RIO — O Museu Nacional , na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, que é consumido por um incêndio de grandes proporções na noite deste domingo, já vinha sofrendo de problemas na sua infraestrutura pelo menos desde 2016, segundo relatório interno. Em junho deste ano, o BNDES assinou um contrato de financiamento de R$ 21,7 milhões para restauração do local, e uma parcela da verba deveria ser investida em segurança contra incêndio.
Além disso, os recursos seriam destinados para uma reforma da biblioteca, localizada no Horto Botânico, e para a restauração de estruturas como o telhado do museu e os aposentos do imperador Dom Pedro II.Antes uma vitrine do Império, o museu — fundado em 1818 por D. João VI e desde 1946 vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro —, vinha sofrendo de goteiras, infiltrações e outros problemas gerais, segundo apontou relatório de 2016 da Biblioteca do Museu Nacional.
"O prédio da Biblioteca continua sofrendo com goteiras e infiltrações, principalmente na área de guarda do acervo; há morcegos e gambás nos forros e ferrugens nos ferros expostos das marquises, convivendo servidores e usuários com plásticos pretos sobre estantes inteiras e baldes por praticamente todos os espaços, dejetos de animais sobre as paredes e estantes e o risco de gesso ou pedaços de concreto caírem sobre alguém ou equipamentos", diz o relatório publicado em agosto de 2017 em referência ao ano anterior.
LEIA MAIS: 'Tragédia no Museu Nacional poderia ter sido evitada', diz ministro da Cultura
‘Só temos verba para medidas paliativas’, diz diretor do Museu Nacional
Anteriormente, em entrevista ao GLOBO de fevereiro , o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, dissera que a instituição precisava de mais verbas para reformar o prédio. "O maior problema são as goteiras. Ficamos preocupados quando cai uma tempestade porque só temos verbas para medidas paliativas de prevenção", disse o paleontólogo na entrevista.
A assessoria do Museu Nacional informou neste domingo que ainda não está claro o que deu início ao incêndio, sendo necessário esperar o trabalho dos bombeiros para obter mais informações. Embora domingo seja um dia de visitações frequentes, o museu fechou às 17h e, neste horário, não há mais ninguém no local além dos funcionários de segurança. No momento em que as chamas começaram a se alastrar, havia quatro vigilantes no prédio.
Os três andares do palácio abrigavam um acervo de 20 milhões de itens, incluindo documentos da época do Império; fósseis; coleções de minerais; artefatos greco-romanos; e a maior coleção egípcia da América Latina. Dentre seus itens mais conhecidos, estavam o esqueleto de um dinossauro encontrado em Minas Gerais e o mais antigo fóssil humano descoberto no atual território brasileiro, batizado "Luzia". Trata-se da instituição científica e do museu mais antigos do Brasil, tendo neste ano completado seu bicentenário. A visitação média mensal é de 5 a 10 mil pessoas.
A vice-diretora do Museu Nacional, Cristiana Cerezo chegou ao local muito emocionada e chegou a se atirar ao chão. Ela afirma que havia muitos produtos inflamáveis no interior do prédio.
— Havia muitos produtos que poderiam causar incêndio, a gente tinha um plano pra evacuar essas substâncias do Museu, mas infelizmente isso aconteceu — disse. — A gente estava trabalhando com a atualização da prevenção de incêndio, realizando treinamentos, é muito triste.
Em nota, o presidente Michel Temer se manifestou sobre o incêndio: "Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia de nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros".