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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.


Danuza Leão em Copacabana em maio de 1978, aos 45 anos — Foto: Wilson Alves/Agência O GLOBO
Danuza Leão em Copacabana em maio de 1978, aos 45 anos — Foto: Wilson Alves/Agência O GLOBO

Danuza Leão já tinha feito muita coisa na vida, mas nunca escrevera um livro até que, aos 59 anos, ingressou no mundo editorial com um best-seller. Lançado em meados de 1992, "Na sala com Danuza" teve mais de 2 mil cópias vendidas antes mesmo de chegar às livrarias. Depois, ficou entre os títulos mais vendidos por vários meses consecutivos e, 11 anos mais tarde, quando saiu o "volume 2" da obra, tinha algo em torno de 200 mil unidades comercializadas no Brasil.

"Quase desmaiei com a notícia (sobre a vendagem antes do lançamento). Você pensa que a gente só fica nervosa com notícia ruim? Não pensava em escrever um best-seller. Me diverti tanto... Só fiquei torcendo para ninguém falar muito mal dele", disse Danuza, refestelada no sofá rosa da sua sala branca, no Leme, durante uma entrevista à repórter Carla Lencastre, do GLOBO, em agosto de 1992.

A capixaba radicada no Rio vinha sendo asseadiada para escrever uma biografia. Não faltaria história pra contar. Primeira modelo brasileira a desfilar no exterior, nos anos 1950, ela era irmã da cantora Nara Leão e viu a bossa nova nascer na sala do apartamento de sua família, em Copacabana. Ex-mulher dos conhecidos jornalistas Samuel Wainer, Antonio Maria e Renato Machado, Danuza também havia sido atriz do filme "Terra em transe" (1967), de Galuber Rocha, produtora de moda, dona de boutique e promoter de boates conhecidas na Zona Sul do Rio.

Danuza Leão em seu apartamento no Leme, em 1992 — Foto:  Monique Cabral/Agência O GLOBO
Danuza Leão em seu apartamento no Leme, em 1992 — Foto: Monique Cabral/Agência O GLOBO

Mas, quando se sentou diante de uma máquina de escrever emprestada, decidiu aproveitar a sua quilometragem em almoços, jantares e festas da alta roda carioca para produzir um livro sobre comportamento. "Na sala com Danuza" pode ser colocado na mesma prateleira das publicações que ensinam "regras de etiqueta", mas a obra tem um ar um tanto mais descolado e bem-humorado. Sem, contudo, deixar de ser conservador em certos momentos, como na parte em que afirma que mulher não podia morar junto com alguém se não soubesse cozinhar.

Na entrevista ao jornal, em 1992, ela contou que teve medo de o público pensar que aquele era um livro de etiqueta tradicional. Danuza disse que não queria ditar regras e, por isso, deixou margem para pequenas "transgressões" de seus conselhos. Num trecho da publicação, por exemplo, a autora diz que quando se é convidado a uma festa não se deve nunca perguntar quem mais estará lá. Mas ela própria afirma no livro que não resistia e sempre perguntava.

"Não tenho o livro como lição decorada. Que ninguém me cobre isso. Mas temos tido péssimo exemplo. Roubar é uma coisa muito mal educada, assim como tratar mal a mulher e esbravejar na televisão", ensinou a escritora. "A educação das pessoas piorou com o individualismo dos anos 80, os anos yuppies. Isso é mais grave do que não saber usar o talher de peixe.

Danuza Leão com Pelé e Xuxa no baile de carnaval do Copacabana Palace em 1981 — Foto: Alcyr Cavalcante/Agência O GLOBO
Danuza Leão com Pelé e Xuxa no baile de carnaval do Copacabana Palace em 1981 — Foto: Alcyr Cavalcante/Agência O GLOBO

Veja, abaixo, nove conselhos extraídos do livro de 1992

"A louça da casa onde você está jantando é linda. Mas não vire o prato para saber a procedência."

"Quando você receber uma cantada gay, reaja da mesma maneira que reagiria a qualquer cantada. Dê corda, se estiver a fim. Corte, se não estiver. Se ficar muito nervoso, atenção: isso costuma ser uma grande bandeira."

"Não chegue muito perto nem toque seu interlocutor. Guarde a distância regulamentar de 50 centímetros. A não ser, claro, que já estejam a caminho do motel."

"Óculos escuros. Todo mundo usa, de manhã, à tarde, alguns até mesmo à noite. É uma pena que poucos tomem o trabalho de tirar, na hora de um encontro. Um olhar pode significar tantas coisas..."

"Só faça encomendas de viagem se for uma coisa muito, mas muito importante mesmo. Tipo um batom, um creme, uma meia. Coisas fundamentais para a felicidade de qualquer mulher."

"Se você encontrar outra pessoa com uma roupa exatamente igual à sua, o que fazer? Sem perder o humor, chame o fotógrafo e peça para registrar a cena histórica."

"Se a comida de sua casa for péssima, faça os convidados beberem muito, bebidas fortissimas, e sirva o jantar bem tarde. Ninguém vai distinguir uma cenoura de um petít pois."

"Dormir junto é ótimo. Acordar junto, nem tanto. Só que ainda não foi descoberta a solução deste problema."

"Mulher que não sabe cozinhar deveria ser proibida de morar junto com alguém."

Danuza Leão com Jerry Adriani, Maria Bethânia, Nara Leão, em 1966 — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO
Danuza Leão com Jerry Adriani, Maria Bethânia, Nara Leão, em 1966 — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO
Danuza Leão no calçadão de Copacabana, em 1978 — Foto: Wilson Alves/Agência O GLOBO
Danuza Leão no calçadão de Copacabana, em 1978 — Foto: Wilson Alves/Agência O GLOBO
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