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CPI da Covid

Queiroga esquece coerência diante de senadores para não ter atritos com Bolsonaro

Por André de Souza

Marcelo Queiroga no segundo depoimento à CPI da Covid: ministro admitiu que não tem

A missão era difícil. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tentou mostrar em seu segundo depoimento na CPI da Covid que tem autonomia no cargo, mesmo defendendo medidas que são constantemente atacadas ou ignoradas pelo presidente Jair Bolsonaro. 

O resultado não foi dos melhores e ninguém na CPI pareceu acreditar quando o ministro fez uma ginástica verbal para dizer que foi dele a decisão de não efetivar a médica Luana Araújo, crítica do uso de remédios ineficazes no tratamento da Covid-19, no comando da recém-criada Secretaria Extraordinária no Enfrentamento à Pandemia. Em maio, Queiroga havia sugerido que o veto tinha partido do Planalto, versão corroborada pela própria médica em depoimento à CPI.

A incredulidade foi resumida pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM): "Não dá também para achar que todo mundo aqui é doido ou não prestou atenção no que o senhor falou." Queiroga disse na CPI que a indicação tinha sido aprovada pela Casa Civil e que foi ele quem desistiu de Luana por perceber que o nome dela não ajudaria na “harmonização" ddividida classe médica.

No primeiro depoimento, no começo de maio, foi mais fácil dizer que tinha autonomia. Queiroga estava no cargo há menos tempo e o episódio envolvendo a não-nomeação de Luana ainda não tinha ocorrido.

Um mês depois, tudo mudou. Por que Queiroga não efetivou uma médica que pensa como ele, que também é contrário à cloroquina no tratamento da Covid-19? E por que mantém secretários da gestão anterior que defendem o tratamento precoce, entre eles uma conhecida como "Capitã Cloroquina"? Foram perguntas que, apesar de uma tentativa de explicação do ministro, ficaram no ar.

A ginástica verbal foi tanta que ele se desdisse. No começo da sessão, ao ser confrontado com imagens de Bolsonaro em aglomerações sem máscara e questionado se o presidente segue suas orientações, Queiroga disse que as imagens "falam por si só". Depois, quando o assunto foi abordado novamente, negou: "eu não falei que as imagens falam por si só".

Em alguns pontos, o ministro cedeu e admitiu que não tem "carta branca pra fazer tudo que quer", que o regime é presidencialista e "não existe um Ministério da Saúde dissociado da Presidência da República". Queiroga conseguiu voltar à CPI sem causar maiores atritos com o governo do qual faz parte, mas o custo foi sacrificar um discurso coerente com a realidade.

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