• Mônica Kato
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Com a pandemia da covid-19, passamos a ouvir com maior frequência nomes como “vetor viral”, “RNA mensageiro”, entre outros. Eles estão ligados à forma como as vacinas são desenvolvidas, porque, afinal, não são todas iguais. Os imunizantes são feitos de acordo com diferentes processos de produção e, de forma geral, estão divididos em dois grandes grupos (a partir de micro-organismos mortos ou vivos) – mas com um único objetivo: o de estimular o organismo a “fabricar” anticorpos (um tipo de proteína) para se defender de vírus e bactérias, agentes infecciosos que provocam doenças.

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Entenda as diferenças sobre os tipos de vacinas (Foto: Getty)

Entenda as diferenças sobre os tipos de vacinas (Foto: Getty)

A seguir, fique por dentro de como cada um deles funciona:

Vírus ou bactérias inativadas

Produzir vacinas a partir de vírus ou bactérias mortas ou inativadas é uma tecnologia antiga e bem conhecida. Funciona assim: pega-se um micro-organismo (vírus ou bactéria) chamado de selvagem, ou seja, em estado “natural” e, dentro de um ambiente de biossegurança controlado, ele é colocado em cultura para se multiplicar. Quando se obtém a quantidade ideal, ele é inativado – normalmente, por processos químicos ou por calor – e perde a capacidade de provocar a doença. Portanto, esse micro-organismo é “morto”, não causa a enfermidade, mas tem substâncias (chamadas de proteínas) capazes de gerar resposta imune. Essas vacinas são absolutamente seguras, mas, em geral, precisam de mais de uma dose para aumentar a capacidade de imunização.

Exemplos: vacinas com componentes bacterianos inativados – difteria, tétano e coqueluche (dupla adulto, tríplice bacteriana, pentavalente e hexavalente), hepatite B, hepatite A, pneumocócica, meningocócica, Haemophilus influenzae, HPV, poliomielite injetável, covid-19 (CoronaVac®).

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Vírus ou bactérias atenuadas

Nas vacinas feitas a partir de vírus ou bactérias atenuadas, o micro-organismo selvagem é colocado em condições para que sofra mutações – tudo em ambiente extremamente controlado. Quanto mais ele vai sendo cultivado, mais enfraquece até chegar à condição de não causar a doença. Ele continua vivo, mas perde a capacidade de provocar a enfermidade na grande maioria das pessoas. Tem enorme poder de gerar uma boa resposta imune. As vacinas de vírus ou bactérias atenuadas são contraindicadas para pessoas imunodeprimidas e também para gestantes. Para elas, existe o risco de adoecer pelo microrganismo da vacina.

Exemplos: BCG, febre amarela, tríplice viral (sarampo+caxumba+rubéola), varicela, tetra viral (sarampo+caxumba+rubéola+varicela), rotavírus, poliomielite oral e dengue.

À base de RNA

É uma tecnologia recente e que utiliza o RNA mensageiro (um tipo de “receita” para produção de proteínas) modificado geneticamente. Em vez de inserir o vírus atenuado ou inativado no organismo, esse imunizante é produzido com uma fração do material genético daquele determinado vírus, criada a partir da replicação de sequências genéticas. O RNA mensageiro fica envelopado em uma micropartícula de gordura, que entra nas células musculares e as “ensina” a produzir uma proteína específica – que irá estimular a produção de anticorpos.

Tecnologia usada nas vacinas contra a covid-19 da Pfizer e da Moderna. Não há exemplo de nenhuma utilizada em crianças.

Vetores virais

Produzir vacinas com vetores virais trata-se de outra tecnologia muito recente e bastante semelhante às vacinas de RNA mensageiro. Elas usam vírus previamente manipulados geneticamente para que eles sejam inofensivos ao ser humano e não se reproduzam, portanto não causam doença em quem for vacinado. Ao serem introduzidos no corpo, eles permitem a entrada do RNA mensageiro nas células musculares e, exatamente da mesma forma que as vacinas de RNA, fazem com que elas passem a produzir proteínas que alertam o sistema imunológico, que, então acionam as células de defesa.

Tecnologia usada nas vacinas contra a covid-19 da AstraZeneca, Janssen e Sputnik V. Não há exemplo de nenhuma utilizada em crianças.

É importante saber que o calendário de vacinação infantil brasileiro, tanto o público quanto o privado, é um dos mais completos do mundo e contempla vários tipos de vacinas, inativadas e atenuadas. Todas são extremamente seguras e não causam doenças, caso contrário, não seriam liberadas para crianças. A única exceção fica por conta daquelas com imunodepressão (provocada por doença ou uso de medicamentos, como quimioterápicos ou corticoides em dose alta por tempo prolongado). Em qualquer outra situação, mantenha a carteira de vacinação do seu filho em dia e sempre com o acompanhamento do pediatra.

Fontes: Daniel Jarovsky, professor instrutor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, secretário do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo; Francisco Ivanildo de Oliveira, gerente médico e infectologista do Sabará Hospital Infantil (SP); Isabella Ballalai, infectologista, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.