SANTIAGO — As autoridades sanitárias chilenas reforçaram as medidas obrigatórias de contenção em Santiago nesta quarta-feira, após um aumento nas duas últimas semanas dos casos de coronavírus no país, que totalizam 23.048 infectados confirmados e 281 mortes.
Enquanto o confinamento é flexibilizado em outros países — e dois meses desde o primeiro caso relatado no Chile — 12 comunas de Santiago entrarão em quarentena obrigatória a partir desta sexta-feira à noite. Assim, cerca de 80% da população da capital chilena de sete milhões de habitantes estarão em confinamento total.
Essas 12 comunidades se somam a outras 14 que já estavam em quarentena, algumas desde o início da semana, quando o número de novas infecções começou a crescer acima de mil por dia.
— É essencial que o número de casos em Santiago diminua rapidamente, e a única maneira de fazer isso é através das medidas que indicamos, por mais dolorosas que sejam — disse o ministro da Saúde Jaime Mañalich, que descreveu a luta para reduzir infecções na capital como "a batalha de Santiago".
Mañalich enfatizou, no entanto, que, em geral, e "comparado a outras nações", o Chile está "relativamente melhor" no controle da pandemia, especialmente considerando-se o número de pessoas que morreram. As comparações dependem da extensão dos testes em cada país, que variam muito.
Especialistas chilenos lamentam que o presidente Sebastián Piñera tenha feito um chamado duas semanas atrás para a retomada gradual das atividades econômicas, em uma mensagem ao público que levou ao relaxamento das medidas de autocontrole e que explicaria o aumento repentino de infecções de acordo com os balanços oficiais desde o último final de semana.
Assim como outros lugares, o país discutia como promover um “ retorno seguro ”, ou seja, como sair do isolamento social sem provocar uma segunda onda de infecções e, ao mesmo tempo, como minimizar prejuízos econômicos.
REPORTAGEM: Com aumento de popularidade na pandemia, Piñera sugere adiar referendo sobre nova Constituição
Desde o início da crise, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as autoridades locais indicaram que o pico projetado de infecções em Santiago seria entre a última semana de abril e a primeira semana de maio.
No entanto, devido ao baixo número de pessoas no primeiro mês e meio, o governo de Piñera começou a comemorar ter atingido um "platô" de infecções, com uma média de 400 a 500 infectados diariamente, com base em uma estratégia de "quarentena seletiva” e a execução de um grande número de testes.
As quarentenas seletivas permitiram às autoridades não encerrar completamente as atividades produtivas, podendo escolher as áreas a serem fechadas com base no número de infecções e no nível de superlotação local, entre outros fatores.
Além disso, há um toque de recolher noturno em todo o território, os centros comerciais estão fechados e as aulas, suspensas.
O país também lançou uma extensa rede juntando laboratórios públicos, privados e universitários para a realização de testes de PCR, considerados os que apresentam os resultados mais confiáveis.
De acordo com o ministro da Saúde, Jaime Mañalich, os critérios para determinar as medidas de restrição são a taxa de incidência, a concentração de casos por quilômetro quadrado e a disponibilidade de infraestrutura sanitária para o referido território. Ele afirmou que a mudança no cenário de Santiago se deve a uma maior aplicação de testes, mas também porque "a doença está sendo transmitida a comunidades de maior risco".
O país também procura evitar que a pandemia se propague de modo intenso simultaneamente na captal e em Valparaíso, a terceira maior cidade do Chile, atrás apenas de Santiago e de Concepción.
— A disseminação da doença da Grande Santiago para Valparaíso seria algo extremamente sério, com que devemos nos preocupar .Temos que travar uma batalha de cada vez e agora corresponde à batalha por Santiago — disse Mañalich.