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Taylor Jenkins Reid, autora do best-seller ‘Os sete maridos de Evelyn Hugo’, fala de sua neurose com as redes

‘Depois que publica no Instagram, não tem como voltar atrás’, diz autora que tem quatro adaptações de seus livros para filmes e séries em andamento
Taylor Jenkins Reid Foto: Deborah Feingold / Divulgação
Taylor Jenkins Reid Foto: Deborah Feingold / Divulgação

O nome do momento da literatura pop é Taylor Jenkins Reid.  Além de três dos sete livros da autora norte-americana, de 37 anos, terem destaque nas redes sociais este ano no Brasil, um deles, “Os sete maridos de Evelyn Hugo”, conquistou seu espaço na lista de livros de ficção mais vendidos. Desde abril, o título aparece na relação. Em junho, estava entre os dez primeiros; em julho, alcançou o top três e não saiu de lá. E é o quinto livro de ficção mais vendido do ano no país. Nos EUA, aparece na lista de best-sellers do New York Times.

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As sete histórias escritas por Taylor — seis delas publicadas pela editora Paralela e uma pela Record — têm como personagens principais mulheres fortes e complexas e podem ser divididas em duas fases: os quatro primeiros livros focam em questões cotidianas, enquanto os três últimos são ambientados no mundo glamouroso de Hollywood das décadas de 1960, 1970 e 1980. Em entrevista ao GLOBO via zoom, a autora adianta que já está escrevendo o quarto livro que completa essa série e diz que o único spoiler que pode dar é que se passará nos anos 1990.

Além de ter sido indicada ao Goodreads Choice Awards em 2017 por “Os sete maridos de Evelyn Hugo” e de ter vencido o prêmio, em 2019, com “Daisy Jones & The Six”, quatro adaptações de seus livros para filmes e séries já estão em andamento. No início deste mês, a série baseada em “Daisy Jones & The Six”, comprada pela Amazon e que tem na produção executiva Reese Witherspoon, começou a ser gravada.

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Taylor conta que sua melhor amiga é brasileira — assim como a de sua personagem em seu primeiro livro publicado, "Para sempre interrompido” — e que, por isso, tem um carinho especial pelo Brasil. Ela diz que não vê a hora de vir para cá e conhecer os cantos de São Paulo que sua amiga tanto fala.

Você começou trabalhando com casting. Como a escrita tornou-se uma opção de carreira?

Eu sabia que queria estar envolvida em histórias, mas não tinha certeza como. Quando arrumei o emprego em casting e comecei a ler roteiros, senti que eu queria ser a pessoa que cria uma história. Comecei escrevendo pequenas coisas que aconteciam comigo durante o dia e mandava por e-mail para os amigos, depois comecei a postar em fóruns, percebi que eu realmente amava escrever e decidi que começaria por um conto, que acabou virando um romance.

E esse processo entre descobrir que queria escrever e de fato ser publicada demorou quanto tempo?

Em 2008 decidi que escreveria o conto e prometi para mim que no final do ano ele estaria pronto. Mas, como ele se tornou um romance e eu acabei procrastinando, escrevi a maioria do fim do livro na véspera do ano novo. Eu digitava frenéticamente porque eu queria terminar e ir para a festa. Terminei, mas esse não foi publicado, escrevi outro que foi comprado em 2012 e publicado em 2013.

Esse foi o "Para sempre interrompido?"

Isso mesmo.

Qual foi a maior dificuldade que você precisou enfrentar para chegar aqui hoje?

Tiveram inúmeras vezes que a coisa mais inteligente a se fazer era desistir. Meu primeiro livro não quiseram publicar, o segundo foi negado por várias pessoas. Eles não gostaram e achavam que eu devia desistir dele, mas eu não escutei. Escolher não escutar as pessoas foi muito difícil, é preciso muita força.

Dá para dividir seus livros em dois grandes temas. Os quatro primeiros com histórias cotidianas e os outro três com fama e o glamour da vida de Hollywood envolvida. Como esses dois universos se encontram e por que decidiu mudar de direção?

