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Produtor do momento

Quem é Papatinho, o ‘rei dos beats’ que acumula mais de 9,5 milhões de views no último mês

Papatinho em ação no megaestúdio que montou no Recreio dos Bandeirantes, onde recebe novos talentos e músicos consagrados, como Marcelo D2 e Gabriel, o Pensador

Por Luccas Oliveira

Prepare-se: de um jeito ou de outro, você ainda vai ouvir falar muito no peculiar nome Papatinho nos próximos meses. Talvez já tenha até escutado, visto que os quatro clipes de seu EP de estreia, “Rio” (lançado no dia 22 de fevereiro), já ultrapassaram a marca de 9,6 milhões de visualizações no último mês — e que o grupo de rap que fundou há 13 anos fez um barulho e tanto. Mas um dos próximos lançamentos do produtor de 32 anos promete fazer ainda mais: são dele os beats de trap-funk do single que Anitta lançará com Snoop Dogg e Ludmilla num futuro próximo.

— Está quase tudo pronto, só estamos aguardando o verso do Snoop Dogg. Ele soltou um vídeo prometendo que vai ser um hit, mas ainda não escreveu os versos — revela, divertindo-se, em papo por telefone com o GLOBO de seu disputado (e superequipado) estúdio no Recreio dos Bandeirantes, espaço em que revelações do rap, do funk e do pop dividem metros quadrados com figurões como Marcelo D2, Gabriel, o Pensador e Black Alien. 


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Natural da Tijuca, Tiago da Cal Alves virou Papatinho depois que seu apelido, Sapatinho, foi subvertido na primeira gravação lançada por ele com seus amigos de infância Cert, Rany Money, Batoré, Maomé e Ari, integrantes do grupo ConeCrewDiretoria, o primeiro grande fenômeno do rap brasileiro revelado pela internet. A banda, conhecida tanto por ajudar a botar o hip-hop carioca no mapa quanto por versos polêmicos sobre drogas, ostentação e mulheres (misóginos, muitas vezes), lançou quatro discos e tocou em alguns dos principais festivais do país.

Foi vendo a turma de amigos escrevendo letras, aliás, que Papatinho resolveu virar o DJ da galera, “para tirar aquilo do papel”. Sem ter qualquer formação musical ou conexão familiar com a arte, ele começou a se relacionar com a música gravando CDs piratas com compilações, que vendia no colégio.

— Eu era o cara da música na escola. Tinha um programa que gravava e cortava, e a partir dele fui aprendendo na marra a samplear, tentativa e erro mesmo. Fui evoluindo, comprei equipamento e meu nome cresceu no Brasil quando sampleei Nina Simone (um dos maiores hits da Cone, “Chama os mulekes”, tem como base “I put a spell on you”, da diva do jazz) — relembra o músico.


Foi ele, inclusive, o primeiro artista do país a ter “sampler” como instrumento de especialidade na carteira da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB):

— Quem diminui a cultura do sample não a conhece a fundo. Esse era meu único caminho, no começo. Pegava um disco, achava uma melodia maneira, recortava e jogava umas camadas por cima. Descobri meu feeling musical assim, e meus maiores ídolos de produção, Kanye West e Dr. Dre, praticamente só faziam música assim. Se não fosse o sample, não existia Papatinho nem ConeCrew.

Autodidata, o produtor passou a se aprofundar nos sintetizadores e começou assim a criar seus beats. Juntando samples picotados, quase irreconhecíveis, bateria e percussão eletrônica e synths, criou um estilo próprio, venceu competições (ganhando a alcunha de “Rei dos beats”) e assinou, por exemplo, a produção de músicas de Capital Inicial (“Viva a revolução”), Criolo (“Demorô”), Anitta (“Sim”) e D2 (“Já está chegando a hora (Abre alas)”).


Diante do hiato criativo em que se encontra a ConeCrew, Papatinho decidiu seguir os passos de outros produtores, como o americano DJ Khaled e o conterrâneo Dennis, e iniciar uma carreira “quase solo”, com músicas assinadas por ele e cantadas por artistas convidados, de diferentes gêneros. No fim do ano passado, ele fechou um contrato com a Warner Music, por onde lançou, em parceria com o selo Papatunes Records, o EP “Rio”.

— Realmente, existe hoje um mercado crescente para produtores que lançam músicas e estrelam clipes, mas não foi exatamente isso que me fez ir atrás do Papatinho. Foi a qualidade daquilo que ele faz, independentemente se vai ser um megassucesso ou não. É música de nível muito bom, raro hoje em dia, com uma forte conexão com a turma mais jovem que faz música no país atualmente — justifica Sergio Affonso, presidente da Warner Music Brasil.


Nos trabalhos que lança pela Papatunes Records, o produtor carioca se destaca não só pelos beats com assinatura própria, mas também por fazer uma espécie de curadoria de vozes, reunindo artistas de gêneros e sotaques diferentes. Ele juntou, por exemplo, o pagodeiro Ferrugem, o funkeiro expoente do 150bpm Kevin O Chris e o rapper L7NNON, cria do seu selo, na recente “Dois copos”, e a caxiense Ludmilla com o americano Maejor no single “Meu baile”.

— Nós tivemos uma boa sintonia, e ele entendeu bem o que todos nós queríamos para a música. Nesse ramo, o essencial é encontrar uma equipe que joga junto, porque isso resulta em bons trabalhos — exalta Ludmilla. 


Além da agenda cheia no estúdio — entre os tantos projetos, estão programados o próximo disco do rapper niteroiense Black Alien (o primeiro single, “Que nem meu cachorro”, sai na próxima quinta-feira) e uma parceria entre Gabriel, o Pensador e a revelação do pop Jade Baraldo —, o produtor logo entrará em estrada internacional com o projeto de shows “Papatinho chama”, em que unirá live set com interações de cantores. Entre 31 de março e 6 de abril, ele abrirá os shows da turnê da rapper britânica IAMDDB em Paris, Amsterdã, Berlim, Manchester e Londres.

— O Papatinho é um artista com todo o potencial de entrar no mercado de qualquer nacionalidade, inclusive o americano. Não fica restrito ao mercado latino porque faz música universal tanto quanto a maioria dos rappers americanos e da turma que faz trap lá fora — aposta Affonso, que já ajudou a promover o intercâmbio entre o carioca, o expoente do trap mexicano Hadrian e o rapper argentino Lit Killah, na faixa “Bendito”.

 

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