• Thais Szego
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criança; banheiro; xixi; infecção urinária (Foto: Thinkstock)

Mal-estar, falta de apetite, vontade de urinar a toda hora e um desconforto imenso na hora de fazer xixi. Mesmo que seu filho nunca tenha reclamado de nada disso, é bom saber que infecção urinária é um problema mais comum do que se imagina. Estima-se que cerca de 8% das meninas e 2% dos meninos apresentarão ao menos um episódio do gênero até os 8 anos de idade.

Nos lactentes, esse é o tipo de contaminação bacteriana mais corriqueiro e um dos mais frequentes. Por que as crianças são tão vulneráveis? “Uma das explicações é que o trato urinário delas ainda está se desenvolvendo e isso pode facilitar a entrada e a proliferação dos micro-organismos”, responde a nefrologista pediátrica Evelise Vargas, do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR).

No momento do desfralde, o risco aumenta ainda mais, pois grande parte das crianças tem dificuldade de estabelecer uma rotina para ir ao banheiro e acaba segurando a urina por muito tempo, o que favorece o aparecimento do problema.

A boa notícia é que um reforço na dieta, aliado a certas precauções na hora de trocar a fralda ou fazer a higiene dos maiores, depois de usarem o vaso sanitário, representa boas chances de mandar a infecção descarga abaixo e manter a ameaça bem longe. Reunimos uma equipe de especialistas para explicar em detalhes como o incômodo aparece e o que é preciso fazer para afastá-lo.

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1. O que é infecção urinária? Que órgãos ela afeta?
A doença ocorre quando micro-organismos penetram e se multiplicam no trato urinário, afetando principalmente a uretra, canal que escoa o xixi, a bexiga, responsável por armazená-lo, e os rins. O problema recebe nomes diferentes dependendo do órgão que atinge: uretrite, cistite ou pielonefrite, respectivamente.

As principais responsáveis pela doença são bactérias que vêm do intestino por meio das fezes – especialmente a Escherichia coli, que está por trás de 85% a 90% dos episódios. Mas alguns fungos e vírus também podem desencadeá-la, em casos mais raros.

2. Quais são os sintomas?
Nos bebês, os pais devem ficar atentos a indícios como diminuição no ganho de peso, falta de apetite, alterações do sono, irritabilidade, choro constante, especialmente ligado ao momento de urinar, aumento na frequência das micções e febre sem razão aparente. Também é bom ficar de olho em alterações na cor e no cheiro da urina.

Se o seu filho já passou pelo desfralde, desconfie do problema caso ele reclame de dificuldade ou dor na hora de fazer xixi, urine com mais frequência e em pequenas quantidades, precise ir com urgência ao banheiro e, em alguns casos, acabe molhando as calças antes de chegar ao vaso. Dores no abdômen, nas costas e febre merecem atenção.

3. Por que o problema é mais comum em meninos nos primeiros meses de vida? E passa a ser mais frequente em meninas à medida que a idade avança?
Os garotos nascem com a pele da ponta do pênis mais fechada, dificultando a sua retração, o que facilita a adesão das bactérias. Com o passar do tempo, ela se abre sozinha e o risco diminui. Além disso, alguns problemas de malformações congênitas que dificultam o escoamento da urina são mais comuns no time masculino – e leva algum tempo, após o nascimento, para que eles sejam diagnosticados e tratados.

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Passado o primeiro ano, a incidência de infecção urinária nas meninas dispara, chegando a ser duas vezes mais comum entre elas, por razões anatômicas. Isso porque a uretra feminina é mais curta e sua saída fica próxima ao ânus, o que contribui com o deslocamento de micróbios até o trato urinário.

Pais e educadores devem ter em mente que o pico de incidência desse tipo de infecção na infância acontece por volta de 3 e 4 anos, quando a criança já deixou a fralda e pode reter urina, sendo que o acúmulo favorece a proliferação de bactérias.

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4. Como prevenir
Na fase das fraldas, as trocas frequentes são essenciais. Em meninas, a limpeza deve ser feita invariavelmente da frente para trás, tanto nas que ainda não desfraldaram quanto nas que já usam o vaso sanitário. Esse é um hábito que deve ser levado para toda a vida. Também é importante que não reste nenhum pedaço de papel higiênico preso aos órgãos genitais. Estimular a criança a ir ao banheiro pelo menos a cada três horas, em média, é outro cuidado importantíssimo. O acúmulo de urina na bexiga por longos períodos é um prato cheio para as bactérias. Por isso, cheque se o seu filho está relaxado e bem posicionado sobre o vaso sanitário, para que elimine todo o xixi. Um apoio para os pés é bem-vindo para aumentar o conforto.

Caprichar na alimentação também conta muito. É necessário que a criança beba bastante líquido e que a dieta seja saudável e bem equilibrada, com frutas, verduras, legumes, carnes e laticínios, o que fortalece as defesas do corpo. Sem contar que uma dieta balanceada fornece a quantidade de fibras necessária para manter um bom trânsito intestinal. E os especialistas já sabem que a prisão de ventre aumenta os riscos de infecção urinária, uma vez que as fezes não são eliminadas como deveriam, favorecendo o acúmulo de germes.

5. Como é feito o diagnóstico? E o tratamento?
A infecção é confirmada por meio de um exame de urina. Algumas horas depois da coleta, o médico já consegue saber se há ou não contaminação. Se o resultado for positivo, é receitado um antibiótico oral de amplo espectro, ou seja, capaz de combater diversas espécies bacterianas. No entanto, só depois de alguns dias é que o especialista conseguirá saber exatamente qual germe está por trás do problema. É quando chega o resultado da urinocultura, um teste que consiste em deixar a urina em um meio apropriado para induzir a multiplicação de bactérias e, assim, identificá-las. Com esse resultado em mãos, ele avalia se fez a melhor escolha ou se é preciso mudar o medicamento. Se os sintomas forem muito intensos ou se a criança apresentar vários casos de infecção em curtos intervalos, há a necessidade de uma investigação mais profunda para detectar a origem do problema, que pode ser uma bactéria mais resistente ou alterações anatômicas que causam refluxo urinário, entre outros problemas.

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6. Quais podem ser as complicações?
Se a infecção for detectada e tratada da maneira correta desde o início, ela costuma ser contornada sem maiores transtornos. Do contrário, os micróbios podem chegar até os rins. Aí existe a probabilidade de caírem na corrente sanguínea e se espalharem pelo organismo, desencadeando infecções graves. Essa complicação, porém, não é comum. Há também um risco pequeno de ficarem cicatrizes nos rins, que podem culminar em doença renal crônica ou hipertensão arterial na vida adulta.

7. O que fazer em caso de infecções recorrentes?
O primeiro passo é seguir todos os cuidados preventivos descritos anteriormente. Cabe ao médico fazer uma análise minuciosa para descobrir o que está provocando a repetição do quadro e, se necessário, prescrever o uso de medicamentos, como antibióticos, ou mesmo cirurgia, para corrigir eventuais anomalias que estejam por trás da doença. Quando a Escherichia coli é a responsável pelas crises, uma vacina contra ela pode ser receitada. Por fim, alguns especialistas indicam a ingestão do suco de cranberry, conhecida no Brasil como oxicoco, uma fruta que, segundo pesquisas, dificulta a adesão de bactérias na parede da bexiga. Mas seu uso em crianças é controverso e requer acompanhamento médico.

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