Leonardo Lichote

A escritora mineira Maura Lopes Cançado, que está tendo sua obra redescoberta e que era tida como promessa nos anos 1960, foi tema de reportagem do jornal O GLOBO em junho de 1977. Na época, ela estava internada no manicômio judiciário, após ter matado, em 1972, uma mulher de 19 anos, por estrangulamento. Ambas eram internas da clínica Dr. Eiras na ocasião.

A reportagem de 1977 dizia que a escritora, internada no Hospital Penal da Penitenciária Lemos de Brito, estava “irregularmente detida, junto com presos comuns portadores de todos os tipos de moléstias contagiosas”. Trazia também, na sua abertura, uma fala da escritora que sintetizava sua situação na época: "Estou tensa como as cordas de um violino. Se relaxar, eu morro". Ela acabara de perder a visão do olho esquerdo, o que já tinha acontecido com o direito.

No texto, sua situação é descrita como um quadro de abandono. "Física e psiquicamente doente, desnutrida, olhos e dentes exigindo cuidados imediatos, sem nenhum tratamento psiquiátrico". Mesmo assim, a repórter Margarida Autran escrevia que ela mantinha "a desconcertante lucidez e a surpreendente inteligência".

A repórter visitou a cela da escritora e anotou suas impressões: "Um cubículo mínimo atulhado de livros onde mal há espaço para uma pessoa se mover. Além da cama há, debaixo da janela, um vaso sanitário e uma pequena pia, onde Maura toma banho, alerta ao visor da porta que pode ser aberto a qualquer momento por um guarda". Na época, o escritor Otto Lara Resende escreveu em sua coluna no jornal que a situação era uma "vergonha imperdoável".

A escritora morreu, em 1993, esquecida pela academia. Apenas nos últimos anos anos ela voltou a ter teses sobre sua obra. Em 2014, uma biografia sua estava em produção pela jornalista Daniela Lima.

Redescoberta. A escritora mineira Maura Lopes Cançado caiu no ostracismo e ficou presa na Lemos de Brito

Redescoberta. A escritora mineira Maura Lopes Cançado caiu no ostracismo e ficou presa na Lemos de Brito Divulgação / Arquivo