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Transtornos

Brasileiros enfrentam o caos devido ao cancelamento de 650 voos em Portugal

Passageiros no aeroporto de Lisboa durante a pandemia de coronavírus em foto de arquivo

O cancelamento de 650 voos em Portugal levou o caos aos aeroportos. Centenas de brasileiros foram impedidos de viajar, além de terem enfrentado outros transtornos. Parte deles chegou a passar horas no aeroporto de Lisboa, o mais afetado, à espera de solução para embarcar, desembarcar ou retirar bagagens.

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Os reflexos de uma paralisação de dois dias dos funcionários da empresa Groundforce, que dá apoio em terra às companhias aéreas, ainda são sentidos na manhã desta segunda-feira (19) na capital e no Porto. 

Dos 14 voos com origem no Brasil entre o domingo e a manhã de hoje, apenas quatro foram mantidos. No total do fim de semana, dos 1.049 voos previstos, 399 foram mantidos. Voos de turismo seguem proibidos.

A empresa de logística é detida pela Pasogal sociedade de Alfredo Casimiro (50,1%), e pela TAP (49,9%), que enfrenta dificuldades financeiras, teve prejuízo de € 1,2 bilhão em 2020, ano da explosão da pandemia de Covid-19, e iniciou uma onda de demissões e reformulação.

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Os passageiros sentiram os efeitos ainda no Brasil. Informações desencontradas sobre os voos cancelados chegavam a todo instante por mensagens e e-mails.

Bianca Martinelli, filha de uma senhora que vive em Maricá, município do Rio de Janeiro, recebeu no sábado uma mensagem de cancelamento do voo de sua mãe no dia seguinte. 

Mensagens enviadas pela TAP à Bianca Martinelli

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A menos de quatro horas do embarque, outra mensagem confirmava a decolagem e ela teve que correr para tentar cumprir os 64km de distância num carro chamado por aplicativo até o Aeroporto Tom Jobim a tempo de sua primeira viagem ao exterior.

- Ela chegou em cima da hora no aeroporto e conseguiu embarcar. Domingo pela manhã, entramos no site do aeroporto de Lisboa e o voo fora cancelado. Fiquei duas horas tentando falar com a TAP, e nada. O voo dela era às 20h35m. Às 16h01m, recebi nova mensagem dizendo que o voo havia sido cancelado por conta da greve. Às 16h08 recebi um novo SMS dizendo que o voo estava confirmado. Ela estava de pijama e nem tinha almoçado. É uma senhora de 64 anos que nunca viajou pra fora. Ficou desesperada, tomou um banho rápido, ficou muito nervosa - contou Martinelli, que vive em Lisboa e completou:

- Ela me mandou mensagem dizendo que o voo estava super lotado. Eu fiquei de 20h até meia-noite ao telefone tentando monitorar ela. Fiquei muito nervosa e ela também. Era para ser um voo super agradável, a primeira viagem dela ao exterior para ver a neta, que acabou de nascer, e a outra neta que ela não vê há um ano. Mas foi terrível, estressante e desgastante.

Quando foi buscar a mãe no aeroporto, Martinelli encontrou o seguinte cenário:

- O aeroporto estava um caos, com muitos repórteres filmando. E agentes do aeroporto dando água para as pessoas em filas enormes. Minha mãe chegou bem.

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Quem conseguiu chegar, enfrentou obstáculos. As malas, por exemplo, ainda podem estar no aeroporto ou até mesmo no avião. A assistente social Aliana Lage chegou de Salvador no sábado. E, desde então, viveu uma saga para retirar a bagagem.

 - Acabamos de retirar as bagagens nesta segunda-feira, mas chegamos no sábado. Estava no voo que chegou de Salvador e ninguém conseguiu retirar as malas, uma grande confusão. Quando chegamos aqui, nem os pilotos sabiam da greve. Ficamos mais de uma hora parados sem poder descer, até que vieram os ônibus e nos levaram à Imigração, onde tinha uma fila enorme. Passamos e veio a agonia das bagagens. Ficamos de 11h às 17h na esperança de conseguir retirar as malas, mas em vão. Não conseguia fazer reclamação na TAP, porque o site só dava erro. Então, decidi esperar até hoje (19) para ir ao aeroporto - contou Lage.

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Outra reclamação constante dos passageiros afetados pelo cancelamento dos voos diz respeito ao reembolso dos testes de Covid-19 exigidos no embarque. A auxiliar de geriatria Thaíse Gonçalves teve o voo direto para Lisboa cancelado em Belo Horizonte quando voltava a Portugal, onde vive há seis anos. Pagou R$ 800 pelos testes RT-PCR da família. Terão que refazer hoje para o novo embarque amanhã, desta vez com escala em São Paulo. E ainda não recebeu garantia de reembolso.

- Ontem, fiquei duas horas na linha (da TAP, para solicitar reembolso) e acabou por cair e não consegui atendimento. O teste foi R$ 200 reais, com o desconto de parceria de uma empresa com a TAP. Como somos uma família de quatro, o total foi R$ 800.

O marido de Thaíse, Jacinto, montador de placas de gesso, voltaria a trabalhar amanhã, terça-feira, e perderá um dia de trabalho. 

O cancelamento do voo no domingo fez a física carioca, e pesquisadora na Universidade Nova de Lisboa, Roberta Leitão, perder o aniversário da mãe. Ela diz ter pago R$ 90 pelo teste e espera ser reembolsada

- Prejudicou pessoalmente, porque foi aniversário da minha mãe. Meu voo Lisboa-Rio foi remarcado para amanhã às 23h. Fiz outro teste e enviei a fatura no site da TAP. Agora, é aguardar para para ver a resposta - afirmou Leitão.

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Os funcionários da Groundforce querem pontualidade no pagamento de salários e dos subsídios em falta. Encerrram a greve à meia-noite, mas prometem uma nova paralisação no fim de julho.

A TAP foi procurada e ainda não respondeu.

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