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Eleições no Rio

Freixo e Ceciliano, uma aliança incômoda no Rio

O presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), durante jantar na casa de Marcelo Freixo (PSB) com a presença de Lula e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann

A decisão da cúpula do PT de contratar pesquisas internas para avaliar se a candidatura de Marcelo Freixo (PSB) ao governo pode ser uma "limitação" para Lula no Rio de Janeiro, na expressão usada pelo petista Jilmar Tatto, é o sinal mais evidente de um mal-estar que toma corpo há meses na aliança entre o PT e o PSB fluminenses.

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O nó maior está no fato de que nem o PT e nem o PSB querem abrir mão de seus candidatos ao Senado para compor a chapa, respectivamente o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o André Ceciliano, e o deputado federal Alessandro Molon.

Mas a aliança local entre Ceciliano e o governador Cláudio Castro (PL) também embaralha o cenário, porque os dois jogam juntos na política fluminense – mesmo Castro sendo o candidato de Jair Bolsonaro.

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O resultado da tensão é visível nas entrevistas, nos eventos e nas postagens em redes sociais de ambos. Embora estejam juntos sempre que a ocasião exige, nem Ceciliano e nem Freixo fazem questão de exibir um ao outro. 

Em entrevistas, o petista evita inclusive citar o nome Freixo. Na última, à Folha de S. Paulo, foi preciso perguntar três vezes quem ele considerava o melhor candidato ao Palácio da Guanabara para que mencionasse o socialista. “Melhor candidato tem que ser para o povo”, respondeu de primeira.

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Questionado outra vez, despistou de novo: “A gente sempre torce que o nome eleito seja melhor do que o anterior”. Só na terceira tentativa respondeu: “Vou com Freixo, que é o candidato do meu partido"

Ao GLOBO, o petista disse que não há hesitação. Ao telefone, enquanto ia para um evento em que Freixo também estaria, Ceciliano afirmou que suas falas foram tiradas de contexto. “O candidato apoiado pelo meu partido é o Freixo, meu palanque será o do Freixo”. 

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Já Freixo preferiu não conversar com a reportagem sobre o assunto. Procurada, sua assessoria de imprensa disse que ele não falaria e nem responderia perguntas.

No palanque do evento de lançamento da candidatura de Ceciliano, pelo menos, Freixo não estava. Ele não foi ao evento, que reuniu mais de 10 mil pessoas numa casa de shows na Baixada Fluminense no último dia 30. 

No lugar, foi exibido uma gravação de Freixo. Um vídeo com a cena circulou no dia seguinte nos celulares de alguns de seus aliados. Mostrava o telão com a imagem do pré-candidato do PSB enquanto os convidados conversavam no salão de costas para o telão, em meio aos preparativos para o início do evento. De repente, a fala de Freixo é abruptamente cortada e entra na tela o número do PT. E foi tudo. 


Nas redes sociais, o padrão se repete. Ceciliano não economiza citações a Lula e ao PT e publica fotos até mesmo com rivais de Freixo na disputa pelo Palácio Guanabara, como Felipe Santa Cruz (PSD). 

Ceciliano publicou selfie com o pré-candidato do PSD ao governo do Rio, Felipe Santa Cruz, rival de Freixo, e o presidente da Câmara Municipal do Rio, Carlo Caiado (sem partido)

No dia em que o PCdoB confirmou apoio à chapa, no último dia 6ele publicou uma foto com os participantes do evento, incluindo Freixo. Mas a legenda só fala da candidatura ao Senado, não menciona que o candidato ao governo é o deputado do PSB. Além disso, Molon, que estava no evento, foi cortado.  

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Freixo, por sua vez, enalteceu a presença de “lideranças do PT” e de outras siglas, mas não citou o nome de Ceciliano. Na rede do pré-candidato ao governo, o correligionário Molon aparece em quase todas as fotos.  

