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Forças Armadas

Governo Bolsonaro é recordista em trocas de comando no Exército

Bolsonaro participa de cerimônia do Dia do Soldado com o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, em agosto de 2021

A confirmação da indicação de Marco Antonio Freire Gomes para o Comando do Exército, em substituição a Paulo Sérgio Nogueira, novo ministro da Defesa, marca um novo recorde do governo Jair Bolsonaro: Freire Gomes será o terceiro chefe da Força em apenas quatro anos, o que não ocorreu nem mesmo na ditadura militar.

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A última vez em que houve tanta instabilidade no cargo mais importante do Exército foi na gestão de João Goulart, deposto pelas Forças Armadas em 1964, quando a instituição era comandada pelo ministro da Guerra. 

O cenário político de Bolsonaro, contudo, difere da conflagração entre Jango e o Exército nos anos que antecederam o golpe militar.

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A nova dança das cadeiras no comando do Exército faz parte de uma acomodação que fortalece o núcleo militar do governo. Paulo Sérgio deixará o cargo para assumir a Defesa no lugar de Walter Braga Netto, que deverá ser indicado como companheiro de chapa do presidente pelo PL.

A troca constante de comandantes virou piada entre militares de hierarquias altas. Em conversas de bastidores, comenta-se jocosamente que o Comando do Exército se assemelha ao das polícias militares, onde a rotatividade é bem mais comum. 

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Dados apurados pelo professor da UnB e conselheiro do  Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Arthur Trindade , mostram que o Exército já teve mais comandantes nos últimos 3 anos do que o Distrito Federal e os estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Rio Grande do Sul e Santa Catarina também já tiveram três comandantes gerais. Nesse período, a PMERJ teve um comandante geral.

E se hoje é motivo de chacota, o troca-troca teve consequências traumáticas no passado recente. 

A primeira substituição, quando Edson Pujol foi apeado do cargo por Bolsonaro, ocorreu no contexto da crise militar deflagrada pela demissão de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa. 

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Na ocasião, em um recado cifrado, o militar ressaltou que preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado”. No episódio, caíram também os comandantes da Marinha e da Aeronáutica, que, em protesto à interferência do presidente, deixaram seus cargos. 

Como apurou o blog, a queda de Azevedo e Silva se deu porque o ministro nunca se alinhou completamente a Bolsonaro - assim como Pujol, que contrariou o discurso negacionista do Palácio do Planalto sobre a pandemia, e procurou distanciar a instituição da política enquanto o presidente fazia ameaças golpistas contra o Supremo Tribunal Federal e o Congresso. 

Bolsonaro chegou a dizer que as Forças Armadas “estavam do seu lado” e frequentemente falava em acionar “seu Exército”. Na época, bolsonaristas flertavam ainda com a instauração do Estado de Defesa. A declaração gerou forte reação de Azevedo e Silva, que publicou uma nota frisando a independência das Forças.

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A crise de 2021 foi considerada pelos próprios militares a mais grave desde a demissão de Sílvio Frota do Ministério do Exército (equivalente ao Comando do Exército atualmente), durante o governo do ditador Ernesto Geisel, em 1974. 

Na ocasião, Frota liderava a chamada “linha-dura” das Forças Armadas e tentava se viabilizar para a eleição presidencial indireta de 1978. A candidatura contrariava a preferência do presidente por João Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI), e levou à sua queda. 

Geisel também teve três comandantes do Exército ao longo de seu mandato (1974-1978), mas pela força do imponderável: o escolhido, o general-de-exército paulista Vicente de Paula Dale Coutinho, faleceu apenas dois meses após assumir o cargo. Foi substituído por Frota, demitido em 1977 e sucedido por Fernando Bethlem.

 


 

 

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