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DISCURSO na onu

Bolsonaro levou a live das quintas-feiras para o púlpito das Nações Unidas

Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU

Antes de o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU começar, proliferaram especulações sobre seu conteúdo, muitas delas alimentadas por fontes do próprio Palácio do Planalto. 

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Bolsonaro vai oferecer doações de vacinas a países pobres, com destaque para o Haiti e o Paraguai, diziam alguns. Bolsonaro vai falar de como o marco temporal para a posse da terra indígena pode ser nocivo à nossa produção agrícola, sugeriam outros. Bolsonaro vai ser moderado, era uma terceira informação que surgia aqui e ali, lastreada na expectativa de que o novo chanceler, Carlos França, fosse conseguir suavizar o tom defensivo e refratário que adotou em suas aparições anteriores nas Nações Unidas.

Ao final, nada disso se confirmou. Bolsonaro não falou em doar vacinas e nem sequer mencionou o marco temporal dos indígenas. Mas, acima de tudo, não se pode dizer que tenha sido moderado.

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A melhor comparação com o discurso vazio de conteúdo e de sentido errático do presidente da República talvez seja com suas falas nas lives de quinta-feira, quando ele exibe orgulhoso seus conceitos e preconceitos e mistura alhos com bugalhos sem dó. 

Afinal, só mesmo numa live, cercado de acólitos, o presidente poderia se sentir à vontade para afirmar que defende a liberdade de culto acima de todas as coisas, mas em seguida dizer que pretende oferecer abrigo apenas aos refugiados cristãos e não aos muçulmanos. Dizer que apoia a vacinação em massa, mas afirmar que é contra o passaporte de vacinação por uma questão de liberdade individual. 

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Só na live de quinta-feira, apoiado por ministros capazes de mostrar o dedo do meio para o público, Bolsonaro pode achar que não há nada demais em defender o tratamento precoce ("eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial") como se essa fosse uma questão relevante o suficiente para ser abordada num discurso para todo o planeta. E ainda confessar com a cara mais lavada do mundo: "Não entendemos por que muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos". 

Só mesmo estando na live o presidente da República pode acreditar que ninguém vai estranhar se ele disser que seu governo nunca registrou nenhum caso de corrupção, nem se perguntar afinal que nome podemos dar às revelações da CPI da Covid, que trouxeram à tona negociações escusas em torno da compra de vacinas que nem sequer foram autorizadas pela vigilância sanitária

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Os gringos não sabem o que é rachadinha, mas têm acesso ao Google. E os mecanismos de busca ainda não obedecem à lógica das redes bolsonaristas, em que vale adulterar e falsificar vídeos e fotos para vender uma versão da realidade completamente diferente dos fatos.  

Por fim, só nas lives de quinta-feira surgem "momentos Carluxo" como a parte do  discurso que falava de meio ambiente pular do nada para uma frase sobre a família ("temos a família como fundamento da civilização, e a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto") para depois voltar a falar em preservação de florestas. 

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Lógica? Para que lógica?

O que importa para Bolsonaro é ter ido à ONU dizer "suas verdades" ao mundo. E nesse ponto ninguém pode negar: o que o presidente da República exibiu ao mundo hoje, no púlpito das Nações Unidas, é a versão mais fidedigna de seu governo.

Pena que o ministro sanfoneiro não estava na plateia para tocar uma Ave Maria ao final, nem o chanceler brasileiro se animou a fazer sinal de arminha ali na frente dos outros diplomatas. 


 

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