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Retomada

Cidade de Portugal tem milhares de vagas e poucos aparecem para trabalhar

O centro de Castelo Branco, cidade do interior de Portugal

Preencher vagas neste verão em Castelo Branco é uma tarefa quase impossível para as empresas da região do interior de Portugal.

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Apesar do movimento migratório que mantém 1,6 mil brasileiros no distrito administrativo de Castelo Branco (um aumento de 100% entre 2015 e 2020), entidades sindicais estimam que ainda faltam milhares de trabalhadores para vagas abertas recentemente.

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O que mudou em relação ao último ano é que, neste momento de retomada econômica pós-quarentena para conter a pandemia de Covid-19, as empresas voltaram a crescer, abraçaram novos projetos e precisam contratar. Mas não há mão de obra suficiente.

Na multinacional Aptiv, em fase de expansão em Castelo Branco (56 mil habitantes) desde 2020, há 500 vagas e poucas delas teriam sido preenchidas recentemente, segundo representantes sindicais.

A empresa produz componentes elétricos para automóveis e veículos pesados, tem mil funcionários e “importa” uma centena de trabalhadores de municípios vizinhos.

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Ao Portugal Giro, a presidente da Associação Empresarial da Beira Baixa (AEBB), Ana Palmeira, informou a estimativa inicial e informal do déficit de mão de obra na região: até quatro mil trabalhadores. A direção tomou posse em abril e concluirá um levantamento oficial em breve.

- A Aptiv precisa de 500, outras empresas precisam de outras quantidades e assim por diante. Quando a nova direção tomou posse, começou a mapear com os associados as necessidades atuais para as empresas com plano de desenvolvimento e crescimento. Quantos seriam necessários para a nova realidade? Consigo assimilar alguns milhares, seguramente. Uns três ou quatro mil são um número perfeitamente confortável de imigração para entrar nos quadros das empresas - contou Palmeira.

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O presidente do Sindicato Nacional da Indústria e Energia (Sindel), Francisco Matias, explicou que a demanda atual está, em parte, concentrada em projetos voltados para a produção de componentes para carros elétricos. 

- Atualmente, o que pude verificar, a princípio, junto aos sindicatos, era que iriam precisar de cerca de 1,5 mil pessoas. Desde que começaram novos projetos de carros elétricos. Havia 850 trabalhadores e estamos perto da casa dos mil, atualmente, só em Castelo Branco - disse Matias, ressaltando a presença de jovens brasileiros.

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Há 6,7 mil estrangeiros residindo oficialmente na região, sendo 25% brasileiros. Foram atraídos com incentivos para tentar equilibrar o drama demográfico.

Em paralelo ao início da recuperação econômica, a pandemia trouxe consequências que pioraram o balanço demográfico de Portugal. No início deste ano, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou os piores dados de natalidade em 100 anos.

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O drama demográfico é impulsionado pela fuga de jovens em idade ativa para as cidades maiores, como Porto e Lisboa, ou para outros países. 

- A situação não melhorou. A demografia é um problema que não se resolve de um ano para o outro. Há políticas para atrair jovens, que têm tido resultado. Mas quando as empresas preveem crescimento, estimam assumir uma massa salarial e um número de pessoas que comporte este crescimento. E não haverá até que tenha uma estratégia mais agressiva para incluir um número mais elevado de pessoas que venham morar em Portugal, porque a mão de obra nacional não preenche - explicou Palmeira.

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Matias lamenta a falta de um plano concreto de contratação direta em outros países, como o Brasil. E também da ausência de uma política mais ampla de retenção de talentos no território ou de leis mais específicas para o aproveitamento dos desempregados (taxa de 7,2%). Ele lembra que promessas que costumam surgir na esteira das campanhas para prefeito. As eleições municipais acontecerão em setembro.

- Muito foi falado sobre a possibilidade de contratar em outros países, mas não há um plano concreto. As empresas criaram incentivos, bônus de permanência e prêmios - afirmou Matias, descartando a possibilidade de recusas em trabalhar no chamado chão de fábrica:

- Não é tão duro quanto na construção civil. Eu mesmo ainda ando na produção - afirmou Matias.

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Para Palmeira, a retomada durante a pandemia de coronavírus pode ser uma oportunidade de mudança no paradigma da contratação internacional. Ela explica que é preciso pensar em estratégias diferentes para cada tipo de perfil e olhar com mais cuidado para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

- A agricultura é distinta da indústria tecnológica. Os trabalhadores não podem ser tratados da mesma forma, porque o recrutamento e treinamento são diferentes entre técnicos e os altamente qualificados. E há de se aproveitar os corredores de interação da CPLP, com relação histórica e ciclos migratórios entre Brasil e Portugal, que ainda continuam com muitos imigrantes vindo para trabalhar - disse Palmeira.

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