Depois de ser atropelada na escolha de Marcio Pochmann como novo presidente do IBGE, órgão subordinado a sua pasta, a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB-MS), afirma que não existe a possibilidade de interferências políticas ou ideológicas no trabalho do instituto. Segundo ela, “comparar com o que houve na Argentina é desconhecer o histórico do IBGE”.
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Tebet diz que, “agora que sabe o nome dele”, terá o maior prazer em atender ao presidente Lula. Adianta que abrirá espaço na agenda para “conhecer” Pochmann na semana que vem e que espera receber dele um plano de trabalho para o comando do órgão.
Sobre o Orçamento de 2024, ela adiantou que não haverá previsão de reajuste do Bolsa Família. Ontem, Tebet se reuniu com o ministro Fernando Haddad para explicar que precisará cortar R$ 2,6 bilhões no orçamento da Fazenda em 2024 para cumprir o novo arcabouço fiscal.
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Em relação à proeminência de Haddad, que se transformou no homem forte do governo Lula e da equipe econômica, ela diz que “não se importa em ser a segunda voz da dupla sertaneja”.
Houve ingerência na indicação de Márcio Pochmann para o IBGE?
O IBGE é um órgão autônomo, diferentemente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que faz análise conjuntural. Seja no governo A, B ou C, o IBGE tem um conselho deliberativo formado pelas melhores cabeças do Brasil, ligado a um corpo técnico contratado e concursado. Os técnicos fazem a pesquisa, levantam dados e colocam no papel.
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Não estou preocupada com isso, esse é o menor dos meus problemas, até porque minhas entregas nesses primeiros sete meses ainda não terminaram. Precisamos entregar o Orçamento em 31 de agosto, temos que aprovar o arcabouço na Câmara dos Deputados e a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) ainda não foi aprovada.
A senhora garante que não haverá manipulação nos dados do instituto?
Não tem como ter, os dados entram em tempo real no sistema e depois vão para uma consulta, tem um órgão deliberativo com o pessoal da Esplanada, você tem um corpo técnico que está manuseando os dados a todo momento.
Como avalia o risco de acontecer com o IBGE o mesmo que houve com o órgão semelhante da Argentina, que perdeu a credibilidade?
Comparar com o que houve na Argentina é desconhecer o histórico do IBGE, que passou por presidentes de todas as matizes ideológicas. É, inclusive, não reconhecer a história do presidente Lula. Foram 13 anos de governo do PT e não houve qualquer tipo de denúncia nesse sentido.
Quais os próximos passos?
Primeiro, preciso arrumar espaço na agenda na semana que vem para conversar com Pochmann, não o conheço e não vou fazer prejulgamento. Quero conhecer o candidato, o indicado e, a partir daí, conversar com o presidente Lula.
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O que a senhora pedirá a ele?
Ele é que tem que apresentar para a ministra qual é o plano de trabalho, o que ele está pretendendo fazer para a gente ratificar e encampar, como eu fiz com meus secretários. Quem trabalha comigo tem total liberdade, desde que seja na linha do objetivo comum.
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Como avalia o peso do Ministério do Planejamento no governo?
A escolha do presidente por uma pessoa que tem perfil mais liberal e acredita na importância das reformas já dá sinalização do papel que ele quer da ministra do Planejamento, que traga sua visão econômica, que não é necessariamente a do PT. O meu papel é apresentar as nossas ideias, discordâncias, ponderar e avançar no caminho do equilíbrio na condução da política macroeconômica. Agora, tenho convicção de que quem tem que puxar essa máquina é o Haddad, ele é o maquinista.
O seu nome e o de Haddad são fortes para 2026. Essa sintonia vai se manter até lá?
Para quem estava pronta para voltar para casa, tinha dúvida se saía ou não o ministério até o dia 26 (de dezembro de 2022), quando vim para Brasília conversar com o presidente Lula, esse é o menor dos problemas. Os grandes inimigos do Brasil, do ministro Haddad, são a fome e a desigualdade. Não há como visualizar estarmos em caminhos diferentes em 2026.
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Ainda temos resquício da extrema-direita, Bolsonaro está inelegível, mas o bolsonarismo não. Não consigo visualizar uma divisão eleitoral dentro desse campo.
Podemos ter uma chapa Haddad-Tebet?
Não é uma chapa, não sou candidata a nada. Eu ia voltar para casa em 2023 e temos quatro anos pela frente, não sei se vou estar no ministério até lá. Além disso, 2026 passa por 2024, pela capacidade do campo democrático, seja centro-direita, seja centro-esquerda, de formar uma barreira nas eleições municipais ao crescimento da direita radical, que tem uma visão equivocada de país, que segrega, polariza e favorece o crescimento de um ambiente de ódio e discórdia.
Como vê o crescimento de Haddad no governo?
Tem que ser. Isso é bom para o país, para o governo, para a economia. Como em uma dupla sertaneja, não me incomodo em ser a segunda voz.
Como a senhora está lidando com a pressão por aumento de gastos no governo?
O limite global é inalterável, ninguém pode mexer, nem eu, nem Haddad, nem o presidente Lula. Ele foi colocado dentro da nova regra fiscal, que é o arcabouço. Do ponto de vista de onde tirar, as políticas públicas prioritárias foram colocadas pelo presidente da República. São três pontos.
Um é a valorização do salário mínimo, que tem grande impacto na Previdência. Segundo, o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento): precisamos aumentar o investimento público. E o outro é a amarra constitucional: grande parte do espaço fiscal será absorvida pela Saúde com a volta do investimento obrigatório.
E como ficam as promessas do presidente em relação aos programas sociais no Orçamento de 2024?
Não haverá previsão de reajuste do Bolsa Família no Orçamento, essa discussão não tem que ser feita agora. O aumento da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil também não. Tudo dependerá de quanto vamos conseguir crescer as receitas.
Qual será seu legado no Planejamento?
O ministério não é só Orçamento. Essa realidade que quero mostrar após 31 de agosto. Minha missão é deixar ao país um planejamento de médio e longo prazos. Que país queremos entre 2024 e 2040?