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Economia Investimentos

Investimento de Buffett no Nubank realça revolução tecnológica do setor financeiro no Brasil, dizem analistas

Aporte de US$ 500 milhões do bilionário americano chama a atenção para as fintechs brasileiras, que devem ganhar mais espaço com o 'open banking'
Warren Buffett, o megainvestidor no Olimpo dos bilionários aos 90 anos Foto: DREW ANGERER / AFP
Warren Buffett, o megainvestidor no Olimpo dos bilionários aos 90 anos Foto: DREW ANGERER / AFP

SÃO PAULO - A decisão da Berkshire Hathaway, veículo de investimento do megainvestidor Warren Buffett, de investir US$ 500 milhões (o equivalente a pouco mais de R$ 2,5 bilhões) no Nubank foi vista pelos analistas de mercado como um selo de qualidade para o banco digital. Mas essa chancela também pode ser estendida à revolução digital por que passa o setor financeiro no Brasil, avaliam analistas.

O crescimento exponencial das start-ups financeiras, as fintechs, em tão pouco tempo revelaram o potencial da digitalização financeira no Brasil.

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O sucesso de bancos digitais como Nubank, Inter, C6 ou da corretora XP Investimentos forçou os grandes bancos tradicionais a investir também em operações digitais para recuperar terreno.

A chancela de Buffett, um dos homens mais ricos do mundo aos 90 anos e dono de uma reputação de hábil investidor, tende a valorizar ainda mais as fintechs no país.

Cristina Junqueira, cofundadora e CEO do Nubank no Brasil Foto: Arquivo/Divulgação
Cristina Junqueira, cofundadora e CEO do Nubank no Brasil Foto: Arquivo/Divulgação

Particularmente as centradas na experiência do usuário, aponta Ricardo Taveira, fundador e CEO da Quanto, plataforma que apoia instituições financeiras na transição digital.

A exemplo do Pix, o sistema de transferências instantâneas, o open banking é uma iniciativa do Banco Central para aumentar a concorrência no setor bancário — historicamente concentrado no Brasil — por meio do compartilhamento de dados dos correntistas.

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Desde fevereiro, quando começou a primeira fase do sistema, dados públicos, como condições de contratos e taxas de juros, já são compartilhados entre concorrentes.

De acordo com o Banco Central, ao longo do ano, mais três etapas serão cumpridas.

A expectativa é que, a partir de agosto, já seja possível que as instituições financeiras participantes possam oferecer propostas aos clientes das rivais, que deve beneficiar consumidores com melhores condições.

‘Setor financeiro tende a se pulverizar’

Para Taveira, o open banking vai acentuar a concorrência no setor financeiro, abrindo mais espaço par as fintechs e dando aos usuários com muito mais poder de escolha de produtos financeiros.

— Vamos ver muito mais notícias sobre aportes, em um cenário de muita tecnologia e de maior concorrência com o open banking . O movimento de hoje é um indicativo forte de que o setor financeiro tende a se pulverizar — afirmou o líder da Quanto.

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Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial, afirma que o bom resultado desta captação do Nubank tem vários sinais.

O primeiro, segundo ele, é a confirmação de que a soma de tecnologia com atendimento de qualidade vai marcar o futuro, em diferentes atores, de variados tamanhos e nichos.

Sócio-fundador da XP, Guilherme Benchimol, durante o pregão da Nasdaq para o lançamento das ações da corretora em Wall Street, em 2019. Plataforma é uma das empresas que cresceram rápido no setor financeiro com digitalização Foto: 11/12/2019 / Divulgação
Sócio-fundador da XP, Guilherme Benchimol, durante o pregão da Nasdaq para o lançamento das ações da corretora em Wall Street, em 2019. Plataforma é uma das empresas que cresceram rápido no setor financeiro com digitalização Foto: 11/12/2019 / Divulgação

O segundo é que este modelo disruptivo do Nubank encontra respaldo não apenas no radar afiado de Buffet, mas também de gestoras brasileiras de investimentos de destaque, como Verde Asset e Absoluto Partners, que conhecem bem o mercado nacional.

Nubank na Bolsa? É só uma questão de tempo

Criado em 2013, com um aporte de US$ 2 milhões, o Nubank já captou US$ 2 bilhões em investimentos e tem valor de mercado estiamdo em US$ 30 bilhões, cerca de US$ 150 bilhões.

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Para o analista da Eleven, o caminho do Nubank até uma oferta inicial de ações na Bolsa “é questão de tempo”, embora não seja fácil prever exatamente quando isso acontecerá:

— A abertura de capital do Nubank vai acontecer. A questão estratégica deles é quando e como fazer isso. Com esta sequência de captações, o banco está robusto para continuar crescendo. O ponto do Nubank agora é monetizar o próprio negócio (aumentar sua receita em um modelo de banco sem tarifas, por exemplo), mas estes aportes deste tamanho indicam que eles parecem prontos para compreender o modelo de monitorização desta base, e mostrar um novo modelo.

Sobre um eventual IPO, o Nubank afirma que ele está no horizonte, mas não indica prazos: “O IPO será um passo natural em algum momento, mas não é uma prioridade. Estamos focados em oferecer os melhores produtos e serviços para nossos 40 milhões de clientes”, disse o banco, em nota.

Fintechs são os casos de sucesso no setor hoje

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities em Miami, também vê o investimento da Berkshire no Nubank como uma oportunidade que faz sentido em um momento de grandes transformações no setor financeiro brasileiro:

— Quais são os principais cases de sucesso do setor financeiro dos últimos anos? Nubank, XP, Banco Inter e Picpay. Estamos falando de inovação em uma indústria gigante, que tem bastante relevância, que está sendo transformada, com empresas com capacidade de conquistar um grande número de clientes, se adaptar.

Cofundador do Nubank, David Vélez diz que "ainda há muito a fazer" Foto: . / Reprodução
Cofundador do Nubank, David Vélez diz que "ainda há muito a fazer" Foto: . / Reprodução

Ele avalia que, mesmo ainda sem dar lucro, fintechs como o Nubank já deram demonstrações de que são negócios promissores no Brasil:

— O Nubank está operando muito bem esta nova forma de atuar no mercado financeiro. Ele estava digital quando outros bancos ainda pensavam em ampliar o número de agências, e agora bancos tradicionais estão fazendo o que o Nubank e o Inter estavam fazendo há tempos.