExpress abre uma porta para novas transações entre varejistas brasileiros e sites asiáticos, destaca o consultor. Para ele, outros grupos vão observar os resultados do acordo de agora.