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Zema decide ficar longe de Bolsonaro no primeiro turno

O presidente Bolsonaro ergue o braço do governador Romeu Zema (Novo) durante evento da Fiemg

Na batalha pelos votos de Minas Gerais, Jair Bolsonaro vem procurando colar sua imagem ao governador Romeu Zema (Novo), que disputa a reeleição e está em vantagem nas pesquisas. Mas, se depender de Zema, o presidente da República vai ficar esperando. 

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Segundo interlocutores do governador mineiro, Zema decidiu privilegiar o crescimento do próprio partido e se afastar de Bolsonaro, pelo menos até o primeiro turno. 

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Na avaliação de Zema, que em 2018 ganhou impulso decisivo nos últimos dias da campanha ao declarar voto em Bolsonaro, a proximidade com o presidente da República em Minas poderá prejudicá-lo entre eleitores que já pretendem votar no governador, mas rejeitam Bolsonaro. 

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Para as eleições deste ano, Bolsonaro chegou a ser instado por lideranças do PL a convidar Zema para o partido, ao qual já tinha sido  filiado durante quase 20 anos. Mas o presidente perdeu o "timing" do convite,  e desde então já viu Zema flertar com Sérgio Moro e agora se posicionar de forma independente. 

A postura de Zema levou o PL de Jair Bolsonaro a filiar o senador Carlos Viana, então no MDB, para disputar o governo. 

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Mas Viana não demonstrou, até o momento, sinais de que conseguirá enfrentar nem a máquina do governo mineiro e nem o prefeito Alexandre Kalil, do PSD, que disputa a eleição com o apoio e o peso político de Lula. 

No último dia 26, ignorando Viana, Bolsonaro viajou a Minas e mandou o recado mais contundente até o momento para Zema. 

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Durante um evento da Federação de Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o presidente disse que não se deve mexer “em time que está ganhando”. Na sequência, agarrou e ergueu o braço do mineiro diante das câmeras. O gesto, segundo apurou a equipe do blog, foi improvisado e constrangeu Zema.

Questionado em entrevista ao GLOBO nesta quinta-feira se sentia desconforto com a alcunha de governador bolsonarista, Zema respondeu com uma ironia: “Bolsonaro poderia ser chamado de presidente zemista também, concorda?”. 

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Na mesma ocasião, reiterou que abrirá palanque apenas para D’Ávila, salvo se o partido entender que deverá retirar a candidatura própria para “apoiar A, B ou C”. Mas pessoas próximas ao governador disseram ao blog que esse cenário é completamente remoto.

Além de ser o segundo maior colégio eleitoral brasileiro, Minas tem a aura de ser o local onde venceram todos os presidentes eleitos desde a redemocratização. 

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O estado também é crucial para a sobrevivência do Novo. Estrategistas da campanha de Zema calculam que ele deve ajudar a eleger quatro deputados federais da sigla. 

O partido tem hoje 8 deputados e planeja eleger 11, mas os mais otimistas falam em 15 parlamentares, entre eleitos e reeleitos. 

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Segundo essas mesmas fontes, o único nome que poderia ter aglutinado o apoio do Novo seria uma candidatura de centro liderada por Eduardo Leite, que deverá disputar mais um mandato como governador do Rio Grande do Sul. 

Agora, Zema tenta se equilibrar entre o eleitorado bolsonarista, mais próximo da agenda liberal do Novo, e do mineiro lulista do interior, onde o governador goza de grande popularidade. Ao mesmo tempo, aposta no baixo índice de conhecimento de Kalil no interior. 

A equipe de Zema estima que, em 2018, dois milhões de eleitores de Fernando Haddad no segundo turno votaram nele. 

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Além disso, Zema venceu em regiões que  costumam votar em peso no PT, como o norte do estado e o Vale do Jequitinhonha. O voto “Lulema” está na mira da equipe do governador, mesmo sem apoiar o petista. 

“O eleitor do Haddad que votou no Zema continua com ele. O apoio do Bolsonaro não nos faz crescer", diz um dos estrategistas da campanha do governador. “Não é à toa que o Lula não fala mal do governador. Seu eleitor está satisfeito com Zema. Ele vai ganhar quem batendo nele?”. 

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"No lugar de Viana,  eu ficaria constrangido de o presidente sequestrar por duas vezes o braço do governador. Não é por acaso, pois para o Bolsonaro é ruim que o candidato dele não cresça a despeito da chancela dele.”

Procurado, Viana não respondeu até o fechamento desta reportagem. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, ele admitiu a possibilidade de retirar a candidatura caso Bolsonaro entendesse que outro quadro direita, como Zema, fosse mais viável. Uma coligação com o PL, contudo, é vista como “improvável” pelo entorno do governador mineiro. Pelo menos até o primeiro turno, Zema vai se manter com Felipe D’Ávila. 

 


 

 

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