Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

Informações da coluna

Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

Por Gian Amato


Sistema de vigilância flagra pessoas na casa do advogado Anselmo Costa — Foto: Arquivo pessoal/Anselmo Costa
Sistema de vigilância flagra pessoas na casa do advogado Anselmo Costa — Foto: Arquivo pessoal/Anselmo Costa

O advogado brasileiro Anselmo Costa contou ao Portugal Giro que teve sua casa em Viseu, centro de Portugal, invadida quatro vezes. Com medo, deixou o imóvel e se diz vítima de golpe e xenofobia.

A última invasão, segundo ele, aconteceu um dia antes da véspera do Natal de 2021. Como o advogado afirma que vive parte do ano no Brasil, desconfia que sabiam que a casa estaria vazia.

Ele declarou em boletim de ocorrência policial que o alarme tocou e câmeras de segurança captaram imagens em tempo real em duas ocasiões.

— Nas duas primeiras, não tínhamos sistema de vigilância. Na terceira, a câmera filmou o invasor com uma faca na mão, justamente após termos falado para a proprietária que tínhamos dinheiro conosco. Roubaram armários de quarto, geladeira, sofá e microondas. — disse.

Após identificar os suspeitos na quarta invasão, o advogado afirma que caiu em um golpe. Ele declarou na ocorrência que comprou a casa há cerca de dois anos “por meio de uma escritura de promessa de compra e venda”. E disse à polícia que os identificados seriam pessoas ligadas à proprietária:

— Temos uma escritura de promessa de compra e venda, tínhamos a posse (...) pagamos € 30 mil direto para a vendedora e mais € 50 mil de obras e remodelação — disse o advogado, antes de enviar recibos de transferência bancária e revelar:

— Na quarta invasão, foram todos os que tratavam da casa conosco a abrir e trocar as fechaduras sem ordem judicial. Dentro do imóvel, ficaram armários, camas de casal e solteiro, roupas, câmera fotográfica, fogão embutido, armários de cozinha, mesas de cozinha, de escritório e quadros, fotos, brinquedos das minhas filhas e bicicletas. (...) Um golpe baseado na nossa fragilidade por sermos imigrantes brasileiros.

Ele conta que deixou a casa, com medo, e passou a viver em Lisboa.

— Depois que arrombaram e trocaram as chaves, me senti ameaçado por eles e não voltei mais. Mesmo com todas as denúncias, perdi a casa. O sentimento é o de derrota. Ficaram até então com tudo nosso que estava dentro do imóvel justamente por sermos brasileiros. Soube que já venderam a casa para uma pessoa que estava querendo comprar de nós. Ou seja, arrombaram e ainda receberam duas vezes — disse o advogado.

Inscrito na Ordem de Portugal, o advogado alega que a ocorrência foi tratada com descaso.

— Já na chegada à delegacia, fomos atendidos por um agente que fez pouco caso, disse que não tinha como fazer a ocorrência e eu, como advogado português, não poderia ter acesso às ocorrências em curso, que Portugal era diferente do Brasil… Quando questionei se outras casas foram invadidas e roubadas na região, a resposta foi que não. Muitas casas na região estão fechadas porque os donos portugueses vivem fora do país. A verdade é que ainda não há punição real nesses casos e nada acontece em favor dos brasileiros — disse Costa.

Costa informou que levou o caso à Justiça, onde foi ouvido em videoconferência.

— Ingressamos com um pedido liminar na Justiça de Viseu para retomar a posse. Na audiência que fiz por videoconferência com a juíza portuguesa, ela, com muita ignorância, abriu a audiência com perguntas ríspidas, concentradas no fato de eu viver em Portugal. Não fez nenhuma pergunta sobre a invasão. E muito viés negativo sobre brasileiros — concluiu.

Mesmo com pouca esperança de recuperar o dinheiro e o imóvel, o advogado diz que vai recorrer.

— Como não tivemos êxito na primeira ação, vamos tentar transformar a queixa em ação criminal e outra ação civil de enriquecimento ilícito. Mas sabemos que, como somos brasileiros, não seremos vistos com bons olhos — contou Costa.

Na ocorrência policial, Costa afirmou que uma das pessoas identificadas teria dito que entrou no imóvel seguindo orientação do seu advogado.

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