[...] tema romântico [...] do amor culpado, centro de interesse deste romance evocativo da vida social e política do burgo portuense, agitada pelos motins dos mesteirais, que, apoiados pelo Rei Justiceiro, lutam contra o senhorio feudal «dum bispo despótico e perverso.»
Júlio Ramires Ferro Dicionário de Literatura. Porto: Figueirinhas, 1984
O Arco de Sant'Ana [é um r]omance histórico [...] A intriga, baseada num trecho da Crónica de D. Pedro I, de Fernão Lopes, decorre [...] no Porto medieval, evocando a vida social e política do burgo, agitada pelos motins do povo, representado pelos mesteirais, conduzidos pelo jovem Vasco e apoiados pelo rei D. Pedro, em luta contra a oligarquia política, encarnada no Bispo, senhor feudal perverso e déspota, e nos seus acólitos, em especial Pero Cão, cobrador de impostos. Como os leitores da época compreenderam e os críticos têm vindo a salientar, Garrett recriava no século XIV os conflitos políticos e religiosos que eram os da sociedade do seu tempo, nomeadamente a reação cabralista, apoiada pela Igreja, que visava dissolver o liberalismo e restaurar o poderio eclesiástico.
O Arco de Santana. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-01-18]. Disponível na www:
Almeida Garrett escreveu o que alguns estudiosos consideram ser «a primeira descrição do acto sexual» na literatura portuguesa (em O Arco de Sant'Ana, quando Ester sonha que é violada pelo futuro bispo)
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett e mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett, (Porto, 4 de fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, par do reino, ministro e secretário de estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.
O Arco de Sant'Ana is a historical novel written by Almeida Garrett. In the 14th century, it took place in the shadow of the arch of the same name on Rua de Santana in old Porto, on the way to the Cathedral. In the time when the Bishop of Porto he was king and lord of his feud, he allowed himself, after an attempt to seduce the young mother, Aninhas, whose husband, Afonso, was absent, to have her kidnapped by his henchmen headed by the chief of guard Pêro Cão. Having the neighbour friend Gertrudes, the girlfriend of the bishop's protégé, the young student Vasco, given the alarm and ordered him to seek help from el-rei D. Pedro. The young man went, in his sorrel, to Gaia where the witch Guiomar, who will come to be known as his mother, who conceived him on a night of terrible memory, abused by the current bishop. Then a knight who had been wounded in the civil war and had been collected, on death's doors and treated by the father of Jewish Guiomar, the physicist Abraão Zacuto. The people revolted and surrounded the episcopal palace to demand the release of Aninhas. Vasco was ahead of the contenders, and then it is revealed that the bishop is his parent. In the meantime, the king emerges from the crowd. And imposing his justice, with the whip expelled the unworthy bishop from the kingdom. Pêro Cão found hanging from a sterile fig tree. D. Pedro sponsored Vasco and Gertrudes' wedding. Afonso returned home and promised not to leave the beautiful Aninhas alone.
What an oddly enjoyable story. A typical romance with a most unlikely point of view.
El arco de Sant’Ana was one of the four gates of the old part of Porto, Portugal. Originally Roman, it was renovated by the Bishop in the 12th century. It was steep and very narrow. The arch was torn down in 1821. You can see images on this link:
A young man, Vasco is in love with beautiful Gertrudes. Oh, the woes of young love. Vasco works for the Bishop of Porto, Portugal. One thinks that religion would get in the way of their love story.
Nope. You see, the Bishop is oppressing the people, who live under his harsh punisher, a man called Pêro Cão. The people have their faith in the king, who will set things straight. However, things close to home are under attack. Ester, Also known as the witch Guiomar, who is also Jewish, is condemned to be burned at the stake. The Bishop has his eyes on fair Aninhas, neighbor of Gertrudes. When Aninhas is taken prisoner, even Gertrudes is opposed to the Bishop. And Guiomar has a secret to share with Vasco.
Something is under way and our sleepy Vasco needs to wake up.
A lot is happening. Revolution, think Zola; communism, think Marx. Hey, there is even a mention of Niagara Falls in America? Even Cervantes is tossed around a bit.
Fact check. The King is dom Pedro I, who lived 1320 to 1367. Although our story is set in the 14th century, Almeida Garrett is addressing the audience of 1850. I have to admit, it was both enjoyable, knowledgeable, and a little preachy.
The story is melodramatic at best and predictable at worst. Still, an enjoyable romp through another page in Portugal’s past.
I discovered that it was made into a play as well as an opera. In some ways, it reminded me of “Les Misérables” by Hugo, especially the street uprising scenes. In fact, I wouldn’t mind seeing an opera version of this story - it has those grand elements at play.
A special thanks to Luís for pointing me in this direction.
É impossível não gostar de Almeida Garrett. Apesar de a poesia do autor ser a mais estimada no meu coração, a sua prosa é igualmente fantástica. Esta anedota histórica é um retrato cómico do século XIV, em especial no que diz respeito aos conflitos religiosos e políticos. As personagens são todas interessantes, especialmente Pêro Cão, a minha personagem preferida de toda a obra. Ao ler esta obra notamos que o narrador está presente na acção, sempre pronto a dar a sua crítica ou informação adicional à cena que narra. Lembra-me muito o narrador de "a queda dum anjo", de Camilo Castelo Branco.