Acho que é importante que eu escreva porque eu tenho coisas a dizer e, quando eu cheguei no final de "Amores Verdadeiros", eu já tinha escrito quatro naquele espaço cotidiano. Mulheres jovens, entre 20 e 30 anos, enfrentando um dilema.  Os dois “sets” de livros são como dois lados de mim. Eu sempre fui intrigada pela fama, pelo glamour e o poder que isso tem às vezes. Parecia um lugar novo para explorar e é interessante porque eu tive três livros nessa contexto e um quarto sairá em breve. Já estou me questionando de novo “ainda tem algo que eu possa dizer nesse espaço ou tem um lugar novo que eu possa entrar?"

Pode nos contar um pouco sobre o livro novo?

A única coisa que posso dizer agora é que eu vejo " Os sete maridos de Evelyn Hugo", "Daisy Jone & The Six", "Malibu Rising" e esse próximo como um quarteto. Eles se passaram nos anos 1960, 1970, 1980 e, agora, 1990.

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Todos os seus livros têm mulheres fortes vivendo em suas complexidades. Você acredita que ter personagens principais femininos ajudam no processo de empoderamento?

Me deixa muito feliz saber que alguém se sente menos sozinha quando Evelyn Hugo, Daisy Jones ou Nina Riva ( personagens de seus livros ) existem. É um sonho realizado poder contribuir e mostrar para mulheres que está tudo bem amar quem elas quiserem e que suas vozes merecem ser ouvidas.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser mulher no mercado editorial?

Com certeza, aqui nos EUA, gênero realmente entra em jogo quando falamos de literatura. Existem expectativas de que meu trabalho não é interessante para um homem porque foi escrito por uma mulher ou é sobre uma mulher. Nós ensinamos aos homens que eles não precisam se interessar por histórias de mulheres e, para isso mudar, acho que temos que mostrar para eles que essas histórias são relevantes para eles também. Eu não sei como fazer isso exatamente, mas acho que tornar isso algo legal é, provavelmente, um bom começo.

Como mulher, mãe e uma pessoa que escreve sobre mulheres, o que gostaria que mudasse na sociedade, para elas?

Tem muitas coisas que eu gostaria de ver mudar, para os intersexuais, paras mulheres de cor, mulheres queer. Muitas coisas queria ver diferente, mas no fim do dia eu sou apenas uma escritora e o que eu posso fazer é colocar em evidência o maior número de versões possíveis de uma pessoa. Eu quero que meus leitores entendam que está tudo bem amar quem eles quiserem, querer ser mãe, ou não querer, está tudo bem ser mãe e dona de casa ou trabalhar. Existem milhares de maneiras diferentes de ser mulher. E, normalmente, está implicito na narrativa que se a mulher escolhe uma coisa, ela autmaticamente nega a outra e eu não acredito nisso. Podemos todos ser incrivelmente diferentes e apoiar as decisões umas das outras. Eu, pessoalmente, sempre tento mostrar que todas escolhas são boas e esse é meu pequeno pedaço no mundo que posso contribuir.

Sobre as adaptações para filmes e séries, o quanto você está envolvida?

Estou envolvida em vários níveis diferentes, dependendo do projeto. Começamos a gravar o filme “Amores verdadeiros” esta semana e eu escrevi o roteiro deste junto com o meu marido. Na série “Daisy Jones & The Six” eu sou produtora, mas eles têm tudo sob controle e não precisam de mim. Ainda não posso falar muito sobre o projeto que envolve “Os sete maridos de Evelyn Hugo”, mas vai acontecer e é um bom plano. Tem sido bem divertido escolher quais trabalhos em Hollywood quero fazer (risos).

Seu trabalho viralizou nas redes sociais, como é sua relação com esse mundo digital?

Eu fico muito honrada que o pessoal nas redes ame “Os sete maridos de Evelyn Hugo” e que usem esse meio para falar sobre a história. Mas eu, pessoalmente, tenho uma relação complicada. Só tenho conta no Instagram e estou sempre me perguntando se tenho certeza que quero postar algo porque depois que publica não tem como voltar atrás. Sou até um pouco neurótica ao me fazer essa pergunta o tempo todo.

Você tem alguma dica para quem está começando a escrever?

A coisa mais importante é escrever sobre algo que você é realmente apaixonado e somente você pode escrever. Tem que acreditar no seu trabalho, então encontre uma história que acredita de todo coração. Vai fazer o resto ficar muito mais fácil.