O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dar um "pito" nos seus ministros na manhã desta quinta-feira, em solenidade de lançamento do Plano Juventude Negra Viva, em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. A iniciativa é coordenada pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e por Márcio Macedo, da Secretaria-Geral.
Ao discursar, Anielle se antecipou ao assunto e disse que iria explicar "direitinho" o que era o plano, para que as pessoas pudessem entender. Trata-se de um pacote de 217 ações, com a participação de vários ministérios e foco em políticas sociais e de segurança pública.
Lula, então, falou sobre a obrigação de dar visibilidade às políticas do governo. O presidente chegou a se queixar do papel da imprensa na cobertura do governo.
— Esse é um programa muito complexo, porque envolve 18 ministérios. O nome é pequeno, mas a complexidade é muito grande. Ao fazer uma lei, um decreto, uma portaria, nada disso é totalmente suficiente se vocês não entenderem para que serve a política que estamos anunciando — disse Lula.
Também estiveram no local os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Marina Silva (Meio Ambiente), Fufuca (Esporte) e Margareth Menezes (Cultura).
Lula também falou sobre a necessidade de transformar o plano em uma política "transversal".
— Todo mundo aqui (ministros) tem obrigação de colocar esse Plano da Juventude Negra Viva no cotidiano da vida de vocês — disse Lula, que acrescentou: — Tem que viajar cada cidade desse país para o povo saber que tem esse programa.
Inconformado com a publicidade das ações, o presidente criticou ainda a imprensa por supostamente não divulgar ações do governo. Em reunião ministerial, realizada na segunda-feira, o petista já havia manifestado contrariedade sobre o assunto.
— Quando hoje a noite ou amanhã, qualquer um de vocês (jovens da plateia) for encontrar com a namorada ou o namorado, pode se encontrar, dar um beijinho, mas depois diz: "hoje eu fui no lançamento do Plano Juventude Negra Viva". E pode explicar para o parceiro o que é o programa porque, se depender da nossa gloriosa imprensa democrática, vocês não saberão do programa, vai depender muito de vocês.
O evento ocorreu em um ginásio da periferia de Brasília. Enquanto Lula discursava, uma parte dos estudantes, que participavam da solenidade, começou a deixar o local, enquanto outros permaneceram para ouvir o discurso do presidente.
Ao fim do evento, Márcio Macedo explicou que o atraso da solenidade fez com que parte dos convidados deixassem o ginásio antes do término e os alunos da rede pública precisavam ir para a aula.
— Não tínhamos o direto de pedir para ficar — disse o ministro.
''Extermínio da juventude negra'
Em seu discurso, Lula afirmou que é importante instituir uma política nacional para evitar o "extermínio" da população negra.
— Não podemos assistir apáticos ao extermínio da juventude negra do nosso país. Queremos nossos jovens vivos, com todas as oportunidades que eles têm direito. Queremos um país com mais justiça social, menos desigualdade e nenhum tipo de discriminação — disse Lula.
Ele também citou o caso do jogador do Real Madrid Vinicius Jr., alvo de racismo em jogos na Europa.
— Assistimos um dos jogadores de futebol brasileiro mais importante do mundo, que joga no time mais importante do mundo, o Real Madrid, o jovem Vini Jr., ser acusado, difamado, achincalhado dentro dos estádios na Espanha, que é um país considerado rico, civilizado. A questão do racismo ainda parece que não saiu de uma cabeça de uma sociedade branca, que tem a ideia fixa de que a supremacia de tudo é branca e que o negro é cidadão de segunda classe.
O plano nacional tem previsão de investimentos de R$ 665 milhões até o fim do primeiro mandato de Lula, embora a política esteja ancorada em metas pelos próximos 12 anos.
Parte das iniciativas já existem e são debatidas no âmbito de outras pastas, mas terão acompanhamento das ações pelo recorte da política racial. Um dos exemplos é a elaboração de diretriz nacional, pelo Ministério da Justiça, que recomenda o uso de câmeras em uniformes de forças de segurança.
Outra meta criar uma bolsa de estudos de R$ 500, durante um ano, aos jovens negros que passem por cursos de capacitação em institutos federais. Já na área da Saúde, um dos focos é criar uma atenção especial à saúde mental de jovens negros.
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