A Hora da Ciência
PUBLICIDADE
A Hora da Ciência

Médicos e cientistas abordam diferentes aspectos da saúde.

Informações da coluna

Por Roberto Lent


Em meio ao desmonte da Educação e da Ciência no Brasil, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) olhou para frente e lançou na semana passada um documento dirigido aos candidatos à presidência, governos estaduais e parlamentos do Brasil. Sintético no tamanho e parrudo nas ideias. Um documento para todos nós, cidadãos, que vamos escolher daqui a pouco nossos próximos governantes.

A mensagem mais importante é a seguinte: Ciência e Educação devem ser políticas de Estado para serem eficazes. Nem todos nos damos conta da importância dessa proposição. É simples assim: Ciência de curto prazo não funciona. O mesmo vale para a Educação. Por quê?

Uma primeira razão é estrutural: boas ideias surgem de cérebros preparados. Ou seja: quanto mais crianças e jovens forem educados para a Ciência, mais boas ideias surgirão. E para que essas ideias floresçam, é preciso cultivá-las ao longo de toda vida. Isso significa que o ensino de Ciências e do raciocínio científico deve estar presente no dia a dia das escolas, sempre. No dia a dia das crianças, sempre. Só nesse “pequeno detalhe”, precisamos pelo menos do tempo de uma geração, e sem interrupção. Aprimorar a Educação, portanto, está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento científico de um país.

Uma segunda razão é a escala. O Brasil tem atualmente 900 pesquisadores a cada milhão de habitantes. Parece muito, não? Mas nos países desenvolvidos esse número chega a 4 mil! Já estamos atrás na largada, não somos competitivos.

Pensem em 3 exemplos que situam o Brasil como um país competitivo. O documento da ABC nos ajuda a lembrar: agropecuária, petróleo, aviação. Temos atualmente uma agricultura de alta tecnologia que traz para o país bilhões de reais em negócios, uma exploração de petróleo em águas profundas que poucos países dominam, e uma aviação de ponta que tem negociado a produção de um alto número de aeronaves brasileiras. Três palavras-siglas nos ajudam a lembrar essa trajetória: Petrobras (criada em 1953), Embraer (1969), e Embrapa (1973). Investimento de décadas. Começaram como empresas públicas voltadas para a geração de alta tecnologia, associadas à pesquisa básica e aplicada. Foi essa continuidade com financiamento adequado que permitiu o sucesso das entregas que hoje nos trazem riqueza.

O raciocínio de ouro da ABC é simples: o financiamento à pesquisa científica não pode oscilar com os mandatos de 4 anos dos nossos governantes. Vejam o que acontece quando malucos são alçados ao poder. Ao contrário, deve crescer em ritmo constante, sem tombos como assistimos agora, independente da coloração partidária que se instala nos palácios de governo e nas cadeiras legislativas.

A ABC oferece à consideração dos candidatos algumas metas para a concretização desse mantra virtuoso. É preciso pensar grande: aumentar para pelo menos 2% no próximo quadriênio o percentual do PIB investido em CT&I, programar para 10 anos o alcance de 2 mil pesquisadores por milhão de habitantes, e garantir em lei a continuidade intocável dessa política de Estado. Para isso é preciso aumentar a eficácia da Educação, utilizando políticas públicas baseadas em evidências, e avaliar continuamente o seu resultado. A rede pública de ensino básico deve ser fortalecida e as universidades públicas priorizadas na destinação de verbas. Fortalecer o orçamento dos fundos que financiam essas instituições (FNDE, FNDCT) é um imperativo. Justo o contrário do que mostram as recentes “negociações” dos pastores com o ex-ministro da Educação. Justo o oposto do que revelam os reitores desesperados com a iminente interrupção das atividades por falta de insumos básicos.

O documento apresenta uma frase lapidar que nos faz pensar. “Na geopolítica global, há os países que produzem conhecimento e os que consomem o conhecimento produzido — estes colocam a sua soberania em risco”. Simples assim.

Mais recente Próxima