SÃO PAULO - A decisão da Berkshire Hathaway, veículo de investimento do megainvestidor Warren Buffett, de investir US$ 500 milhões (o equivalente a pouco mais de R$ 2,5 bilhões) no Nubank foi vista pelos analistas de mercado como um selo de qualidade para o banco digital. Mas essa chancela também pode ser estendida à revolução digital por que passa o setor financeiro no Brasil, avaliam analistas.
O crescimento exponencial das start-ups financeiras, as fintechs, em tão pouco tempo revelaram o potencial da digitalização financeira no Brasil.
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O sucesso de bancos digitais como Nubank, Inter, C6 ou da corretora XP Investimentos forçou os grandes bancos tradicionais a investir também em operações digitais para recuperar terreno.
A chancela de Buffett, um dos homens mais ricos do mundo aos 90 anos e dono de uma reputação de hábil investidor, tende a valorizar ainda mais as fintechs no país.
![Cristina Junqueira, cofundadora e CEO do Nubank no Brasil Foto: Arquivo/Divulgação](https://ogimg.infoglobo.com.br/in/25052679-e91-870/FT1086A/90114652_O-Roda-Viva-recebe-Cristina-Junqueira-co-fundadora-do-Nubank-1.jpg)
Particularmente as centradas na experiência do usuário, aponta Ricardo Taveira, fundador e CEO da Quanto, plataforma que apoia instituições financeiras na transição digital.
A exemplo do Pix, o sistema de transferências instantâneas, o open banking é uma iniciativa do Banco Central para aumentar a concorrência no setor bancário — historicamente concentrado no Brasil — por meio do compartilhamento de dados dos correntistas.
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Desde fevereiro, quando começou a primeira fase do sistema, dados públicos, como condições de contratos e taxas de juros, já são compartilhados entre concorrentes.
De acordo com o Banco Central, ao longo do ano, mais três etapas serão cumpridas.
A expectativa é que, a partir de agosto, já seja possível que as instituições financeiras participantes possam oferecer propostas aos clientes das rivais, que deve beneficiar consumidores com melhores condições.
‘Setor financeiro tende a se pulverizar’
Para Taveira, o open banking vai acentuar a concorrência no setor financeiro, abrindo mais espaço par as fintechs e dando aos usuários com muito mais poder de escolha de produtos financeiros.
— Vamos ver muito mais notícias sobre aportes, em um cenário de muita tecnologia e de maior concorrência com o open banking . O movimento de hoje é um indicativo forte de que o setor financeiro tende a se pulverizar — afirmou o líder da Quanto.
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Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial, afirma que o bom resultado desta captação do Nubank tem vários sinais.
O primeiro, segundo ele, é a confirmação de que a soma de tecnologia com atendimento de qualidade vai marcar o futuro, em diferentes atores, de variados tamanhos e nichos.
![Sócio-fundador da XP, Guilherme Benchimol, durante o pregão da Nasdaq para o lançamento das ações da corretora em Wall Street, em 2019. Plataforma é uma das empresas que cresceram rápido no setor financeiro com digitalização Foto: 11/12/2019 / Divulgação](https://ogimg.infoglobo.com.br/in/25040977-c84-189/FT1086A/86120764_O-socio-fundador-da-XP-Guilherme-Benchimol-abriu-o-pregao-da-Nasdaq-para-o-lancamento-da-ne-2.jpg)
O segundo é que este modelo disruptivo do Nubank encontra respaldo não apenas no radar afiado de Buffet, mas também de gestoras brasileiras de investimentos de destaque, como Verde Asset e Absoluto Partners, que conhecem bem o mercado nacional.
Nubank na Bolsa? É só uma questão de tempo
Criado em 2013, com um aporte de US$ 2 milhões, o Nubank já captou US$ 2 bilhões em investimentos e tem valor de mercado estiamdo em US$ 30 bilhões, cerca de US$ 150 bilhões.
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Para o analista da Eleven, o caminho do Nubank até uma oferta inicial de ações na Bolsa “é questão de tempo”, embora não seja fácil prever exatamente quando isso acontecerá:
— A abertura de capital do Nubank vai acontecer. A questão estratégica deles é quando e como fazer isso. Com esta sequência de captações, o banco está robusto para continuar crescendo. O ponto do Nubank agora é monetizar o próprio negócio (aumentar sua receita em um modelo de banco sem tarifas, por exemplo), mas estes aportes deste tamanho indicam que eles parecem prontos para compreender o modelo de monitorização desta base, e mostrar um novo modelo.
Sobre um eventual IPO, o Nubank afirma que ele está no horizonte, mas não indica prazos: “O IPO será um passo natural em algum momento, mas não é uma prioridade. Estamos focados em oferecer os melhores produtos e serviços para nossos 40 milhões de clientes”, disse o banco, em nota.
Fintechs são os casos de sucesso no setor hoje
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities em Miami, também vê o investimento da Berkshire no Nubank como uma oportunidade que faz sentido em um momento de grandes transformações no setor financeiro brasileiro:
— Quais são os principais cases de sucesso do setor financeiro dos últimos anos? Nubank, XP, Banco Inter e Picpay. Estamos falando de inovação em uma indústria gigante, que tem bastante relevância, que está sendo transformada, com empresas com capacidade de conquistar um grande número de clientes, se adaptar.
![Cofundador do Nubank, David Vélez diz que "ainda há muito a fazer" Foto: . / Reprodução](https://ogimg.infoglobo.com.br/economia/24958017-d91-d5c/FT1086A/site_david-velez2.jpeg.jpg)
Ele avalia que, mesmo ainda sem dar lucro, fintechs como o Nubank já deram demonstrações de que são negócios promissores no Brasil:
— O Nubank está operando muito bem esta nova forma de atuar no mercado financeiro. Ele estava digital quando outros bancos ainda pensavam em ampliar o número de agências, e agora bancos tradicionais estão fazendo o que o Nubank e o Inter estavam fazendo há tempos.