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Investimento

Brasileiros embarcam em busca dos milionários vistos dourados de Portugal, que acabam este ano

O empresário Marcos Rocha e família: apartamento novo de € 500 mil em Lisboa

Recomeçou a corrida em busca de uma caríssima cidadania dourada de Portugal. A reabertura dos voos de turismo e a proximidade do fim do programa de vistos gold no Porto, Lisboa e Algarve para fins de habitação fazem com que empresários e investidores embarquem rumo ao país para fecharem negócios milionários. Os brasileiros já investiram mais de R$ 5,2 bilhões neste visto VIP. 

É o que planeja fazer em outubro o empresário Marcos Rocha, da área financeira e que vive na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Ele comprou um apartamento novo de € 500 mil (cerca de R$ 3 milhões) em uma área nobre de Lisboa pela internet durante a pandemia de Covid-19 com o auxílio da empresa Global Trust.

- Optamos por um novo porque não tínhamos como viajar para Portugal em função das restrições da pandemia. A empresa fez “lives” conosco nos apartamentos que pré-selecionamos. Possivelmente em outubro, vamos conhecer e mobiliar o apartamento - disse Rocha ao Portugal Giro.

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Rocha conta que tentava obter cidadania ou residência na Europa via família italiana da sua esposa, mas o processo não avançou. Em Portugal também é burocrático.  Mas não impede que os brasileiros sejam a segunda nacionalidade beneficiada com os gold (1.031 vistos), atrás dos chineses (4.972). Finalizados os trâmites legais, o empresário e família receberão autorizações de residência e, em cinco anos, a cidadania portuguesa.

- Meu objetivo é investir na última janela de oportunidade dos vistos gold com imóveis em Lisboa. Não descarto emigrar, a depender do destino dos filhos. Minha filha mais velha já vive na Irlanda, meu filho do meio está aplicando para graduação em Londres e a filha mais nova possivelmente seguirá o mesmo caminho. Depois da conclusão do investimento e do processo legal de aplicação (em novembro), o visto gold poderá ser concedido em até seis meses. Após um período de cinco anos, teremos a opção de aplicar para a cidadania - contou Rocha, que esteve em Portugal em 2017.

Beatriz Santos, advogada da Exeo, escritório com filiais no Canadá e em Portugal especializados nos gold, confirma a tendência de visita virtual, que começou na pandemia de Covid-19, antes de fechar negócio pessoalmente. Mas, às vezes, a viagem nem é necessária.

- Brasileiros que têm preferência por investir em imóveis em grandes centros têm fechado negócio mesmo que com visitas virtuais às propriedades. 

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Governos europeus trocam investimento, seja imobiliário (€ 500 mil propriedade nova) ou em fundos (a partir de € 350 mil em Portugal), pelo acesso de cidadãos de países terceiros ao Espaço Schengen, de livre circulação entre os signatários do bloco. Cada programa tem um nome distinto e em Portugal foi apelidado de gold, ou vistos de ouro/dourados. Oficialmente, é Autorização de Residência para Atividade de Investimento - ARI. A medida, no entanto, é polêmica e constantemente vista como pouco transparente.

A asfixia imobiliária em Lisboa e no Porto, onde os preços subiram muito com ajuda dos gold, e a falta de investimentos e população no interior de Portugal fizeram o governo alterar o programa, que deixará de existir em 2022 para investimentos imobiliários de habitação nas duas maiores cidades e no Algarve.

Imóveis localizados nos centros destas cidades deixaram de ser habitados pela população local, incapaz de pagar os preços dos aluguéis, inflacionados pela especulação imobiliária. Ainda será possível obter visto gold através da compra de imóveis nestes locais após o fim do ano, mas apenas para fins comerciais.

Assim, recomeçou a corrida, porque chegou a fase limite para aceitação e análise da documentação, que pode levar até três meses. Empresas especializadas no mercado brasileiro consultadas informaram que houve aumento de procura.

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A Global Trust diz que parte de seus clientes preferiu esperar pela reabertura dos voos de turismo para concretizar pessoalmente a operação iniciada virtualmente.  São clientes do Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco. A maioria prefere apartamentos em áreas nobres da capital ou em Cascais. Matosinhos, na área metropolitana do Porto, está na mira.

Na Vou Mudar para Portugal, havia cinco clientes neste perfil de vistos dourados em busca de imóveis antes da reabertura dos voos não essenciais, em 1º de setembro. Na retomada, o número subiu para 18 processos em curso e outros 22 agendados. Dona da empresa, a carioca Patrícia Lemos contratou mais funcionários para acelerar o atendimento.

- O mercado está muito aquecido. Tem acontecido de um cliente ver imóvel na faixa do € 1 milhão, gostar, ficar inseguro e, no período da tarde, este imóvel ser vendido para outra pessoa. Tem a pressão de resolver até o fim do ano por causa das mudanças e esta pressão de mercado - contou Lemos.

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A empresária informa que os clientes são do Rio e de São Paulo e buscam imóveis em Lisboa. Um deles prefere Braga. Apesar da recente valorização das cidades menores e das iniciativas de repovoamento do interior, a capital tem sido mais atrativa na empresa nesta fase.

- O brasileiro não vê o interior ainda. Não consegue ver valor fora dos grandes centros. A corrida atual reflete um movimento que já existia anteriormente: o maior percentual de pessoas em Lisboa - disse Lemos.

Na Una.pt, o movimento é distinto. Com aumento de procura em torno de 50% este mês, a presidente da empresa, Fernanda Garcia, diz que o interior já aparece no mapa dos brasileiros.

- É possível observar uma mudança no perfil de investimento de quem busca residências neste período. Antes o foco era Lisboa e Porto, mas agora o número para casas no campo e regiões praianas cresceu de maneira significativa. Também a região do Alentejo - afirmou Garcia, que fechou dois contratos este mês:

- Temos muitos clientes com passagens agendadas para a segunda quinzena de setembro e primeira semana de outubro para visitar imóveis e finalizar.

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Desde o início de setembro, a procura de brasileiros por vistos gold na Atlantic Bridge aumentou 50% em relação à média dos últimos 60 dias. Empresários e profissionais diversos, entre 40 e 60 anos, maioria de São Paulo e Rio, formam o perfil dos clientes da empresa. Buscam a cidadania para a família mesmo sem vontade de residir em Portugal. Também houve aumento do interesse nos fundos de investimento, com rentabilidade e processo mais ágil.

Ao todo, o programa de vistos gold em Portugal captou cerca de de € 5,9 bilhões em quase uma década. Em agosto, foram € 35 milhões, 59,7% a mais que em julho, mas menos 38,7% que em agosto de 2020.

Foram concedidas 9,9 mil autorizações de residência, a maioria como contrapartida pela compra de imóveis. Também é possível obter o visto com a criação de postos de trabalho, mas apenas 20 processos foram feitos desta maneira. 

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