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Dona da 99 dobra aposta no Brasil, avança na periferia dos grandes centros e incomoda a Uber

Thiago Hipólito, diretor de DriverLab da 99

Enquanto vê suas ações derreterem mais de 80% na bolsa de Nova York em meio a um fogo cruzado sobre privacidade de dados entre os governos americano e chinês, a gigante de mobilidade chinesa DiDi, dona da 99, resolveu apostar todas as fichas para construir um case de sucesso no Brasil.

O país é hoje seu maior mercado fora da China e a empresa está investindo pesado em várias frentes para atrair e fidelizar motoristas — hoje o principal gargalo dessa indústria diante da alta dos combustíveis e a retomada das atividades pós-pandemia.

A empresa cresce comendo literalmente pelas beiradas: enquanto a líder Uber atende um público mais A/B ou C, na 99, 65% das corridas no Rio e 54% em São Paulo têm como origem ou destino bairros periféricos.

A estratégia para fidelizar a base conta com uma série de iniciativas, inclusive de valorização da autoestima do motorista, foco do patrocínio do aplicativo na última edição do Big Brother Brasil.

E para aliviar o impacto da alta do combustível, a empresa introduziu um adicional variável na remuneração, que é reajustado toda vez que há um aumento na bomba. A empresa também fez acordos com locadoras para oferecer condições mais favoráveis a sua base e lançou o Kit Gás, programa de aluguel ou financiamento para instalar botijões de GLP nos carros e que dá descontos agressivos para os motoristas mais fiéis.  Um kit de R$ 4,5 mil pode sair quase de graça.

A DiDi investiu cerca de US$ 1 bilhão para adquirir a 99 em 2018, operação que tornou o aplicativo o primeiro unicórnio brasileiro, mas o negócio ainda está por se provar rentável. — Nesse setor, a escala é um fator crítico. Agora já temos escala e podemos começar a pensar em redução de custos operacionais — diz Thiago Hipólito, principal executivo da 99 no país, responsável pelas iniciativas para os motoristas, o DriverLab. 

A empresa não revela taxas de crescimento, mas afirma ter hoje mais de 750 mil motoristas espalhados por 1600 cidades, realizando uma média de 3 milhões de corridas por dia. A Uber tem cerca de 1 milhão de motoristas na sua base. O comum é os motoristas se cadastrarem nos dois aplicativos e portanto o desafio para as empresas é justamente fidelizá-los.

CARRO ELÉTRICO

Nos próximos três anos, a 99 vai investir R$ 250 milhões em ações de relacionamento com os motoristas, o que incluiu ainda a promoção do ecossistema de carros elétricos. Os primeiros dois carros, em parceria com a CAOA Chery, já estão em testes nas ruas e a expectativa é chegar em 300 até o fim do ano. Outras montadoras devem aderir à iniciativa e a empresa já iniciou conversas com a também chinesa BYD para a introdução de um modelo mais popular.

— O carro elétrico é o que vai fazer a diferença para o motorista. O Brasil é o grande foco nessa agenda hoje e queremos ajudar a desenvolver o mercado como fizemos na China. Lá, 40% da quilometragem rodada em carros elétricos acontece dentro da plataforma da DiDi — diz Hipólito.

A ofensiva da 99, com a ampliação da queima de caixa para crescer no país, tem incomodado a Uber, que inaugurou esse mercado no mundo gastando rios de dinheiro há mais de uma década, mas depois de abrir capital ficou mais disciplinada, com a pressão de investidores por resultado.

A Uber teve que abrir mão da operação na China em 2016, vendida para a DiDi. E, em abril deste ano, perdeu a liderança em usuários ativos e downloads do app para a DiDi no México, segundo principal mercado internacional da DiDi depois do Brasil. Como se não bastasse, a venda para a DiDi tornou a Uber (e também o Softbank) acionista minoritário da chinesa, participação que virou pó com a decisão de deslistagem na bolsa americana, anunciada em maio.

 

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