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Crise entre poderes

Aproximação de Moraes e Bolsonaro começou a ser gestada por Temer em jantar em SP

Michel Temer e o presidente Jair Bolsonaro

A carta divulgada por Jair Bolsonaro recuando das acusações ao Supremo foi o desfecho de um esforço que começou há duas semanas, em um jantar em São Paulo. O encontro, realizado no dia 26 de agosto, reuniu os ministros Dias Toffoli e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e Luis Felipe Salomão, corregedor do Tribunal Superior Eleitoral e o responsável pela investigação das ameaças feitas por Bolsonaro ao processo eleitoral.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, tinha acabado de recusar o pedido de impeachment de Moraes feito por Bolsonaro, e o presidente da República vinha aumentando a agressividade das acusações feitas ao ministro. 

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Moraes comanda no STF alguns dos inquéritos que mais provocam medo na família Bolsonaro: o das fake news e o que investiga o financiamento de milícias digitais, que disseminam ataques às instituições democráticas. 

No jantar, Temer disse que achava necessário distensionar o ambiente, porque nem Bolsonaro nem o Supremo sairiam ganhando de um conflito tão acirrado. O ex-presidente se ofereceu para tentar fazer uma ponte entre os dois lados, procurando Bolsonaro para uma conversa. Moraes foi ministro da Justiça de Temer e os dois são aliados há muitos anos. Segundo um dos comensais, Moraes disse que não tinha nada contra a iniciativa. 

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No dia seguinte, Temer procurou Bolsonaro e sugeriu uma conversa entre ele e Moraes, usando os mesmos argumentos usados no jantar: uma briga com o Supremo traria a Bolsonaro mais perdas do que ganhos. O presidente ouviu, mas não tomou nenhuma atitude. 

Depois disso vieram o 7 de setembro e as novas ameaças de Bolsonaro à corte, chamando Moraes de canalha e dizendo que não iria mais obedecer a decisões do STF. 

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Na noite de quarta-feira, com a crise instalada, Temer se encontrou novamente com Moraes em São Paulo e se ofereceu para retomar a conversa com Bolsonaro. O ministro então disse que não se opunha, queria apenas poder trabalhar sem sofrer ataques ou campanhas difamatórias. 

Só então Temer telefonou para o presidente, que mandou ir buscá-lo na manhã desta quinta-feira para um encontro no Palácio do Planalto. Do palácio, Temer e Bolsonaro telefonaram para Moraes.  Não se sabe o que disseram, mas interlocutores de Moraes no Supremo dizem que ele está fechado em copas. Assim como a maior parte de seus colegas, vai esperar para ver quanto tempo dura mais essa trégua. 

 

 

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