Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por Guga Chacra


O ataque ao metrô em Nova York, terça-feira, não alterará em praticamente nada a política de acesso a armamentos nos EUA. Passarão alguns dias e o episódio começará a cair no esquecimento. A Associação Nacional do Rifle (NRA, da sigla em inglês), o conhecido lobby das armas americano, agirá como sempre para defender seus interesses e influenciar políticos em Washington. Seu domínio sobre o Partido Republicano não tem paralelo. Em alguns meses, um outro atirador sairá disparando em alguma universidade, supermercado ou escola. E o ciclo se repetirá - vítimas, prisão do assassino, pressão pelo controle de armas, esquecimento, lobby entra em ação e nada acontece, a não ser as inócuas mensagens de "orações" pelas vítimas.

A maioria dos políticos nos EUA, especialmente os republicanos, se posiciona contra o desarmamento, apesar de algumas iniciativas sem sucesso entre os democratas. A Segunda Emenda da Contituição garante o direito de portar armas. O que alguns democratas defendem é dificultar o acesso e algumas outras restrições. Hoje é possível comprar um revólver pela internet de um terceiro em muitas partes do país sem necessidade de verificação de antecedentes criminais. Um americano pode ter múltiplos fuzis e outras armas de guerra. Pode até imprimir uma pistola em uma impressora 3D.

No mundo desenvolvido, os EUA são disparados a nação com o maior índice de mortes por armas de fogo, incluindo homicídios e suicídios. Ao mesmo tempo, entre os países ricos, é onde que se adquire com mais facilidade um armamento. Há mais armas de fogo no território americano do que habitantes.

Em outros países, como a Austrália e a Nova Zelândia, restrições foram impostas ao porte de armas depois de episódios envolvendo atiradores. Nos EUA, isso nunca aconteceu. Após 17 anos vivendo no país, já cheguei à conclusão de que nada mudará, a não ser por algumas reformas cosméticas.

Nada mudou quando um atirador matou 27 pessoas, sendo a maioria crianças, em uma escola de educação infantil em Connecticut. Na ocasião, Barack Obama, então presidente dos EUA, chorou na TV ao defender mudanças. Não adiantou.
Nada mudou quando um atirador usou um arsenal numa janela de um hotel para disparar contra uma multidão e matar 58 pessoas que assistiam a um show em Las Vegas.

Nada mudou quando um atirador entrou em uma universidade na Virginia e começou a disparar contra todos que via pela frente. Ao todo, 32 morreram.

Nada mudou quando um homem supostamente inspirado pelo Estado Islâmico invadiu uma boate gay em Orlando e matou 49 pessoas. Nada mudou quando um atirador entrou em uma Igreja Batista no Texas e matou 26. Nada mudou depois de dezenas de ataques de atiradores ao redor de todos os EUA, especialmente em escolas e universidades.

Os massacres cometidos por atiradores já foram normalizados há anos nos EUA.

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