I liked the story, but the way it was writen... I was always feeling confused and getting bored of the reading. I discovered latter this was based on real events, but Herculano used his imagination in some parts. He treated Ana as an angel character, pure and simple until the end. Herculano treated king Pedro as the good guy in this story when in real life he was kind like what we call a bastard.
The story dignifies Porto and its inhabitants. It's a good story for those who like happy endings, war, battles, kings and winning against all odds. It's also a good story for those who like Porto.
Depois de ter sido torturada pelas Viagens na Minha Terra durante o meu percurso escolar, tinha pouca vontade de me aventurar em mais obras de Almeida Garrett. Mas tendo em conta que é um romance histórico, decidi tentar e fui agradavelmente surpreendida. A história em si é simples, tão simples como a da Joaninha, mas o livro está povoado de à partes, alguns dos quais muito humorísticos e que refletem o período do século XIX em que foram escritos. Críticas aos políticos e aos clérigos abundam e o tom jocoso é absolutamente delicioso.
"E vinham as queixas dos tributos, e o tão geral quanto desigual das vexações, e tudo o que, nas breves horas da ascendência popular, costuma vir sempre à colação, porque o instinto diz aos perpetuamente oprimidos que é preciso aproveitar a hora da vingança e do castigo, que a opressão dura séculos, e a liberdade é de instantes."
É a primeira vez que leio a prosa de Almeida Garrett. 1. Adoro que a narrativa decorra na cidade do Porto. 2. Gosto da escrita e das personagens. 3. Acho uma história típica do seu tempo, pertencendo à corrente romântica. Peca por isso. 4. É visível a teatralidade das personagens e do assunto. Nota-se que Garrett escreve peças de teatro. 5. Uma leitura emocionante. Isto é, as personangens são poços de emoções e comoções. 6. E há coisas que nunca mudam. Há cenas do povo a protestar contra a corrupção e abuso de poder. Tema sempre actual.
Estou interessada no livro "As Viagens na Minha Terra". E talvez releia "Folhas Caídas".
Ficam explícitas [...] n' O Arco de Sant’Ana, muitos dos problemas sociais da Idade Média. A maestria de Almeida Garrett consistiu, justamente, em questionar os valores medievais, incitando a responsável pelas mazelas e barbaridades cometidas nesse tempo: a «oligarquia eclesiástica», segundo as palavras do próprio escritor. Trata esse romance de um «sobreaviso» contra a classe eclesiástica que, segundo Garrett, estava enfraquecida no século XIX, mas representava, ainda, perigo, pois não perdera seu caráter nocivo. Não podemos perder de vista também a reflexão de Garrett acerca dos anseios do homem romântico.
Assim, sob a «historinha» de Aninhas, mulher sequestrada pelo bispo e resgatada porque o povo, unido ao rei e ao seu herói Vasco, consegue vencer o autoritarismo do personagem, há uma crítica pertinaz que nos chega por meio de um discurso sub-reptício.
É interessante notar, finalmente, o quanto esse «realismo», ou seja, essa crítica ferrenha, encontra-se entremeado pelo sonho, pelo romantismo. Talvez Garrett tenha realizado na literatura o que era, de fato, impossível na realidade: o sonho de ver, um dia, uma sociedade atraiçoada e oprimida driblando, conscientemente, todas as «más inclinações» à sua volta e conquistando os seus direitos.
Como observamos, tais reflexões acontecem nos momentos em que a narrativa pára, ou seja, são instantes em que o narrador se vale da ironia romântica. [...]
Como um homem do século XIX, Garrett utiliza a estratégia da ironia romântica, a fim de que, confrontado com essa obra, o leitor possa refletir sobre as possíveis relações entre a obra ficcional e a realidade concreta ou histórica. Nisso reside, pois, a maestria desse escritor, que conseguiu unir o singelo – a «historinha» de um herói, uma mocinha e um vilão – a uma crítica extremamente pungente.
Nunca tinha lido nada de Almeida Garret e comprei este livro por impulso quando o vi a 75 cêntimos numa feira do livro. Foi com grande prazer que me embrenhei na leitura de tal forma que fiquei acordada até às quatro da manhã só para o acabar... :rolleyes: Almeida Garrett conta aqui uma história, verídica, segundo ele, de uma sublevação popular no Porto quinhentista, à volta de um bispo pouco escrupuloso, uma honesta dama raptada, um estudante que se faz herói, mães perdidas e reencontradas e el-rei D. Pedro, o Cru. E claro, o Arco de Sant'Ana, que testemunhará quase todos os momentos mais importantes da narração. O que me deu mais gosto foi conhecer um Porto ao mesmo tempo diferente e igual àquele que percorro todos os dias.
Efetivamente Garrett ama o seu país, a história e a cultura portuguesas. É bonito ver a paixão com que defende o património histórico, como a Porta ou Arco de Sant'Ana retratado neste romance. O autor faz referência a várias obras literárias mostrando assim a sua educação e cultura, fala do papel dos judeus na sociedade e do descontentamento do povo em relação à oligarquia do clero portuense. Recomendo a sua leitura!
Um livro que me surpreendeu bastante pela positiva. Um livro de fácil leitura e que conta a revolta dos populares no Porto, no reino de D. Pedro, o Justiceiro, contra o clero - que tudo podiam e nunca eram punidos. Livro que recomendo ;)
Almeida Garrett é dos autores que mais venero! Espero ler este romance em breve e deliciar-me com a sua escrita, que vai com tudo, seja poesia, prosa ou drama!