Ao registrar evento que selou apoio do PCdoB do Rio à candidatura de Freixo (PSB) ao governo com Ceciliano (PT) concorrendo ao Senado, petista não mencionou aliado na legenda e cortou Molon (PSB), que almeja disputar o mesmo cargo

O clima já estava azedo depois que Ceciliano compareceu ao aniversário de Cláudio Castro em um bar luxuoso no Jockey Clube do Rio, em 29 de março. Naquela mesma noite havia um jantar com Lula e Freixo na casa do cantor Martinho da Vila, mas Ceciliano não foi.

Preferiu ficar no evento, onde também estiveram bolsonaristas como o próprio filho mais velho do presidenteFlávio Bolsonaro (PL-RJ), e representantes da velha política como Marco Antonio Cabral (MDB), filho do ex-governador Sergio Cabral.

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No dia seguinte, Freixo publicou um vídeo em frente ao local criticando a opulência da celebração. “Foi nesse lugar que o governador do Rio, Cláudio Castro, comemorou o seu aniversário para mais de 1.200 pessoas. Uísque, camarão empanado, tudo do bom e do melhor - para eles”, disse o pré-candidato. “O governador disse que quem pagou essa festa foram seus secretários em uma vaquinha. Você acredita se quiser”. 

 

 

No mês seguinte, em 12 de abril, foi Freixo quem fez aniversário em um mar na Zona Norte, mas Ceciliano faltou. Oficialmente, alegou que precisaria se ausentar do Brasil para não ser obrigado a assumir o cargo de Cláudio Castro, que estava em viagem oficial. Se o fizesse, ficaria inelegível.  

Mas havia um detalhe: Castro deixou o país só dois dias após a comemoração do aniversário de Freixo. Enquanto o socialista brindava com aliados, incluindo petistas, Ceciliano visitava Jerusalém ao lado do ex-prefeito de Duque de Caxias, o bolsonarista Washington Reis (MDB).    

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Questionado sobre a viagem antecipada, o presidente da Alerj afirmou que ela tinha sido programada para o feriadão de Tiradentes, que coincidiu com o Carnaval, e optou por uma estadia maior do que a necessária por uma economia de passagens. Ressaltou, ainda, que não deixou o aniversário do aliado passar despercebido.

“Meu filho Andrézinho (pré-candidato a deputado estadual pelo PT) esteve lá. Não tem nada disso, são apenas fofocas”, arrematou. 

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Ceciliano pontuou, no entanto, que o apoio do PT é condicionado à vaga do Senado na chapa de Freixo, e que não há espaço para a candidatura de Molon. “Caso o acordo seja descumprido, é certo que o PT apoiará Freixo apenas informalmente. É isso que o GTE (grupo formado pelo PT para avaliar a situação do Rio) está levando em conta”. 

O próprio PT está dividido. Um segmento minoritário vê com bons olhos a aproximação entre o governador e o presidente da Alerj, e acha que Freixo não será capaz de formar um palanque forte para Lula no Rio, berço eleitoral de Jair Bolsonaro.  

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Acreditam, ainda, que um movimento “Castro-Lula” pode vir a prosperar no eleitorado - pesquisas e trackings partidários mostram o governador do Rio em viés de crescimento e Lula em queda. Em entrevista ao GLOBO, Castro disse apoiar Bolsonaro, mas frisou que não criticaria Lula durante a campanha. 

Há também os que defendem que Molon dispute a cadeira do Senado como candidato avulso, o que é permitido pela jurisprudência eleitoral. 

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Molon tem aparecido nas pesquisas com índices de intenção acima dos 10% e é visto como um nome de fato competitivo para derrotar o senador incumbente Romário (PL).  O deputado afirma que não vai renunciar à candidatura. 

Dado o tamanho do impasse, o mais provável é que a questão seja resolvida pelas executivas nacionais das duas siglas. A pesquisa encomendada pelo PT é só o início do processo.

 


 

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