Quando algum fator externo afeta uma pessoa, o corpo reage. O mesmo vale para um grupo, um condomínio, uma comunidade e até uma cidade. “Mormaço” explora essas reações, aproximando a realidade recente do Rio de Janeiro de uma fantasia imaginada pela diretora e roteirista Marina Meliande em parceria com o corroteirista Felipe Bragança.
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Na trama, a defensora pública Ana (Marina Provenzzano) atende moradores da Vila Autódromo, uma comunidade ao lado do Parque Olímpico, que foi parcialmente removida pela prefeitura do Rio a fim de “preparar” a cidade para os jogos de 2016. Essa parte da história, a de luta de pessoas por seu espaço, realmente aconteceu — e “Mormaço” utiliza, até, cenas reais da desocupação.
A partir daí, o filme acrescenta outro enredo: ao mesmo tempo em que defende a comunidade, Ana também tem seu próprio apartamento de classe média ameaçado por uma construtora que quer comprar o edifício para substituí-lo por um hotel de luxo. Em meio a tudo isso, o corpo de Ana e o prédio em que mora reagem, com uma doença misteriosa e eventos sobrenaturais que servem como metáfora de um desequilíbrio social vivido pelo Rio nos últimos anos — por especulação imobiliária, pela falta de cuidado com comunidades carentes etc.
“Mormaço”, assim, contrapõe diferentes mundos, com muita precisão em inserir os elementos fantásticos na realidade da cidade. A ambientação deste Rio de contrastes é um de seus pontos fortes.