Publicidade

Equipe

Futebol e política

Em busca de paz após a tormenta, CBF tem Copa América e faíscas da crise para lidar

Por Thales Machado

Rogério Caboclo: afastamento temporário não significa que problemas na CBF tenham tirado folga

Supremo Tribunal Federal, Ministério Público Federal e do Trabalho, CPI da Covid, Ministério da Saúde. A lista das instituições e comissões públicas que apareceram no noticiário esportivo e da CBF desde a semana passada mostram que a entidade, abalada após a acusação de assédio sexual por uma funcionária contra o presidente Rogério Caboclo, viveu dias de tormenta. Ainda que o afastamento tenha feito o tempo melhorar, os dias ainda estão muito nublados no futuro da confederação.

Com a exceção de Rogério Caboclo, que insiste na sua inocência, não há na CBF quem duvide de que, ao menos nas aparências, ele é carta fora do baralho. Além do peso da acusação, joga contra o presidente afastado o clima que se tornou mais ameno: há consenso na nova diretoria quanto à permanência de Tite no comando da seleção e a impressão de que os ânimos dos jogadores se acalmaram.

— Não é hora de mexer nisso. Ainda mais com o Bolsonaro no meio. Agora é hora de tirarmos o foco da CBF — confidenciou um dos oito vice-presidentes ao GLOBO, sob condição de anonimato, deixando claro que, mesmo no dia do seu aniversário de 102 anos, tudo que a entidade quer é não ser notada.

A missão é complicada. Há um legado recente de Caboclo que terá de ser enfrentado nos próximos dias. Como a própria realização da Copa América. O manifesto dos jogadores com críticas à CBF, Conmebol e ao torneio em meio à pandemia se juntará ao coro de parte da sociedade brasileira. Na prática, há pela frente o pedido de investigação da Procuradoria da República de "possíveis violações em direitos humanitários" por parte de organizadores, transmissoras e patrocinadoras do evento. Enquanto Caboclo cuida de sua defesa, é a CBF que precisará lidar com o tema.

A vinda da Copa América para o Brasil após a desistência de Argentina e Colômbia foi uma manobra do presidente afastado para tentar se recuperar da crise que já se avizinhava. Com a explosão da denúncia no pior timing possível para ele, restou à CBF ajudar a Conmebol na organização do evento. Hoje, os novos velhos mandatários do futebol brasileiro ainda nem sabem quem encabeçará a missão.

Ainda que carta fora do baralho, Caboclo não será defenestrado. Nem a nova diretoria, nem clubes se voltarão contra ele com agressividade. Arquivo vivo das decisões do futebol brasileiro no último triênio, o presidente seguirá com algum poder, e a nova diretoria precisará de habilidade política para lidar com ele.

Por fim, há de se pensar também em futebol. Não há dúvidas que o caminho da seleção brasileira rumo à Copa do Mundo do Qatar ficou mais complicado, apesar da liderança e campanha irretocável nas Eliminatórias. A turbulência estremeceu a relação entre Tite, jogadores e confederação. Num país polarizado, os jogadores tiveram a imagem arranhada para um lado ao não boicotarem a Copa América, algo que nunca prometeram. Do outro, Tite virou pária para bolsonaristas que viram no técnico da seleção mais um inimigo imaginário.

Se o caminho até o Mundial parecia tranquilo, hoje ele tem incógnitas. Se Tite perder a Copa América em casa, por exemplo, ainda que tenha vencido a de 2019 (única que planejou disputar com a "obrigação" do mandante), a pressão pode aumentar. E ficar insustentável para um dos lados. Depois da tormenta, a impressão é que o sol só pode mesmo voltar a nascer para a CBF no deserto do Qatar.

Leia outras análises do Analítico

Siga o Analítico no Twitter

Leia também