Bashar al-Assad venceu militarmente a Guerra da Síria, com a ajuda da Rússia e do Irã. Mas não há ninguém para salvá-lo da catástrofe econômica enfrentada pelos sírios no momento que buscam se reconstruir após quase uma década de conflito. Há uma série de agravantes para o líder sírio, que afetam diretamente seus pilares de poder.
![Soldados perto de imagens dos presidente da Síria, Bashar al-Assad, e da Rússia, Vladimir Putin](https://s2.glbimg.com/MInWw9Q7cMPYjLc69qVT3nP4D-A=/645x388/i.glbimg.com/og/ig/infoglobo1/f/original/2018/09/11/78565195_files_in_this_file_photograph_taken_on_august_20_2018_members_of_russian_and_syrian_forces.jpg)
1. O Ceasar Act, que é uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA para punir quem invista na Síria. Na prática, isola o regime sírio no acesso a investimentos internacionais. Irá estrangular economicamente o regime;
2. A economia libanesa, onde o regime sírio costumava lavar dinheiro, está em colapso similar ao da Argentina em 2001;
3. A Rússia e o Irã enfrentam seus próprios problemas internos, agravados pela Covid19, e não têm condições de salvar financeiramente a Síria;
4. Assad brigou com seu primo bilionário Rami Makhlouf, tirando parte dos bens dele, em uma briga que demonstra divisões dentro do regime;
5. A Síria, para conter o avanço da Covid19, implementou o isolamento social por um período e, como quase todo o resto do mundo, enfrenta o impacto econômico causado pela pandemia;
6. A economia da Síria já estava devastada pela guerra;
7. Há também erros cometidos pelo regime na condução da economia;
![Membros da Defesa Civil Síria desinfetam mesquita na cidade de al-Bab, no norte de Aleppo](https://s2.glbimg.com/-BdWgwAxkE9iaK7_4jSdjdna5X8=/645x388/i.glbimg.com/og/ig/infoglobo1/f/original/2020/03/24/87626880_topshot_-_members_of_the_syrian_civil_defence_white_helmets_disinfect_a_mosque_in_the_c.jpg)
Esta crise não significa que Assad vá cair. Mas demonstra sua fragilidade. O líder sírio tenta contornar com medidas como a troca do premier. Chama a atenção as manifestações anti-Assad em Sweyda, uma região de maioria drusa no sul da Síria. Os drusos, assim como as minorias alauíta e cristã de diferentes denominações, costumavam apoiar o regime na guerra. Não se trata, portanto, de um bastião da oposição.
Como outros ditadores, Assad sempre se manteve no poder graças ao seus pilares – as Forças Armadas, o Partido Baath, o apoio das minorias religiosas (alauíta, drusa e cristã), o suporte militar da Rússia e do Irã e a aliança com a elite empresarial de Damasco, Aleppo e outras grandes cidades como Homs, Hama, Latakia e Tartus.
Neste momento, não há sinal de racha nas Forças Armadas ou no Baath. Mas é extremamente difícil medir como está o apoio a Assad. A sua briga com Makhlouf repercute dentro da sociedade alauíta, a mais importante para o líder sírio. Também demonstra que ao menos uma parcela do empresariado pode estar em choque Assad. Claramente, os drusos se distanciam do regime. A população cristã diminuiu ao longo do conflito, assim como a sua influência interna, embora boa parte siga apoiando Assad por temerem o jihadismo dos opositores armados. Na Rússia, crescem as críticas a Assad na imprensa. No Irã, a população repudia os gastos do regime com a Síria enquanto os iranianos enfrentam uma gigantesca crise econômica.
Portanto o cenário é grave para Assad. Não esqueçamos, porém, que o líder sírio é extremamente habilidoso dentro do tabuleiro de xadrez do Oriente Médio. Mais importante, não há alternativa a ele dentro da Síria. Os opositores assustam por seu radicalismo e ligações com a Al Qaeda. Vamos acompanhar.