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Por — Roma

Quando Helena Jeppesen-Spuhler, uma defensora da ordenação de mulheres, participou de uma importante reunião do Vaticano, o Sínodo dos Bispos, neste mês, ela estava cética de que uma instituição dominada por homens por 2 mil anos estivesse pronta para ouvir mulheres como ela.

A reunião contou com a participação de cerca de 300 bispos de todo o mundo e incluiu pela primeira vez freiras e 70 leigos, mulheres entre eles, que têm direito a voto. O sínodo foi convocado pelo Papa Francisco para discutir o futuro da Igreja Católica, incluindo temas sensíveis — como padres casados, a bênção para casais gays, sacramentos para divorciados e em segundo casamento, bem como o papel das mulheres.

À medida que a reunião confidencial se aproxima do fim, em 29 de outubro, Jeppesen-Spuhler afirma que ficou agradavelmente surpreendida. Alguns clérigos — padres, bispos e cardeais— apoiaram abertamente o avanço das mulheres, ela disse. Houve até apoio à ordenação de mulheres como diaconisas.

— Não foi "as mulheres contra os bispos e cardeais". Não foi assim — diz ela, destacando que houve "discussões realmente boas".

Mulheres participam de Sínodo dos Bispos, no Vaticano — Foto: Instagram (@franciscus)
Mulheres participam de Sínodo dos Bispos, no Vaticano — Foto: Instagram (@franciscus)

As mulheres católicas clamam por um espaço mais igualitário e maior participação nas atividades da Igreja há anos, e embora haja um consenso se formando para diferentes formas de avanço, ainda há forte oposição à ordenação delas como diaconisas, quanto mais como padres. Diáconos são ministros ordenados que podem fazer o sermão, realizar casamentos, funerais e batismos, mas apenas os sacerdotes podem celebrar a Missa.

Uma decisão tão importante repousa, em última análise, com o Papa Francisco, mas não é esperado que faça grandes mudanças após a reunião deste mês. Formalmente chamada Sínodo sobre a Sinodalidade, a reunião parte para uma fase final.

Críticos, por outro lado, dizem que tornar mulheres diaconisas é uma abertura também para torná-las padres, o que violaria 2 mil anos de doutrina da Igreja, além de minar a autoridade da instituição.

— A ordenação de mulheres como diaconisas, presbíteras, padres e bispos através dos sacramentos não é possível — afirmou o Cardeal Gerhard Müller em entrevista na véspera do sínodo, do qual ele é um dos participantes. — Nenhum Papa pode decidir algo diferente sem minar a autoridade da doutrina.

Ainda assim, Jeppesen-Spuhler, que trabalha para uma agência católica suíça de caridade, afirmou que as discussões no sínodo refletiram o que parecia ser um apoio crescente à ideia de que as mulheres deveriam desempenhar um papel maior e mais reconhecido na vida das igrejas locais.

Na Igreja Católica, mulheres já trabalham em hospitais, escolas e organizações de caridade e, em muitos países, preenchem lacunas ministeriais — administrando paróquias e realizando responsabilidades pastorais — onde há escassez de padres. No entanto, elas não deixam de ser subordinadas a uma hierarquia masculina, no final.

Ao ouvir católicos ao redor do mundo — um processo de dois anos, iniciado em 2021 que levou à reunião deste mês — o papel das mulheres emergiu como uma questão urgente.

Os voluntários da pesquisa citaram como prioridades "questões de participação e reconhecimento das mulheres". Além disso, "o desejo por uma maior presença das mulheres em posições de responsabilidade e governança surgiu como elemento crucial".

O documento de trabalho para a reunião — um texto que os participantes têm usado como pauta para as discussões— afirma que a igreja deve rejeitar "todas as formas de discriminação e exclusão enfrentadas pelas mulheres na Igreja".

Muitas das pesquisas globais, bem como as de alguns países, também pediram que a diaconia feminina fosse considerada. "É possível contemplar isso, e de que maneira?" é uma das perguntas do documento.

Se as deliberações na sala do sínodo realmente se transformarão em recomendações concretas de mudança ainda está por ser visto.

Em um papado de 10 anos, Francisco abriu algumas portas dentro da Igreja para as mulheres. Ele emitiu uma carta em 2020 que dizia que as mulheres deveriam ter papéis mais formais; no ano seguinte, ele mudou as leis para permitir formalmente que as mulheres fizessem leituras bíblicas durante a missa, atuassem como coroinhas e distribuíssem a comunhão.

Francisco também colocou mulheres em diversos cargos do Vaticano, e em uma medida acolhida por grupos femininos, nomeou a irmã Nathalie Becquart, da França, como uma das principais autoridades do sínodo. No entanto, alguns críticos têm classificado as nomeações e a participação das mulheres no sínodo como mera maquiagem.

— A inclusão de um pequeno grupo de mulheres, muito propagandeada, apenas destaca o desequilíbrio de gênero no cerne da Igreja — disse Mary McAleese, ex-presidente da Irlanda, na semana passada durante um encontro de católicos progressistas em Roma. — A igualdade é um direito, não um favor. As mulheres que participam do Sínodo sobre a Sinodalidade estão lá como um favor, não como um direito.

Defensores do empoderamento das mulheres reconhecem que a resistência a mudanças significativas no papel das mulheres é profunda na liderança da Igreja, não apenas entre os conservadores. No entanto, argumentam que as mudanças na sociedade já estão sendo refletidas entre os católicos leigos e só aumentarão, tornando mudanças formais mais necessárias para a sobrevivência da Igreja.

— Claramente, a Igreja está mudando de baixo para cima, mesmo enquanto reafirma sua inalterabilidade — diz a irmã Joan Chittister, uma conhecida freira, feminista e estudiosa americana, que há muito tempo pede que a Igreja capacite as mulheres e os leigos, cujo discurso de abertura em um evento progressista, apresentado como um sínodo alternativo na semana passada, terminou com um grito de guerra: — Se o povo de Deus liderar, os líderes seguirão.

Catherine Clifford, uma teóloga que leciona teologia sistemática e histórica na Universidade de São Paulo, em Ottawa, Canadá, e participante do sínodo deste mês, afirma que dentro da sala, foi "um desafio, às vezes, convencer alguns dos bispos da necessidade urgente de mudanças substanciais em relação à inclusão das mulheres em liderança, ministérios e instâncias de tomada de decisão".

"Embora haja uma surpreendente abertura para considerar esses assuntos, também há um peso de inércia a ser superado", ela escreveu em e-mail.

Permanecem profundas divisões mesmo entre as mulheres em relação à ordenação de mulheres como diaconisas. Diretora da Escola de Filosofia e Teologia da Universidade de Notre Dame Austrália, Renée Köhler-Ryan, que é cética sobre a ordenação de mulheres diaconisas, disse aos repórteres que "muita ênfase" foi colocada na questão.

— Isso distorce todas as outras coisas que poderíamos estar fazendo — afirmou.

Ainda assim, outros, como Jeppesen-Spuhler, disseram estar otimistas sobre o futuro da igreja e sobre o papel das mulheres nela.

— Tenho a impressão de que realmente tudo está em discussão — diz ela. — A questão é até que ponto iremos, realmente daremos passos mais concretos? Isso é o que é interessante, mas tenho um sentimento muito positivo.

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