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Habitação

Cidade favorita dos ricos brasileiros em Portugal é cenário de guerra imobiliária 'hollywoodiana'

Cartaz à beira da estrada em Cascais para criticar condomínio rival

Cidade preferida dos ricaços brasileiros em Lisboa, Cascais é cenário de uma guerra imobiliária. Com o mercado em ebulição nesta retomada econômica pré-fim dos vistos gold, uma empresa do ramo colocou vários outdoors à beira da estrada para protestar contra um empreendimento rival.

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Nas ruas da Quinta da Marinha, um bairro de milionários de todas as nacionalidades, a crescente comunidade brasileira é a maior entre os estrangeiros, para os quais está voltada a maior parte do mercado imobiliário. Em Cascais, eram 5.434 brasileiros em 2017 e passaram a 10.511 em 2020, um aumento de 93%.

Ao todo, há 32.939 estrangeiros inseridos numa população de cerca de 200 mil. É neste cenário cosmopolita e moderno que uma das mais rudimentares ferramentas de comunicação chama atenção. Há dezenas de cartazes onde se lê: “A Quinta da Marinha não é responsável por este desmando urbanístico”.

Logo abaixo da frase presente em todos os outdoors, uma seta aponta para o novo condomínio rival, o Bloom Marinha. E ficam todos colados ao empreendimento em fase de construção.

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Segundo uma fonte de um órgão municipal informou, a empresa Quinta da Marinha SGPS, dona de outro empreendimento, é a responsável pelas instalações e mensagens dos outdoors.

Questionados pelo Portugal Giro sobre o que pensavam da estratégia, funcionários de um hotel de luxo nas redondezas disseram que lembrava o filme “Três anúncios para um crime”, de Martin McDonagh, que deu à Frances McDormand seu segundo Oscar de melhor atriz. E indicaram que a quantidade de casas do Bloom não agradaria à vizinhança seleta e seriam invadidas por outros estrangeiros ricos, tirando a paz local. Ainda não há ninguém morando no local.

Em Portugal, o título do filme foi traduzido para “Três cartazes à beira da estrada”, por isso a associação.

Mas é trágico, porque o enredo do filme é baseado na saga real de Marianne Asher-Chapman (interpretada por McDormand) em busca do corpo da filha assassinada no Missouri (EUA), em 2003. Ela aluga o espaço de três outdoors à beira da estrada para criticar a investigação policial.

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Alguns carros chegam a diminuir a velocidade para tirar fotos das placas em Cascais, que estão ao redor de quase todo o Bloom, condomínio fechado, com serviços de luxo e composto por 88 unidades de um a seis quartos. 

Segundo a imobiliária que cuida da promoção e vendas das unidades, "há muito interesse dos brasileiros por este projeto, porque tem as comodidades ideais para este mercado".

Cartazes à beira da estrada em Cascais: guerra imobiliária

No anúncio detalhado disponível no site, a maior casa ocupa até 2,9 mil m2. Os valores do m2, ainda de acordo com a imobiliária, "rondam os € 6,5 mil (R$ 40 mil) e € 7,6 mi (R$ 47 mil)". Um selo de visto gold aparece sobre a foto de uma unidade e indica que pode custar, no mínimo, € 500 mil (R$ 3,1 milhões), valor inicial determinado governo para aquisições imobiliárias que não tenham mais de 30 anos ou precisem de reabilitação. É muito mais. Na tabela da imobiliária, o preço médio de um T5 compact, o mais caro, é de € 4,98 milhões (R$ 29 milhões).

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O que teria abalado a paz naquele recanto costeiro conhecido como a Riviera Portuguesa, a 30km de Lisboa e inserido no Parque Natural de Sintra/Cascais, cercado por mansões, praias, campos de golfe e hotéis cinco estrelas? A antiga crise econômica está na origem.

Quando Portugal não estava na moda no início da década de 2010 e turistas e estrangeiros eram raros, o país enfrentava o caos econômico, sofria a intervenção da troika e experimentava a maior recessão até então.

À época, a Quinta da Marinha SGPS chegou a iniciar um projeto imobiliário semelhante no local, não pôde avançar e teve que vender o terreno onde hoje está o Bloom a um banco, que depois repassou ao novo empreendimento.

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Agora, ainda segundo a fonte do órgão municipal, a Quinta da Marinha SGPS critica o projeto do concorrente em seu antigo terreno. Mas tem o direito de fazer porque os cartazes estão instalados em sua propriedade privada, que seria a calçada ao lado do Bloom, algo que estaria previsto em lei.

Numa manhã de sexta-feira no fim de outubro, o presidente da Quinta da Marinha SGPS, Miguel Champalimaud, foi supervisionar pessoalmente o corte de plantas e árvores junto à calçada do Bloom, plantadas a pedido do condomínio rival. A polícia foi chamada, algumas espécies foram salvas e o vídeo foi parar no “Correio da Manhã”.

O Portugal Giro ligou para a Quinta da Marinha SGPS, solicitou o contato da administração e enviou e-mail, mas não teve resposta.

Em contato com a Bloom, uma funcionária que não se identificou ao telefone disse que o caso está na Justiça. Ela garantiu que os responsáveis do marketing ligariam de volta, mas não fizeram. Um e-mail também foi enviado à administração, que não respondeu. Antes de desligar, disse que as vendas estão indo bem.

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