Residência da tradicional família Guinle por anos, a maior cobertura do país, que fica na Praia do Flamengo, Zona Sul do Rio, e está à venda por R$ 59 milhões, além de receber a alta sociedade carioca, já foi locação de diversas filmagens de novelas, filmes e séries. Enquanto não é vendido, o imóvel de 3.900 metros quadrados de área, que foi comprado pelo empresário José Carlos Fragoso Pires em 1990 e vem sendo negociado por sua viúva, também é alugado para eventos de luxo, com diárias a partir de R$ 50 mil.
Localizada no edifício Tucumã, a cobertura possui quatro andares. Os dois últimos, destinados às áreas sociais, são alugados, eventualmente, apenas para filmagens e eventos. A última produção filmada no local foi a série "Dom", que é exibida pelo Prime Vídeo. O suntuoso imóvel também serviu de cenário para novelas da TV Globo, como "O outro lado do paraíso", exibida entre 2017 e 2018, além de produções do cinema nacional.
Maior cobertura do Brasil tem queda no preço e é anunciada a R$ 59 milhões
Responsável pela venda da cobertura desde 2019, o corretor de imóveis de luxo Henrique Martins conta que o espaço atrai interessados e curiosos do país e do mundo todo:
— Quando assumi a corretagem desse imóvel de alto padrão, fiz um vídeo com drone, postei nas redes, mas nem cheguei a impulsionar a publicação. Fui dormir, e, quando acordei já tinha mais de 200 mil visualizações. Viralizou. Na ocasião, não conseguia nem trabalhar, atendendo ligações do Brasil inteiro e de fora do país. Trata-se de um imóvel fora da curva. Não existe nada igual no Rio, talvez nem no país. A impressão é que você está em uma casa. Tem até uma estrutura de churrascaria dentro da cobertura, spa com duas salas de massagem, além dos espaços sociais que abrigam festas suntuosas — detalha o corretor.
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Sobre questionamentos a respeito do valor de venda, que estaria acima dos preços de mercado, o profissional defende que a cifra definida pela proprietária para o imóvel não pode ser comparada com a tabela de outros apartamentos de luxo da cidade:
— Se for dividir o valor por metro quadrado, está muito acima do preço de mercado, mas o apartamento é bem diferente de qualquer coisa que se tenha no Rio. Então, não dá para comparar com nada — diz.
Os andares do interminável apartamento são interligados por uma escada em forma de caracol, de mármore trazido da Europa, assim como o revestimento travertino (um tipo de mármore) das colunas na portaria do edifício. Lá no alto, o luxo espalha-se por cinco quartos, ambiente com pé-direito de 5,20 metros, salas de jantar, de estar e de jogos, além de piscina, duas saunas, jardim suspenso com árvores frutíferas, bar e adega.
— Praticamente tudo que está ali veio da Europa: as estátuas, mudas de planta, todo o mármore da casa. Eu lembro da torneira dourada do lavabo, que tinha uma ave lindíssima desenhada. A cuba era toda de latão martelado à mão — conta Carlos, sem disfarçar a saudade da bagunça que fazia: — Descia a escada escorregando de pijama até lá embaixo. Meu pai ficava desesperado.
Na rotina da família Guinle, as crianças faziam as refeições na copa: a sala de jantar era exclusividade dos adultos.
— Na sala de jantar aconteciam os negócios, os assuntos eram todos “de adulto”, a gente não participava. As únicas ocasiões em que jantava todo mundo na sala eram Natal e Ano Novo. Depois do jantar, eles iam para o salão fumar charuto, não tinha a ver criança estar com eles — relembra Carlos Guinle.
Celebridades no salão
Festas black tie eram frequentes na cobertura, que tem elevador e garagem privativos. Jorginho recebeu celebridades nacionais e estrangeiras em seus salões — chegou a hospedar o beatle George Harrison, em passagem pelo Rio.
— Era meio hipnótico sentar e conversar com ele. Meu tio era um poço de cultura sobre arte, música. Na década de 40 ele promovia jam sessions por lá, reunia amigos para ouvir um som e beber. Meu avô era muito amigo do (cantor e compositor) Dorival Caymmi, eles fizeram algumas parcerias nesses encontros. “Sábado em Copacabana” foi uma delas — rememora o neto orgulhoso.
Filha de Jorginho, Georgiana Guinle não chegou a morar na cobertura, mas a frequentou durante a infância. Segundo ela, sua mãe, Ionita Salles Pinto, não quis morar na cobertura por achá-la “grande demais”.
— A mamãe era meio refratária à ideia de morar lá, ela dizia que se sentia asfixiada por aquela imensidão, mas eu frequentava a cobertura todos os dias, ia brincar no jardim, que tinha um parquinho completo, e ia nas festas também — conta Georgiana, antes de recordar o folclore local: — Uma estátua gigantesca de mármore no canto do jardim era bem assustadora, apavorava as crianças. Alguns funcionários contavam que viam vultos e até ouviram o piano tocando sozinho.
‘Um imóvel especial’
O tríplex foi vendido para o empresário José Carlos Fragoso Pires na década de 1990 e, hoje, sua viúva busca negociá-lo. O valor, mesmo após o abatimento mais recente, está acima do praticado pelo mercado, na avaliação do corretor Claudio Castro.
— É um imóvel antigo, maravilhoso. O primeiro andar parece um palácio italiano, mas os demais já têm decoração mais dos anos 80 e 90. É importante notar que o andar do terraço já é mais de hoje em dia, dos anos 80, precisa de muita obra. É uma beleza, mas não é o gosto das pessoas hoje em dia. Quem tem recursos para comprar esse tipo de imóvel procura mais na orla de Copacabana, Ipanema e Leblon — avalia.
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O corretor faz questão de ressaltar, no entanto, a importância histórica do imóvel.
— É um imóvel muito bom, especial, mas, na nossa opinião, não vale mais do que R$ 20 milhões. Isso não anula a evidência de que se trata de um dos mais emblemáticos endereços da cidade do Rio de Janeiro — analisa Castro. — O fato de não valer esse preço não tira seu mérito, que é o de mostrar que a cidade é viva e guarda uma rica história, atravessada pelas histórias das famílias Guinle e Fragoso Pires, nomes tradicionais da alta sociedade carioca.
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