Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

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Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato


Após tentativas frustradas de embarcar para o Brasil desde a última sexta-feira, Gabriela Sivini, o marido Flávio e os dois filhos têm passagem marcada para amanhã com destino a Recife. Calejados devido aos dois voos cancelados e mais de dez horas nas filas no aeroporto de Lisboa em busca de informações ou remarcações, eles dizem que estão reticentes e decepcionados com a companhia aérea portuguesa TAP. Eles só acreditam quando estiverem em "modo avião" e distantes do caos aéreo europeu.

Somente ontem, 32 voos foram cancelados na capital até o início da noite, sendo 14 da TAP. Nesta terça-feira pela manhã, foram anunciados 27 cancelamentos em Lisboa, quatro no Porto e dois na Ilha da Madeira. A soma dos voos cancelados desde o fim de semana se aproxima dos 190.

Sivini é especialista em saúde da mulher e revelou ao Portugal Giro que um dos filhos necessita de um medicamento, que estava em uma das quatro malas grandes que já foram despachadas. Reuniam roupas, objetos e memórias de um ano da vida da família em Cascais, nos arredores de Lisboa. O apartamento alugado já foi entregue.

— As malas, só Deus sabe onde estão. Vamos tentar resgatar, porque passamos horas na fila e não tínhamos condições físicas de continuar (a esperar pela devolução). Fomos abandonados, totalmente abandonados pela TAP. Até hoje (ontem), já gastei mais de € 2 mil (R$ 11 mil) em hospedagem, alimentação, transporte, roupas e o remédio dele, que consegui comprar porque, por sorte, a receita ainda estava na validade… E a conta vai subir, porque somos quatro — disse Sivini.

O prejuízo profissional também aguarda o casal no Brasil. Ela dá palestras e remarcou algumas. Flávio é médico e precisou cancelar consultas, contou Sivini. A saga da família é uma entre milhares em meio ao novo caos aéreo. Algumas, ela própria testemunhou nos últimos dias.

— As passagens estavam compradas desde agosto de 2021 para 1º de julho, quando houve o primeiro cancelamento. Nosso avião vinha de Angola e foi parar no Porto. Chegamos 13h ao aeroporto para o voo de 17h, mas só foram dizer que foi cancelado às 23h. Já estávamos desesperados, homens batendo no balcão, xingando, as crianças assustadas. A TAP não dizia nada. Esta foi a única noite que deram voucher de hotel. A caminho do hotel, até uma cadeirante teria ficado para trás se um casal não ajudasse a entrar no ônibus — contou Sivini.

No dia seguinte, novo voo foi cancelado. Mas, dessa vez, segundo ela, nada de vouchers de hospedagem:

— Recebemos apenas vouchers de € 6 para alimentação no aeroporto. Perguntei: e o do hotel? A funcionária da TAP disse que não existia. Mas como, se peguei ontem? Vou ficar pela minha conta? Sim, disse ela, prometendo reembolso.

No terceiro dia de aeroporto, para onde se dirigiu para tentar remarcar o voo, conseguiu passagens para amanhã, um adiantamento de uma decolagem agendada para dia 9.

— Não é passar lá e resolver, porque ir ao aeroporto significa perder um dia na fila. Por isso, fomos para um hotel em Cascais, onde meus filhos têm amigos que ajudam a amenizar o sofrimento. Nós temos essa condição, mas e quem não tem? É desumano — garantiu Sivini, que diz que vai processar a companhia.

A assessoria de imprensa da TAP informou que todos os cancelamentos seguem o procedimento de reembolso mediante apresentação de notas.

Em carta direcionada aos clientes, a presidente da TAP, Christine Ourmières-Widener, pediu desculpa e reconheceu que a crise não deve passar logo. Ela informou que as operações de voo foram do zero “para cerca de 90% dos níveis pré-pandemia de Covid-19”.

— Reconhecemos que não estamos a oferecer o serviço de excelência que planejamos e que queremos que experiencie conosco, face à crise que o transporte aéreo atravessa e que, de acordo com as previsões mais recentes, não deverá melhorar nas próximas semanas, fruto do aumento regular das viagens de lazer e de negócios. Por tudo isto, apresentamos-lhe as nossas mais sinceras desculpas — escreveu Ourmières-Widener.

Cinco novos voos do Porto ao Brasil

Enquanto o caos reinava em Lisboa, a TAP inaugurou no sábado cinco novos voos entre o Brasil e o Porto. Serão três voos semanais desde São Paulo às terças, quintas e ao sábado. E outros dois entre o Rio e a Invicta, às sextas e segundas.

Em entrevista aos jornalistas estrangeiros em Portugal em dezembro, Ourmières-Widener garantiu que o Brasil é um mercado estratégico e adiantou a abertura de dezenas de rotas.

Os novos voos começam numa era de rusgas entre a prefeitura da cidade e a TAP, criticada pelo executivo municipal de privilegiar Lisboa.

Já o presidente do Turismo do Porto e do Norte, Luís Martins, disse que negocia com uma companhia brasileira para a cidade ser a sua base de operações no país.

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