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Depois da guerra

Catástrofe econômica da Síria ameaça Assad

Bashar al-Assad venceu militarmente a Guerra da Síria, com a ajuda da Rússia e do Irã. Mas não há ninguém para salvá-lo da catástrofe econômica enfrentada pelos sírios no momento que buscam se reconstruir após quase uma década de conflito. Há uma série de agravantes para o líder sírio, que afetam diretamente seus pilares de poder.

Soldados perto de imagens dos presidente da Síria, Bashar al-Assad, e da Rússia, Vladimir Putin

 1. O Ceasar Act, que é uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA para punir quem invista na Síria. Na prática, isola o regime sírio no acesso a investimentos internacionais. Irá estrangular economicamente o regime;

2. A economia libanesa, onde o regime sírio costumava lavar dinheiro, está em colapso similar ao da Argentina em 2001;

3. A Rússia e o Irã enfrentam seus próprios problemas internos, agravados pela Covid19, e não têm condições de salvar financeiramente a Síria;

4. Assad brigou com seu primo bilionário Rami Makhlouf, tirando parte dos bens dele, em uma briga que demonstra divisões dentro do regime;

5. A Síria, para conter o avanço da Covid19, implementou o isolamento social por um período e, como quase todo o resto do mundo, enfrenta o impacto econômico causado pela pandemia;

6. A economia da Síria já estava devastada pela guerra;

7. Há também erros cometidos pelo regime na condução da economia;

Membros da Defesa Civil Síria desinfetam mesquita na cidade de al-Bab, no norte de Aleppo

Esta crise não significa que Assad vá cair. Mas demonstra sua fragilidade. O líder sírio tenta contornar com medidas como a troca do premier. Chama a atenção as manifestações anti-Assad em Sweyda, uma região de maioria drusa no sul da Síria. Os drusos, assim como as minorias alauíta e cristã de diferentes denominações, costumavam apoiar o regime na guerra. Não se trata, portanto, de um bastião da oposição. 

Como outros ditadores, Assad sempre se manteve no poder graças ao seus pilares – as Forças Armadas, o Partido Baath, o apoio das minorias religiosas (alauíta, drusa e cristã), o suporte militar da Rússia e do Irã e a aliança com a elite empresarial de Damasco, Aleppo e outras grandes cidades como Homs, Hama, Latakia e Tartus.

Neste momento, não há sinal de racha nas Forças Armadas ou no Baath. Mas é extremamente difícil medir como está o apoio a Assad. A sua briga com Makhlouf repercute dentro da sociedade alauíta, a mais importante para o líder sírio. Também demonstra que ao menos uma parcela do empresariado pode estar em choque Assad. Claramente, os drusos se distanciam do regime. A população cristã diminuiu ao longo do conflito, assim como a sua influência interna, embora boa parte siga apoiando Assad por temerem o jihadismo dos opositores armados. Na Rússia, crescem as críticas a Assad na imprensa. No Irã, a população repudia os gastos do regime com a Síria enquanto os iranianos enfrentam uma gigantesca crise econômica. 

Portanto o cenário é grave para Assad. Não esqueçamos, porém, que o líder sírio é extremamente habilidoso dentro do tabuleiro de xadrez do Oriente Médio. Mais importante, não há alternativa a ele dentro da Síria. Os opositores assustam por seu radicalismo e ligações com a Al Qaeda. Vamos acompanhar.

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