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Eleições 2022

Do limbo ao terceiro lugar no Parlamento: a ascensão da extrema direita em Portugal

André Ventura discursa em Lisboa após conhecer resultados das eleições em Portugal

Até 2019, a extrema direita vivia no limbo em Portugal. Mas naquele ano, o recém-criado Chega elegeu um deputado para o Parlamento: André Ventura. Dois anos depois, o partido conquistou 12 cadeiras no pleito antecipado de ontem. 

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A extrema direita é agora a terceira força no hemiciclo e terá na próxima legislatura mais deputados que Bloco de Esquerda e Partido Comunista, que juntos elegeram 11 parlamentares. Os antigos aliados do Partido Socialista foram punidos nas urnas por terem ajudado a reprovar o Orçamento de Estado para este ano.

O discurso populista de Ventura, aliado à tática de ataques verbais nos debates de TV, onde reduzia o confronto de propostas ao bate-boca, encanta a camada da sociedade portuguesa que estava habituada a vê-lo nos comentários esportivos, pelos quais ficou famoso ao defender o Benfica, clube mais popular. 

Enquanto a extrema direita ganhava mais visibilidade nos últimos anos, passou a ser comum encontrar portugueses de diversas profissões e classes sociais defendendo sem constrangimento as propostas do líder populista, terceiro colocado na corrida à Presidência da República em 2021. O deputado propõe a castração química de pedófilos e a pena de morte, além de discriminar a comunidade cigana e ter chamado de bandidos uma família pobre e negra.

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Ao admitir a derrota do Bloco, que era a terceira força em Portugal, a coordenadora geral, Catarina Martins, eleita deputada pelo Porto, prometeu combate à direita racista. Mas o partido saiu enfraquecido com a maior quebra das eleições, caindo de 19 para cinco assentos.

— Cada deputado racista eleito no parlamento português é um deputado racista a mais e cá estaremos para os combater todos os dias — discursou Martins.

Mas quem serão estes novos deputados da extrema direita? Antes mesmo de conhecer o total de eleitos pelo Chega, o cientista político José Adelino Maltez tratou de desmistificar potenciais danos que possam ser causados pela nova bancada populista.

— A extrema direita só tem uma pessoa, é extremamente frágil, unipessoal e marqueteira. Uma figura só e perfeitos desconhecidos. Não há perigo fascista, só esta estupidez primária contra os ciganos. Estas propostas precisam de alteração na Constituição e nunca passarão. É ineficaz — disse Maltez.

Para Isabel David, cientista política e professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, Ventura explora o mercado aberto em outros países da Europa. E conta com a ajuda de parte dos portugueses.

— O povo disfarça bem o radicalismo. Querem democracia, mas desconfiam das instituições e o Chega é um voto de protesto que, em um momento, ganha expressão, como em toda a Europa. Esta crítica aos ciganos é popular e virou mercado político minoritário, mas suficiente para fazer diferença — explicou David.

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Ainda ontem, em seu discurso em defesa da democracia diante da maioria absoluta obtida nas urnas, o primeiro-ministro António Costa, grande vitorioso da noite, afirmou que buscará diálogo com todas as forças políticas, “com exceção do Chega”.

Foi do poeta e dirigente histórico do Partido Socialista (PS), Manuel Alegre, a frase da noite de ontem que situa o crescimento da extrema direita no Parlamento de Portugal.

— Seria muito mais preocupante sem a vitória do Partido Socialista — disse Manuel Alegre na chegada ao hotel em Lisboa onde o PS celebrou a vitória.

Os outros partidos menores e de direita democrática tiveram destinos distintos. A Iniciativa Liberal (IL) passou de um para oito deputados, enquanto o Partido Popular (CDS-PP) está fora do Parlamento.

 

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