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Guerra civil na Síria

Com apoio de Putin, Emirados Árabes querem afastar Assad do Irã

O presidente russo Vladimir Putin aperta a mão do presidente sírio Bashar al Assad durante uma reunião no Kremlin em Moscou, Rússia

Em meio à Guerra da Ucrânia, poucos prestaram atenção na visita de Bashar al-Assad aos Emirados Árabes Unidos. O ditador sírio, transformado em pária no mundo árabe depois da eclosão da guerra civil em seu país, foi recebido em Abu Dhabi pelo ditador Mohammad bin Zayed, que apoiou milícias jihadistas anti-Assad no conflito sírio.
Assad, embora ainda isolado no Ocidente, tem obtido sucesso nessa reaproximação com as ditaduras do Golfo em ação coordenada pela Rússia. Vitorioso na guerra, o líder sírio passou a ser visto como peça fundamental na nova geopolítica do Oriente Médio. 
As ditaduras do Golfo avaliam não ser possível conter a influência iraniana na Síria e no Líbano sem Assad. Sabem ser impossível quebrar as relações entre Damasco e Teerã. Mas sabem ser possível um equilíbrio maior no qual a Síria, uma nação árabe, leve em consideração os interesses dos países do Golfo e de Israel, via Rússia.
No caso do território sírio, a ideia é ajudar a reconstrução do país, fortalecendo Assad. Assim o líder sírio, com a ajuda da Rússia, poderia tentar conter as tentativas do Irã e do Hezbollah na região próxima às colinas do Golã. Essa ação ajudaria a agradar Israel, um forte aliado das ditaduras árabes do Golfo. 
O mais importante, porém, seria no Líbano. Hoje os sunitas estão enfraquecidos no país. Os principais políticos dessa religião em Beirute, como o ex-premier Saad Hariri e o atual, Najib Mikati, sequer disputarão eleições. A tendência, se nada for feito, é a de o bloco formado pelos xiitas do Hezbollah e os cristãos da Frente Patriótica Nacional, do presidente Michel Aoun, ser favorecido. A alternativa para conter seria o fortalecimento de políticos pró-Síria no Líbano e levar adiante a candidatura presidencial de Suleiman Frangieh (o presidente do Líbano sempre tem de ser cristão maronita).
Resumindo, as ditaduras árabes querem usar Assad para conter o Irã e o Hezbollah, apesar de ambos terem sido necessários para o regime sírio vencer a guerra civil. O ditador da Síria, com o apoio de Vladimir Putin, pode, portanto, se tornar o ponto de equilíbrio entre as ditaduras árabes e seus aliados  israelenses, de um lado, e a ditadura iraniana e o Hezbollah, do outro.

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