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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

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Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato


A empresária brasileira Carolina Sales em sua loja em Lisboa — Foto: Divulgação
A empresária brasileira Carolina Sales em sua loja em Lisboa — Foto: Divulgação

A empresária brasileira Carolina Sales se organizou para evitar que a inflação recorde em Portugal azede o negócio. Aberta desde o início de junho, sua loja em Lisboa mantém o padrão de qualidade que fez do seu brigadeiro um dos mais famosos do Brasil. Uma produção que já começou vendendo muito, mas que não é barata.

— Eu achei as coisas muito caras e estava convertendo meu dinheiro para investir na loja. Com a abertura, vou começar a viver em euros. E nos organizamos para esta inflação, porque o volume de venda é menor e os insumos estão mais caros, principalmente os de qualidade, dos quais não abro mão. E ninguém quer pagar mais caro. Em Portugal, há tendência de comer pior, mas pagar menos. É um conceito enraizado de muito volume e tudo barato, diferente do consumismo do Brasil — explicou a mineira ao Portugal Giro.

A inflação em Portugal chegou aos 8,7% em junho, o índice mais alto desde dezembro de 1992, informou o Instituto Nacional de Estatística (INE). É um número ligeiramente superior ao da Zona Euro, que está em 8,6%, outro máximo desde a criação da moeda única.

As altas são puxadas pelo aumento do barril de petróleo, impulsionada pela invasão da Ucrânia. Em efeito cascata, os preços dos serviços de energia e dos alimentos dispararam e fizeram a parte da sociedade renda mais baixa rever os hábitos de consumo, que inclui possíveis cortes de refeições fora de casa. Um desafio para Sales e também para entregadores e motoristas de empresas de aplicativos, nas quais os brasileiros são maioria.

— É mudar a estratégia e concentrar no público que valoriza produtos de alta qualidade. Um restaurante tradicional cobra € 2,5 em um bolo de brigadeiro intragável e € 0,70 no café com grãos misturados. Meu bolo de chocolate belga custa € 3,5 e o café, € 0,80. Não são valores turísticos de Lisboa. Mas tenho de ser cautelosa, porque estou em uma zona residencial em Oeiras, não é igual a um shopping. Mas estou fugindo de shoppings — contou Sales.

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A aversão aos shoppings ganhou força após o trágico assalto a uma joalheria no Village Mall, na Barra da Tijuca, que terminou com a morte do vigilante Jorge Luiz Antunes, de 49 anos. Os criminosos renderam funcionários do quiosque de chá onde funcionava a loja da empresária.

— Era para ter sido com as minhas funcionárias, o que só reforça minha decisão de deixar o Rio de Janeiro e vir para Portugal. Meu marido foi assaltado duas vezes, assim como a minha mãe, que ficou com uma arma apontada para a cabeça. E, no fim, mesmo com inflação, no Brasil gastamos mais, porque nossos impostos não são revertidos em saúde, educação e segurança — disse Sales.

Na outra ponta do sistema, o motoboy e advogado brasileiro Marcel Borges ainda luta contra a violência contra a categoria em Portugal. E, agora, sofre com a inflação, que elevou o preço dos combustíveis e eliminou o lucro da categoria, formada em grande parte por empreendedores autônomos. O número estimado desses trabalhadores é de 100 mil, com maioria brasileira. Ele será um dos representantes na audição pública promovida hoje pelo Bloco de Esquerda no Parlamento, que irá tratar dos direitos dos trabalhadores das plataformas.

— A gente não consegue mais trabalhar com margem de lucro. É trabalhar para pagar contas, manutenção de moto/carro, gasolina, aluguel de veículos, para quem não tem. Só complicou a vida. Uma plataforma pagava € 0,42 por quilômetro percorrido e agora paga € 0,24. A situação está muito complicada — declarou Borges.

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