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Vindima

Das taças à pisa da uva: brasileiros ajudam no recomeço do enoturismo em Portugal

Ritual da pisa da uva na Torre de Palma, no Alentejo


Um dos setores mais afetados pelas medidas de restrição para o combate à pandemia de Covid-19, o enoturismo ensaia uma ainda tímida recuperação econômica este ano. E com um pouco de ajuda dos brasileiros, que têm deixado os chinelos de lado para participarem da tradicional pisa da uva.

Do Alentejo ao Douro, no Norte, região onde o país representa o terceiro mercado no ranking dos visitantes, é possível ouvir mais sotaques do Brasil durante este período de colheita.

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Para o presidente do Turismo do Porto e Norte, Luís Pedro Martins, o aumento do interesse dos brasileiros acontece no momento em que a região começa a organizar melhor a estrutura do enoturismo.

- De fato, o Brasil é o quinto mercado do país e o terceiro da região. O brasileiro não procura sol e praia, por ter muito melhor no Brasil. Procura cultura, patrimônio e memórias. (...) Nós tínhamos rigorosamente tudo para ter sucesso, mas não tínhamos organizado. Temos quintas espetaculares, com paisagens bonitas, vinhos de qualidade incrível a nível mundial, gastrononia... Não tínhamos, organização do produto, promoção e trabalho em rede - explicou

Na Casa Relvas, na região de Évora, no Alentejo, os administradores informaram que os  brasileiros representaram cerca de 1/3 dos visitantes no período, o dobro de 2020. Entre 75 pessoas, 26 eram do Brasil. Como a vindima começou antes da reabertura na Relvas, todos residiam em Portugal.

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Mas a retomada dos voos de turismo do Brasil para Portugal também ajudou neste impulso enófilo. No confortável Six Senses Douro Valley, em Lamego, no Douro, 60% das reservas para outubro vieram do mercado brasileiro, garantiu a assessoria de imprensa do hotel.

O programa da vindima do hotel é feito em parceria com a vizinha Quinta da Pacheca, a cerca de 3km de distância, onde é possível pisar a uva ou participar da colheita entre as vinhas. A Pacheca informou que a procura aumentou entre 40% e 50% em relação a 2020. Os portugueses ainda estão em maior número, mas com a retomada dos voos, os brasileiros e norte-americanos surgem como principais países de origem de fora da Europa na propriedade.

Na Quinta da Covela, ex-propriedade do cineasta português Manoel de Oliveira (1908-2015), Tony Smith contou, através de uma nota, que mais estrangeiros passaram a frequentar o local. Ex-correspondente britânico em São Paulo, Smith é sócio da Covela ao lado do empresário brasileiro Marcelo Lima.

- Na semana passada, por exemplo, vieram dois casais brasileiros e tem sido cada vez mais frequente. Depois de meses tão duros para todos, é com enorme prazer que percebemos que aos poucos regressamos a uma certa normalidade - escreveu Smith.

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Colheita da uva na vindima da Casa Relvas, no Alentejo

Diretor operacional de enoturismo da Quinta da Côrte, em Valença do Douro, Francisco Lisboa garantiu em e-mail encaminhado ao Portugal Giro pela sua assessoria de imprensa que houve aumento significativo das reservas porque a temporada começou mais cedo que em 2020. Ele conta que o mercado brasileiro com interesse no enoturismo tem crescido este ano.

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De volta ao Alentejo, o Torre de Palma Wine Hotel, em Monforte, ressalta que o turista brasileiro tem sido importante desde a inauguração, em 2014. 

-  O brasileiro procura experiências autênticas ligadas ao vinho, à gastronomia, à História e à cultura. E em Torre de Palma é isso que oferecemos - disse, em comunicado, a diretora-geral Luísa Rebelo. 

Região onde os produtores e ofertas de hospedagem e atividades vinícolas se multiplicam por todos os lados, no Alentejo é possível percorrer em pouco tempo algumas delas. Da Torre de Palma à Herdade do Esporão, em Reguengos de Monsaraz, por exemplo, leva apenas 1h30m de carro. O pôr do sol entre as vinhas é recomendável:

Por do Sol entre as vinhas da Herdade do Esporão, no Alentejo

Não é nada aleatório, há uma estratégia de venda da experiência muito bem planejada para alavancar o enoturismo, que ganhou um site específico. O Turismo de Portugal quer atrair visitantes para regiões menos óbvias do país e conta com o barulho das garrafas abrindo para despertar a vontade, como explicou o ministro da Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira.

- Um dos pilares desta estratégia é o enoturismo. Conseguimos, nos últimos anos, desde 2011 até 2019, crescer mais de 60% as receitas internacionais do turismo porque fomos buscar turistas em mais países, ao longo de todo ano e para mais regiões. No enoturismo, desde 2019, já apoiamos 60 projetos, entre novas hospedagens residenciais, salas de prova, formação e desenho de rotas, que nos permitiram atrair - disse Siza durante a 5ª Conferência Global de Enoturismo da Organização Mundial de Turismo, em Monsaraz, no Alentejo, em meados de setembro.

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Com tanto tempo de experiência e estudo para captação, a pasta de Siza pôde recolher informações para traçar o perfil do enoturista.

- Normalmente, passam muito tempo no lugar, têm poder de compra mais elevado e nos fez crescer na qualidade de turismo que temos - elencou Siza.

Com o aumento da exportação de vinho para o Brasil, cresceu a vontade de viajar para conhecer todo o processo, principalmente na Região Demarcada do Douro, a mais antiga do mundo, que comemora 265 anos em 2021.

- Encontramos a correlação entre o aumento das exportações de vinho para certos mercados com o aumento do número de turistas deste mercado. Portanto, o vinho ajuda a promover o destino Portugal. Crescimento das exportações de vinhos para os Estados Unidos têm correlação com os turistas daquele país. Este é um exemplo, assim como o Brasil - explicou Siza.

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A enóloga Marta Casanova na Quinta da Côrte, no Douro

Apesar dos esforços para viabilizar as habilidades específicas de quem trabalha com enoturismo, que chegaram a quatro mil pessoas, segundo Siza, o Douro sofre com a falta de mão de obra. O envelhecimento dos produtores e a desinteresse dos mais jovens são dois problemas que ameaçam as produções futuras, assim como as alterações climáticas.

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A saída seria a contratação temporária de trabalhadores estrangeiros. No entanto, empresários ouvidos pelo Portugal Giro dizem que a tarefa requer especialização e tempo de aprendizagem. 

Este ano, somente de vinho do Porto, foi autorizada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IPDV) a elaboração de um milhão e cem mil litros da bebida. A receita econômica estimada para os produtores é de € 115 milhões.

 

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