Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.


Palestinos carregam o caixão da jornalista assassinada da Al-Jazeera Shireen Abu Aklel de uma igreja em direção ao cemitério, durante seu cortejo fúnebre em Jerusalém — Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP
Palestinos carregam o caixão da jornalista assassinada da Al-Jazeera Shireen Abu Aklel de uma igreja em direção ao cemitério, durante seu cortejo fúnebre em Jerusalém — Foto: RONALDO SCHEMIDT/AFP

A repressão da polícia de Israel às pessoas que participavam do funeral da jornalista palestina-americana Shireen Abu Aqle precisa ser condenada. As cenas mostram policiais indo para cima inclusive dos que carregam o caixão da repórter (vejam as imagens da violência nesta reportagem do jornal israelense Haaretz). Não há justificativa para uma ação dessas. É um desrespeito com a vítima e com seus parentes que estavam a caminho de enterrá-la em um cemitério cristão de Jerusalém.

Abu Aqle, que trabalhava para a rede de TV Al Jazeera do Qatar e era uma correspondente admirada internacionalmente, foi morta quando cobria enfrentamentos entre forças israelenses e militantes palestinos em Jenin, na Cisjordânia. Há controvérsias sobre quem a matou. Os palestinos afirmam que foram as forças israelenses e Israel diz não ter como cravar quem teria sido responsável, embora algumas autoridades digam terem sido os próprios militantes. Não temos como saber por enquanto e precisamos aguardar investigações independentes. Como sempre ocorre no conflito entre israelenses e palestinos, há narrativas contraditórias e os dois lados, junto com seus simpatizantes ao redor do mundo, seguem se atacando.

O certo é que, em primeiro lugar, a morte de Abu Aqle, uma cristã palestina de Belém de 51 anos com cidadania americana, ocorreu na Cisjordânia quando ela fazia seu trabalho de jornalista e usava capacete e colete com as inscrições “press” (imprensa). Em segundo lugar, a Cisjordânia é um território palestino ocupado por Israel, segundo a comunidade internacional. Portanto as forças israelenses que ali atuavam são de ocupação.

Pode-se justificar que Israel busca se defender legitimamente em suas ações na Cisjordânia para combater terroristas. Ok. Mas o que justifica Israel manter dezenas de assentamentos ilegais com centenas de milhares de colonos vivendo neste território palestino? Note que são coisas separadas. Um ponto é o direito de qualquer nação se defender de inimigos. Neste sentido, Israel tem total direito de agir. Outro é manter a colonização de um território por meio de assentamentos. Não há como aceitar.

Muitos israelenses condenam a ocupação da Cisjordânia e criticam seu governo pela política de assentamentos. Sabem que Israel seria uma das mais admiradas democracias do mundo se os assentamentos fossem removidos. Quem acompanha o conflito sabe que Israel não tem como ser democrático, judaico e ter todo o território entre o rio Jordão e o Mediterrâneo (incluindo a Cisjordânia). Há três alternativas:1) A criação de um Estado palestino (Israel não teria todo o território); 2) A concessão de cidadania aos palestinos (a maioria judaica seria ameaçada); 3) Não permitir a criação de um Estado palestino e nem tampouco a concessão de cidadania (Israel seguiria sendo acusado de apartheid por instituições como a Human Rights Watch).

Claro, muitos acham ser possível manter o status quo, que seria uma quarta opção. Infelizmente, isso pode aos poucos se transformar na 3.

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