Portugal Giro
PUBLICIDADE
Portugal Giro

Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

Informações da coluna

Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato


Reprodução de mensagem anônima — Foto: Arquivo Pessoal
Reprodução de mensagem anônima — Foto: Arquivo Pessoal

No momento em que os brasileiros precisam de informação para lidar com os problemas causados pela sobrecarga do serviço de imigração em Portugal, as mulheres de um dos principais grupos de apoio têm sido alvo de assédio sexual e xenofobia.

A denúncia foi feita por Juliet Cristino, fundadora do Comitê dos Imigrantes de Portugal. Ela disse ter recebido um pedido de amizade seguido de um vídeo pornográfico, assim como afirma ter acontecido com outras integrantes. A coluna teve acesso às mensagens.

— Por sermos brasileiras, veem a gente como objeto sexual. Entram nos grupos e ficam mandando pornografia para as mulheres. Recebi o relato de uma participante, fui bloquear o perfil denunciado e vi que ele mandou (vídeo) para mim também. E há pessoas que não falam… — disse Cristino.

O remetente envia mensagens anônimas e tem sua identidade escondida atrás de um perfil falso. Assim, evita ser alvo de investigações após as denúncias serem encaminhadas à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), que aumentaram, como mostrou o Portugal Giro.

Uma carioca que foi alvo de assédio e xenofobia enviou uma das mensagens ao Portugal Giro, que pode ser lida na reprodução acima. Nela, o remetente insinua que a carioca está em Portugal apenas em busca de marido.

— Infelizmente, ainda lidamos muito com a xenofobia aqui. Acredito que, por sermos imigrantes, não teríamos voz — contou a carioca.

Apesar do ceticismo, a carioca informou que faria uma queixa à CICDR, mas não confirmou se havia concluído o processo. E contou não ter sido a primeira vez que enfrentou xenofobia. Ela contou que sentiu uma sensação de impotência.

— Já aconteceu no trabalho e foi resolvido lá mesmo. Uma colega de trabalho disse que havia brasileiras demais e deveriam contratar portuguesas. Depois, postou uma piada com um palavrão como indireta. A pessoa já havia arrumado outros problemas e, uns meses depois, foi despedida — assegurou a carioca.

Mariana Braz é mestre em psicologia clínica, técnica de apoio à vítima e idealizadora do projeto Brasileiras Não Se Calam. Ela explica os efeitos do assédio e da xenofobia nas mulheres brasileiras que se organizaram e estão mobilizadas em torno de uma causa em Portugal. E como isso pode fortalecer o espírito de luta

— No caso de mulheres imigrantes que são ativistas e/ou em que as violências podem ser consideradas mais graves, como ameaças de morte, perseguição, e agressões físicas e sexuais, por exemplo, os sintomas podem ser mais intensos e elas podem apresentar também o transtorno do estresse pós traumático. (...) Entretanto, conseguem direcionar a indignação e a frustração que sentem para lutar em prol de uma sociedade mais justa para todas — explicou Braz.

Mais recente Próxima

Inscreva-se na Newsletter: Portugal Giro